Em evento organizado pelo Valor em Nova York (EUA) em parceria com a Amcham nesta segunda-feira, Luiz Lessa, CEO do Banco da Amazônia, destacou que direcionar recursos adequados para os pequenos agricultores e produtores é um passo relevante para o avanço do desenvolvimento econômico sustentável na região da Amazônia. Contudo, reitera que não é só isso que vai mudar o jogo.
“Os recursos, sozinhos, não resolvem. É preciso levar assistência técnica, porque o pequeno produtor, por exemplo, pode substituir a queimada por outro tipo de limpeza de terreno. Com orientação, ele consegue produzir os insumos na própria área. Existem várias estratégias para que o financiamento chegue a todos os perfis de produtores. O essencial é que a assistência técnica esteja conectada aos recursos, para garantir a aplicação não apenas financeira, mas também em favor da bioeconomia e da sustentabilidade ambiental.”
Ele reitera que, ao trabalhar a base da cadeia, o pequeno agricultor, ele tem um ganho final maior, a região em que atua também prospera e, tendo uma renda maior, as atratividade de atividades que prejudicam a floresta diminui. “Quando geramos renda, também diminuímos a pressão sobre os ativos da floresta diretamente ou indiretamente.”
Zack Weatherspoon, diretor de Sustentabilidade da John Deere, também painelista do evento que tratou, entre outros temas, sobre agricultura sustentável, explica que a indústria de máquinas e equipamentos já inova para incluir esse público, que tem menos recursos para trocar suas tecnologias pelas versões mais eficientes e que geram menos impacto ambiental. O principal obstáculo ainda é o financeiro, mas a equipe de inovação está justamente tentando driblar este problema. “Nós queremos fazer mais com menos. Para pequenos e médios agricultores, sempre pensamos nas melhores tecnologias, mas os custos podem ser muito elevados. Por isso, temos estratégias para compartilhar custos com os clientes. Em vez de comprar um equipamento completo, por exemplo, é possível adaptar o trator já existente para incorporar novas soluções e usufruir dos mesmos benefícios.
Gilberto Tomazoni, CEO da JBS, destaca o acesso de pequenos e médios produtores a tecnologias como um dos principais obstáculos que precisam ser superados para o Brasil avançar no desenvolvimento sustentável na agricultura e pecuária.
“Temos hoje fazendas, número bastante expressivo que conseguem produzir mais, aumentar a produtividade e são carbono positivo, ou seja, capturam mais do que emitem. São produtores que têm três safras em uma única área. Mas precisamos garantir que todas as tecnologias disponíveis, modelos de como produzir mais e como levar essas tecnologias existentes hoje ao pequeno produtor para o mundo produzir mais”, diz.
Uma das soluções apontadas por ele como contribuidora para engajamento do campo às práticas sustentáveis, inclusive a dos produtores menores, é a medição da captura de carbono. Hoje, diz Tomazoni, há diferentes tipos de cálculo, o que dificulta a comprovação dos benefícios e até de geração de créditos de carbono, além da captura do diferencial “verde” por parte das propriedades. “Fazer que chegue financiamento, assistência técnica, tecnologia aos pequenos produtores.”
Tomazoni destaca que um dos erros mais comuns é não ver a agricultura e pecuária de forma integrada. “Muito se falou que para preservar as mudanças climáticas tem que comer menos carne. Na verdade, é um equívoco pensar dessa maneira, não podemos ver cada produção isoladamente, os sistemas são vivos, interagem entre eles”, afirma. Cita que os dejetos dos animais, por exemplo, ajudam a melhorar o solo e a produção de microrganismo. E lembra que, em comparação a outros países, incluindo a Europa, o solo do Brasil é mais rico para ter cobertura vegetal mais densa, o que, em última instância, acaba contribuindo para uma maior captura de carbono.
“A criação de bois, grãos e floresta, quando feita de maneira integrada, pode capturar carbono em vez de emitir. Estamos apoiando o uso de novas tecnologias, porque percebemos que os cálculos atuais de emissões consideram apenas a liberação de carbono, mas não levam em conta a retenção e a captura. A fotossíntese, por exemplo, remove carbono da atmosfera, e parte desse carbono é estocado nas raízes. É um processo endotérmico, que precisa de calor para acontecer, mas que contribui diretamente para o sequestro de carbono”, explica.
A valorização da prática sustentável, a partir da medição de fixação de carbono no solo e outros benefícios da agricultura e pecuária mais sustentável, ajuda também a engajar os pequenos proprietários. “Apresentamos para a OMC [Organização Mundial do Comércio] as soluções que o Brasil está adotando. É preciso ajustar as taxonomias e métricas: hoje existem cerca de 25 formas de calcular a captura de carbono”, diz.
Segundo Tomazoni, o importante é alinhar os principais processos e os resultados que vêm disso. “Nós apoiamos o uso de tecnologia — seja inteligência artificial, robótica ou agricultura de precisão. Se conseguirmos inovar e levar assistência técnica para reduzir o risco do pequeno produtor, o mundo terá condições de produzir o alimento de que precisa. A FAO aponta que a agricultura tem potencial de capturar até 33% do carbono global. É fundamental olhar de forma integrada e acelerar esses processos.”
Para o CEO da JBS, o comércio internacional é importante para o desenvolvimento da agropecuária sustentável e o Brasil, como um país que desenvolveu tecnologia de produção sustentável de alta qualidade, levar os conhecimentos para outros países é uma oportunidade. “O trading (comércio exterior) deve ser encorajado para que possamos encarar o tema de pobreza, a fome e a insegurança alimentar”, diz, citando que muitos trabalhadores da agricultura estão na linha da pobreza e ainda há uma quantidade muito grande de pessoas com insegurança alimentar.