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quarta-feira, setembro 17, 2025

Ex-chefe de estatísticas de emprego dos EUA relata choque ao ser demitida por causa de dados que desagradaram Trump

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Erika McEntarfer, que foi demitida no mês passado do cargo de comissária do Escritório de Estatísticas de Trabalho (BLS, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, disse que a notificação oficial de sua exoneração chegou como uma completa surpresa em um curto e-mail da Casa Branca.

Em 1º de agosto, várias horas após sua agência divulgar fraco crescimento do emprego em julho e substanciais revisões para baixo dos dois meses anteriores, McEntarfer disse que foi contatada por um repórter pedindo comentário sobre uma postagem do presidente Donald Trump nas redes sociais pedindo sua demissão imediata.

– Para ser honesta, eu não acreditei de fato que tinha sido demitida – disse McEntarfer em discurso que preparou para ler num evento nesta terça-feira no Bard College, instituição de ensino em que se formou.

Foi então que ela percebeu uma mensagem na caixa de entrada que havia chegado 20 minutos antes, do Escritório de Pessoal Presidencial da Casa Branca. O e-mail de duas frases, visto pela Bloomberg News, dizia o seguinte:

Em nome do presidente Donald J. Trump, escrevo para informar que seu cargo como Comissária de Estatísticas do Trabalho está encerrado com efeito imediato.

Obrigado pelo seu serviço”

O evento marcou a primeira aparição pública de McEntarfer desde a demissão. Em seu discurso, a economista recorda a incredulidade que tomou conta dela em um dia que começou como uma típica primeira sexta-feira do mês — quando é publicado o relatório mensal de emprego do governo.

Sua demissão de um cargo relativamente obscuro e tecnocrático gerou preocupações em Wall Street e em Washington sobre a independência e a integridade do que é considerado o padrão-ouro dos dados econômicos do país.

Na postagem inicial, por volta das 14h, e em outra mais tarde, Trump alegou, sem evidências, que os números tinham sido manipulados por motivos políticos, e enfatizou que os dados precisam ser “justos e precisos”.

Na realidade, os comissários mal participam dos processos altamente computadorizados de compilação dos dados. Ex-ocupantes do cargo antes de McEntarfer afirmaram que só viam os números quando já estavam finalizados, pouco antes de o presidente recebê-los.

No evento, McEntarfer descreveu como não percebeu nada incomum durante seu briefing de quinta-feira sobre o relatório de empregos com o Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca. Eles passaram algum tempo revisando os ajustes, disse, explicando que eles eram, em grande parte, negativos.

Os assessores tiveram duas perguntas, contou McEntarfer: quando havia sido a última vez que isso ocorreu e se era desproporcional entre pequenas empresas. À primeira, respondeu que tinha sido no início da pandemia; à segunda, disse que não, que o fenômeno era generalizado. Segundo ela, eram perguntas normais que economistas fazem.

McEntarfer então falou com a secretária do Trabalho, responsável pelo BLS, às 8h daquela sexta-feira, meia hora antes da divulgação.

– Expliquei à secretária que a inclinação negativa no crescimento do emprego entre as empresas que reportaram tardiamente era um evento incomum, mas não sem precedentes – disse em seu discurso.

Embora isso possa indicar o início de uma recessão, ela afirmou que explicou não ser necessariamente o caso desta vez, já que outros dados do mercado de trabalho estavam se mantendo.

– Os rostos em volta da mesa estavam sombrios. Convenhamos, não é o tipo de notícia que qualquer governo quer ouvir – continuou. – Perguntei se alguém tinha dúvidas sobre as revisões antes de passarmos aos números de julho. Não havia, então seguimos em frente.

Logo após a divulgação, a secretária do Trabalho, Lori Chavez-DeRemer, disse na Bloomberg Television que, embora as revisões fossem “inesperadas”, estavam concentradas sobretudo em educação e trabalho sazonal.

Ela focou nos aspectos positivos da economia, incluindo todos os empregos criados desde que Trump assumiu e os acordos comerciais que ele entregou, o que foi semelhante à sua nota oficial sobre os dados.

Naquela tarde, ela reforçou as preocupações com as revisões em uma postagem no X apoiando a decisão de Trump de demitir McEntarfer:

“Concordo plenamente com @POTUS (conta do presidente dos EUA no X) que nossos números de empregos devem ser justos, precisos e nunca manipulados para fins políticos.”

Trump já indicou EJ Antoni, economista-chefe da Heritage Foundation, para assumir o cargo. Sua escolha foi criticada por colegas de ambas as correntes políticas, por suas posições abertamente pró-MAGA e por falta de experiência. Antoni aguarda uma audiência de confirmação no Senado, e não está claro se conseguirá o apoio necessário diante das “reservas extremas” de um senador republicano-chave.

Nem a Casa Branca nem o Departamento do Trabalho responderam a pedidos de comentário sobre as declarações de McEntarfer.

Trump anuncia a nomeação do nove chefe do BLS em sua rede social — Foto: Reprodução da Truth Social

Desde a demissão de McEntarfer, o BLS revisou novamente os dados de empregos e recebeu novas críticas da Casa Branca, que chamou as revisões preliminares de referência, divulgadas em 9 de setembro, de “mais uma falha na longa história de imprecisões e incompetência do BLS”.

Economistas e estatísticos dizem que revisões mensais da folha de pagamento são rotineiras, pois o BLS continua a coletar informações adicionais de empresas que demoram mais a responder à pesquisa. As revisões acabam tornando os dados mais precisos.

A agência há muito enfrenta orçamentos apertados e limitações de pessoal — ambos anteriores a Trump, mas que se agravaram em seu segundo mandato. O órgão depende cada vez mais de um método estatístico de estimativa em um índice-chave de inflação para compensar a perda de funcionários, embora tenha recebido autorização recente para abrir vagas de coletores de preços.

Esses problemas de coleta de dados, assim como as revisões de emprego, motivaram na semana passada uma revisão dos “desafios” da agência pelo Escritório do Inspetor-Geral do Departamento do Trabalho.

McEntarfer foi indicada pelo presidente Joe Biden em 2023 e aprovada com apoio bipartidário no Senado no ano seguinte. Chegou à agência com mais de 20 anos de experiência no governo federal, incluindo cargos no Censo e no Departamento do Tesouro. Já havia atuado como economista sênior no Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca sob Biden.

Ela chamou sua demissão de “um passo perigoso” que tem “sérias consequências econômicas”.

– Isso é um ataque à independência de uma instituição tão importante quanto o Federal Reserve para a estabilidade econômica – disse.

[Fonte Original]

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