O regime de Nicolás Maduro buscou consultoria da China nesta semana sobre a crescente tensão com os Estados Unidos no mar do Caribe. O chanceler da Venezuela, Yván Gil, reuniu-se na quarta-feira (17) com o embaixador da China em Caracas, Lan Hu, com o objetivo de avançar na aliança estratégica entre as ditaduras.
No dia seguinte, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Lin Jian, evidenciou esse alinhamento com Caracas ao dizer em uma coletiva que Pequim e a América Latina são “bons amigos e parceiros em pé de igualdade”, ao mesmo tempo em que acusou os Estados Unidos de “coerção” na região.
Os ataques recentes dos Estados Unidos contra embarcações da Venezuela no mar do Caribe ampliaram as especulações de guerra entre Washington e Caracas. O ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino, anunciou um exercício militar que inclui manobras aéreas, marítimas e terrestres, e a mobilização de mais de 2.500 efetivos durante três dias na ilha de La Orchila, localizada na região.
O ditador Nicolás Maduro tem sustentado um discurso de “luta armada” entre seus apoiadores há semanas. O chavista também tem sugerido que as operações americanas demandam uma “mobilização internacional”, um pedido indireto de ajuda do regime a seus aliados do Eixo do Mal: Irã, Rússia e China.
Nos últimos anos, a Venezuela vem fortalecendo alianças estratégias com esses países para fornecimento de equipamentos militares e tecnologia. Em troca, o Eixo do Mal amplia sua influência e seus recursos na América Latina, o que preocupa cada vez mais os Estados Unidos.
Onde estão localizados os aliados da Venezuela na América Latina
China
A China é o país que mais tem investido tempo e dinheiro na América Latina. Nicarágua, Chile, Bolívia, Venezuela, Cuba e Brasil são alguns dos alvos desse interesse crescente.
Nos últimos anos, o gigante asiático conseguiu ampliar sua influência na região, visando se aproximar territorialmente dos Estados Unidos num tom de vigilância e poderio, o que já foi denunciado por Washington com a revelação do Projeto 141, um plano global de ampliação das capacidades do Exército da Libertação Chinês (ELP) de monitorar os interesses de Pequim pelo mundo.
A Nicarágua, que vive sob um governo autoritário do ditador Daniel Ortega, é o país que mais se destaca como uma aliado do regime de Xi Jinping. Recentemente, as nações assinaram acordos militares, tecnológicos e comerciais em larga escala, em meio a um crescente isolamento diplomático da Nicarágua.
Em maio, esses regimes assinaram uma parceria no setor militar para fornecimento de equipamentos ao Exército nicaraguense.
Poucos anos atrás, os Estados Unidos revelaram que a China também estaria investindo em bases de espionagem em Cuba, outra ditadura que se opõe a Washington. Em maio, especialistas em segurança alertaram no Congresso americano que Pequim já está espionando os Estados Unidos a partir de bases instaladas na ilha.
A ditadura de Xi tem se beneficiado da crise provocada pelo regime de Miguel Diáz-Canel para conseguir acordos em áreas estratégias em Cuba.
No ano passado, o presidente da Argentina, Javier Milei, recebeu a chefe do Comando Sul dos EUA, general Laura Richardson, para discutir as atividades em vigor em uma base chinesa localizada no sul do país, que é administrada pela Agência Nacional Chinesa para Lançamento, Rastreamento e Controle Geral de Satélites (CLTC), integrante do Exército de Libertação Popular (ELP).
A própria Venezuela – alvo de pressão dos Estados Unidos no momento – não esconde seu alinhamento com a China. Os países têm fortalecido cada vez mais sua aliança em setores estratégicos, como o militar e energético.
Nesta semana, com a escalada das tensões entre Caracas e Washington, o ditador Nicolás Maduro recorreu a Pequim para tentar conter as ações dos Estados Unidos no mar do Caribe. A China, então, se pronunciou acusando o governo de Donald Trump de tentativa de “coerção”.
Rússia
As investidas da Rússia na América Latina, em contraposição aos Estados Unidos, também mostram uma evolução.
A começar pela Venezuela, um caso emblemático que evidencia o vínculo entre as ditaduras de Vladimir Putin e Nicolás Maduro foi revelado em 2019, quando a agência Reuters informou sobre a presença de mercenários do Grupo Wagner em Caracas para proteção do ditador venezuelano, enquanto o país sul-americano enfrentava protestos democráticos.
Nesta quinta-feira, o Parlamento controlado pelo chavismo aprovou, em primeira discussão, um projeto de associação estratégica e de cooperação entre o país sul-americano e a Rússia, que deverá passar por uma segunda discussão para se tornar lei nacional.
A chamada Lei Aprovatória do Tratado de Associação Estratégica e Cooperação entre Venezuela e Rússia foi apresentada pelo deputado governista Roy Daza, que ressaltou que o projeto é proposto em um contexto que “tem a ver com o novo momento da geopolítica do mundo”.
O pacto, assinado por Putin e Maduro, prevê em matéria de cooperação um “diálogo político de alto nível”, assim como o “direito internacional, o respeito à soberania, o arranjo pacífico das controvérsias, o respeito aos direitos humanos e à autodeterminação dos povos”.
O regime russo também está presente em outros países da região, como a Nicarágua, Bolívia e Brasil.
Em junho, uma operação de contraespionagem da Polícia Federal (PF), revelada pelo jornal The New York Times, apontou que o Brasil se tornou uma “linha de montagem para agentes secretos russos”.
No país, esses espiões passavam por um processo para espionar os Estados Unidos, Europa ou algum país do Oriente Médio após uma “preparação” no território brasileiro.
Irã
O regime de Teerã é outro aliado da Venezuela que vem expandindo sua influência na América Latina nos últimos anos.
O país do Oriente Médio tem selado novos acordos comerciais com Caracas, seu principal aliado na região. O pacto mais recente foi firmado em fevereiro, quando autoridades dos dois países fizeram uma parceria “estratégica” no âmbito militar e econômico.
Antes disso, Teerã já havia assinado com Caracas outros pactos para transferência de tecnologia e treinamento em inteligência artificial (IA).
Segundo dados do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês), desde que a Rússia voltou seu foco para a guerra na Ucrânia, aliados em outras partes do mundo foram colocados em segundo plano. Foi o caso da Venezuela, que acabou recorrendo a Teerã.
Segundo os dados da Sipri, Caracas foi o segundo maior comprador de armas iranianas de 2020 a 2024.