O segundo volume de The Ultimates confirma que a Marvel realmente tinha em mãos um projeto de longo prazo e não apenas mais uma reedição oportunista do selo Ultimate. Se no primeiro arco a equipe foi formada em meio ao vácuo deixado pela queda do plano do Maker e se consolidou como uma célula insurgente contra estruturas de poder, agora a narrativa se expande: não se trata apenas de sobreviver ou sabotar, mas de entender qual é o lugar dos Ultimates dentro de um mundo que continua sendo manipulado, fragmentado e explorado. A partir da edição #7, o tom do quadrinho é mais inquisitivo, com os personagens buscando entender como essa revolução se dará, enquanto lidam com as consequências do ataque de Hulk. Apesar de termos uma base dramática sólida para os próximos arcos, vejo uma progressão narrativa ruim nesse segundo volume, que pouco anda a história, que pouco apresenta momentos de destaque e que foca, mais uma vez, em preparações, típico de uma obra cheia de amarras e muitos personagens. Espero, porém, que sejamos recompensados posteriormente.
O começo é marcado por dispersão. Sem Tony Stark para centralizar as decisões, vemos os personagens espalhados, cada um buscando seu próprio caminho: Steve Rogers e Tocha Humana discutem liderança no silêncio de um bar; Thor encara a sombra de Loki e a promessa de um retorno de Asgard; América Chavez se engaja em conflitos diretos fora dos Estados Unidos, derrubando operações paramilitares; Gavião continua a guerra de logística, feita de ataques pontuais e sabotagens. A sensação é de cansaço, mas também de maturidade: a equipe entende que não pode mais ser apenas uma “força de reação”, precisa ser exemplo e instrução para que outros possam seguir o mesmo caminho. Essa ideia de que os Ultimates não são um grupo fechado, mas um método de influência atravessa todo o arco e nutre uma ideia curiosa, se ainda não necessariamente desenvolvida.
O arco se abre também para questões cósmicas. A chegada de viajantes do futuro, essa versão dos Guardiões da Galáxia, apresenta um futuro perigoso e abre brecha para um aumento de escopo da obra (que, honestamente, não sei se gosto, porque venho apreciando a abordagem mais autocontida na Terra do selo até agora). De maneira geral, não gosto dessa edição, que é basicamente um grande “flashback”, com teor expositivo e poucos elementos que agreguem à história para além de mostrar um “futuro sombrio” que, muito honestamente, é redundante. Vejo a edição em Asgard com olhos similares – um grande contexto com explicações de um cenário distante de Midgard -, mas com um pouco mais de interesse, até porque as tramas com Thor e Loki são, normalmente, instigantes.
O meio do volume traz talvez sua sequência mais próxima de ação, com o confronto com fascistas, basicamente a Hydra desse universo, mesmo depois da queda de seu ícone original. É menos sobre derrotar um vilão e mais sobre o caráter simbólico de enfrentar a persistência de um símbolo, além de ser um bloco que prepara o Capitão América para tomar as rédeas morais do grupo. Nesse núcleo, a decisão de dar a Namor uma morte definitiva e um funeral no mar mostra certa coragem da série, mas de maneira geral o conflito é protocolar, apenas mais uma peça no quadro geral do arco sobre mudança de perspectiva do grupo.
Do ponto de vista estrutural, a HQ de fato ganha fôlego quando transforma sua própria narrativa em reflexão sobre a rede que criou. Reunidos no Triskelion, os personagens encaram a revelação de que Doom manipulou a linha do tempo para manter todos vivos. O que poderia ser um atalho barato se converte em dilema moral e a partir dessa fissura nasce o conceito de “Ultimates 3.0”: mais do que heróis que agem, eles devem ser multiplicadores, criar instruções, espalhar símbolos, ensinar outros a se erguer. É nesse ponto que a série encontra sua identidade, mas, como falei no início da crítica, é uma construção em detrimento desse arco como um todo, que esbarra no típico capítulo de transição, mas que pode ser a base de um terceiro arco bastante interessante.
Vemos também temas voltando aqui, como os comentários sobre corporativismo e autoritarismo, e a linha de espionagem e conspiração crescendo na história, algo que vejo com muito entusiasmo para os próximos arcos, principalmente depois do gancho com a Vespa. Em balanço, o segundo volume de The Ultimates é coeso e uma sólida fundação para o futuro da série, trazendo edições mais contextuais e que abrangem bem qual é a direção desse grupo e do conflito como um todo, mas penso que Deniz Camp peca com a falta de urgência e de progressão narrativa (muitas tangentes no texto também), com o artifício da corrida contra o tempo ficando de rodapé, pelo menos por enquanto. Não estou desanimado, porém. Muito do que é preparado aqui é inteligente e me deixa interessado no que vem por aí.
The Ultimates – Vol. 2 | EUA, 2025
Contendo: The Ultimates #7 a 12
Roteiro: Deniz Camp
Arte: Juan Frigeri, Chris Allen
Cores: Federico Blee
Letras: Travis Lanham
Editoria: C.B. Cebulski, Will Moss, Michelle Marchese
Editora: Marvel Comics
Páginas: 164