Estreia nesta sexta-feira, no Theatro Municipal, em São Paulo, a nova montagem da ópera Porgy and Bess, do compositor estadunidense George Gershwin, com direção musical de Roberto Minczuk e direção cênica da atriz e dramaturga Grace Passô. A nova temporada — que vem após um hiato de quase 17 anos desde sua última passagem pelos palcos brasileiros, quando foi apresentada em “versão pocket” no teatro São Pedro em 2008 — tem o intuito de propor diálogos entre questões de raça já presentes na obra original com o contexto brasileiro atual.
Concebida originalmente no começo dos anos 1930, como uma “ópera folclórica americana”, a obra inovou ao estrear originalmente em Nova York, em 1935, com um elenco composto exclusivamente por atores e cantores negros com formação clássica.
As encenações de Porgy and Bess, entretanto, hoje são raras tanto no Brasil como no mundo devido a questões relativas à dificuldade em conseguir a liberação dos direitos autorais junto aos herdeiros do compositor. Uma das exigências dos administradores do espólio do autor é a de que as apresentações atuais reafirmar o compromisso assumido por Gershwin e manter o perfil negro do elenco.
Passô conta que, para a nova montagem, não só os direitos foram cedidos, como os familiares do compositor comparecerão à estreia da ópera, que vem na esteira de outras releituras pensadas pela instituição, como a de O guarani, de Carlos Gomes, que contou com direção cênica do escritor Ailton Krenak.
Segundo Passô, o motivo estético que guia a releitura da ópera é o das quebradas e favelas brasileiras, que refletem o contexto do Catfish Row, suburbío negro imaginado como cenário original da obra. “Os signos do cotidiano periférico trazidos para a cenografia integram o cotidiano e o imaginário de uma parte das pessoas que trabalham aqui. Fazem parte da minha vida também. Propor esse olhar é uma forma de tentar se apropriar dessa obra, assim como ela também é uma apropriação de um ponto de vista da negritude”, diz.
Para isso, a cenografia da peça contou com a concepção do artista visual alagoano Marcelino Melo, conhecido como Quebradinha por desenvolver miniaturas de paisagens típicas de favelas brasileiras. Para a montagem de Porgy and Bess, no entanto, o artista foi convidado a fazer uma ampliação desse mesmo tema, que aparece como um tijolo em grandes proporções sobre o palco, que serve de habitação precária para os personagens.
Para Grace, o interesse é provocar curto-circuitos na temporalidade da obra original. “É uma criação inspirada na cultura urbana e periférica brasileira. Em sua criatividade, cores, texturas riqueza estética”, pontua.