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terça-feira, setembro 16, 2025

Valor 1000: Economia reduz a marcha, mas essa desaceleração leva à queda da inflação e dos juros

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A economia brasileira já exibe sinais claros de desaceleração. Depois de ostentar o quinto maior crescimento mundial no primeiro trimestre do ano, de 1,4% na margem, em comparação aos últimos três meses de 2024, o Produto Interno Bruto (PIB) mostrou alta de 0,4% no segundo trimestre do ano em relação ao primeiro. O desempenho ficou dentro das expectativas de especialistas financeiros, que projetavam aumento de 0,3% no período, com base nos dados preliminares divulgados em agosto. Ao longo dos últimos meses, as estimativas do mercado para o PIB de 2025 foram sendo revisadas, com algumas idas e vindas: saíram de 2,21% no início de agosto para 2,18% no fim do mês e 2,19% em 1º de setembro, conforme o boletim Focus, do Banco Central. Apesar de o resultado trimestral ser o mais elevado da série histórica do IBGE, iniciada em 1996, as avaliações de analistas de que a economia brasileira terá um pouso suave até o fim do ano estão mantidas.

O efeito dessa freada na economia é bem-visto por analistas, porque abre espaço tanto para a queda da inflação, já em 2025, quanto para a da Selic, prevista para o primeiro trimestre de 2026. A expectativa de um IPCA mais baixo leva em conta o bom comportamento dos preços dos alimentos e de bens industriais. Além disso, o aumento em 50% das tarifas de importação para alguns produtos brasileiros, como carne, café e pescados, tende a reduzir a pressão de alta no mercado nacional, sobretudo em ano de safra recorde.

“Para 2025, o panorama de inflação está mais benigno. Vemos os preços de itens de alimentação e dos bens industriais rodando em patamares mais compatíveis com a meta de inflação (de 3% até o limite de 4,5%)”, diz Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, que revisou para baixo a previsão de inflação para este ano, de 5,1% para 4,9%, chegando a 4,3% em 2026.

Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos: Economia bem resiliente, apesar do custo de capital — Foto: Divulgação/Divulgação

Paulo Gala, PhD em economia e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), também espera menos inflação daqui em diante, decorrente da redução dos preços no atacado (Índice de Preços ao Produtor Amplo, o IPA). Em fevereiro, o IPA-M chegou a acumular alta de 10,4% em 12 meses; em julho, o acumulado caiu para 1,9%. “Os preços no atacado derreteram e a pá de cal foi a queda nos alimentos por conta do tarifaço americano, que paradoxalmente acabou reduzindo preços por conta do excesso de oferta. Quando se olham os preços sensíveis ao câmbio, há também queda considerável, com alta de apenas 1,6% acumulada em 12 meses, bem abaixo da meta. Há um processo de desinflação da economia muito importante ligado à apreciação da taxa de câmbio”, diz Gala.

Os números também refletem os impactos do desaquecimento da atividade, consequência esperada da alta da Selic neste ano, que saiu de 12,25% em janeiro para 15% em junho, mantendo juros reais em torno de 9,5%, um dos mais altos do mundo. “Estamos vendo uma atividade econômica desacelerando, o que ajuda na percepção de que a política monetária está funcionando”, diz Victal. Sua projeção é que o Banco Central só começará a cortar a Selic no primeiro trimestre de 2026, apesar da retração da economia ter vindo mais forte do que o esperado. A seu ver, cenário favorável à parte, as incertezas persistem.

O mercado de trabalho continua aquecido, apesar do freio da economia. Além disso, mesmo diante do impacto macroeconômico limitado do tarifaço dos Estados Unidos, há dúvidas sobre seus desdobramentos sobre novos investimentos no país. “Não parece ser o caso, por enquanto. O setor produtivo tem apresentado certa cautela, mas sem grandes preocupações quando se fala em planos de investimentos. Mas estamos monitorando. No fim dia, vemos uma economia bastante resiliente, embora o custo do capital esteja muito alto por causa dos juros. As empresas têm esse desafio. É esperado um comportamento um pouco mais moderado dos investimentos”, analisa Victal. A expansão dos investimentos produtivos, a seu ver, requer um ciclo sustentável de queda dos juros – e um plano fiscal com trajetória de redução de endividamento.

Questões relacionadas ao equilíbrio fiscal e aumento dos investimentos chamam a atenção de Reginaldo Nogueira, diretor nacional do Ibmec. A produção doméstica não tem conseguido atender à demanda gerada pela expansão da economia brasileira nos últimos quatro anos, resultando no aumento do déficit externo neste ano. Em paralelo, as taxas de poupança e de investimento – Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) – não acompanharam o ritmo de alta do PIB, apesar do aumento da FBCF para 17% do PIB no ano passado. O ritmo ainda é insuficiente para sustentar expansão da economia de 3% ao ano, que demanda uma FBCF superior a 20%, segundo Nogueira.

“Temos uma economia superaquecida, com o Banco Central subindo juros para equilibrar oferta e demanda. Acrescentamos o ambiente internacional mais negativo, com o Brasil no olho do furacão numa crise comercial global, e tudo isso aponta para um PIB menor em 2025 e muito menor em 2026. O pano de fundo é o descontrole fiscal. A prova é que a economia vem crescendo, a arrecadação cresce e o Brasil não consegue zerar o déficit primário. É um grande desafio. O que vai acontecer com a economia quando o crescimento for de 2%?”, conclui o diretor do Ibmec. A seu ver, uma das alternativas é a volta do teto de gastos, limitando as despesas obrigatórias para acompanhar o ritmo da arrecadação. Ele estima o déficit primário entre R$ 70 bilhões e R$ 80 bilhões neste ano, restringindo novos investimentos e o crescimento.

O tema crescimento, aliás, tem surpreendido economistas. “Nos últimos três anos, o mercado financeiro tinha projeções de PIB menor do que foi realizado. Isso nos levou a questionar o porquê dessas surpresas, já que tínhamos política monetária restritiva com taxas de juros bem altas. Dois fatores explicaram a resiliência da economia, a boa safra agrícola e o impulso fiscal”, diz Daniela Lima, economista da Kinea Investimentos, citando aumento real do salário mínimo e as políticas de transferência de renda como exemplo de impulso fiscal. Agora o cenário é outro. A seu ver, pouco afeito a repetir políticas semelhantes. “A partir deste ano, o impulso fiscal não pressiona tanto na conta quanto no passado e a taxa de juros restritiva traz os créditos para baixo, com sinais de desaceleração”, diz Lima, que projeta alta do PIB de 2,1% neste ano e de 1,4% em 2026.

Daniela Lima, economista da Kinea Investimentos: Menor impulso fiscal em 2026 contribui para desaceleração — Foto: Rogerio Vieira/Valor
Daniela Lima, economista da Kinea Investimentos: Menor impulso fiscal em 2026 contribui para desaceleração — Foto: Rogerio Vieira/Valor

[Fonte Original]

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