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terça-feira, setembro 23, 2025

Crítica | Black Science – Vol. 2: Bem-Vindo, Lugar Nenhum – Plano Crítico

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  • spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais volumes. 

No segundo arco de Black Science, a equipe central, agora sem Grant McKay, deixado para morrer na dimensão dos símios brancos, mas com o poderoso xamã nativo da dimensão do “Destino Manifesto ao contrário”, está em um mundo de características medievais dominado por criaturas que desafiam explicações, mas que talvez lembrem lagartos ou dinossauros que apreciam muito carnes variadas arrancadas de criaturas vivas, inclusive de humanos, com as crianças Nate e Pia, ao lado do assistente de laboratório Shawn, prestes a se tornarem a próxima refeição ritualística na lotada praça central de um castelo. Ou seja, só mais uma terça-feira na vida dos Dimensionautas que pulam de realidade paralela em realidade paralela em razão de um máquina – batizada de Pilar – defeituosa que não lhes permite nem escolher a dimensão e nem o tempo que podem ficar lá.

O grande acerto de Rick Remender em Bem-Vindo, Lugar Nenhum é que tudo – ou quase – acontece em apenas um mundo que tem diversas camadas e diversos povos diferentes que são explorados sem pressa como uma forma de abrir espaço para o desenvolvimento dos personagens principais. A ação continua frenética, vale dizer, mas a eliminação da necessidade de pular de dimensão em dimensão permite uma relativa paz, com um bom embaralhamento das cartas postas à mesa. Kadir, o burocrata que sabotou o Pilar, é imediatamente reenquadrado como herói ao chegar em uma literal armadura medieval para salvar as crianças (e Shawn) da morte certa, como parte de sua promessa para McKay de fazer de tudo para garantir a segurança delas, com o xamã também entrando na luta ao lado dos Dimensionautas.

No entanto, Remender subverte expectativas e aumenta a complexidade por trás das reais intenções de Kadir, levando-o de vilão unidimensional a herói unidimensional, mas só se contentando mesmo quando ele se torna multidimensional, um homem que realmente quer salvar as crianças, mas não em razão de McKay e sim pelo amor que sente por Sara, esposa abandonada de McKay, além de ele ser, talvez, o único ali da equipe original que realmente compreender o potencial negativo de se atravessar dimensões. Ecoando essa complexidade de Kadir, é alvissareira a escolha de Remender em abrir espaço também para o xamã que não só explica que seu povo evoluiu exponencialmente em razão dos pulos dimensionais, como concorda com Kadir que o potencial para o mal que o Pilar tem é muito maior do que para o bem. Cria-se, com isso, um impasse que separa os cientistas que criaram o Pilar de um lado e Kadir e o Xamã de outro que formam, aliás, uma dupla formidável na defesa de todos ali em razão da chegada de um grupo religioso também lagartoide que parece idolatrar a quebra das barreiras dimensionais e faz de tudo para tomar posse do Pilar.

E, em meio a isso tudo, temos a Chandra controlada pelo “fantasma” da dimensão dos símios brancos também tentando obter o Pilar e o melhor do arco, que é o foco exclusivo que é dado aos filhos de Grant quando eles parecem morrer após o resgate por Kadir. Vemos Pia, com 18 anos, profundamente traumatizada pelo caso de seu pai com Rebecca e evidenciando todo seu amargor pelos anos em que foi obrigada a crescer mais rapidamente do que o normal para fazer as vezes de sua mãe com os cuidados com Nate, que é diabético. A dor de Pia é tangível, dor essa traduzida como raiva incontida por seu pai, que ela vê como o único responsável por todas as mazela que sua família passou e, claro, por tudo que ela e o irmão passam agora perdidos nas dimensões. Nate, por seu turno, ainda se agarra à imagem do pai como seu herói, muito em razão de ele, por ser bem mais jovem, foi escudado dos piores momentos enfrentados por Sara e Pia em razão da obsessão de Grant com seu trabalho e seu adultério com Rebecca. Confesso que não esperava um mergulho tão  profundo em traumas familiares, especialmente não tão cedo na história, mas fico feliz que o roteirista não se furtou de abordar essas questões de maneira sóbria e bastante ampla.

O pouco que vemos fora da dimensão principal desse arco se dá em uma dimensão que parece retirada de um filme da franquia Indiana Jones, com direito a um Grant McKay com toda a pinta de aventureiro que enfrenta um “faraó moderno” que quer consolidar seu poder e, principalmente, o Grant McKay cheio de cicatrizes no rosto a quem fomos apresentados no arco anterior. Mas a convergência logo acontece e os McKays chegam à dimensão onde todos os demais estão muito rapidamente e também muito rapidamente um deles é morto e o outro passa, ao que tudo indica, a fazer parte do grupo, pelo menos por enquanto, funcionando como uma boa adição e também um cliffhanger interessante. Na arte, a criatividade de Matteo Scalera continua estupenda e irretocável, assim como seus traços fortes e belíssimas cores de Dean White. A novidade, aqui, é o uso da pintura de Michael Spicer em uma edição para lidar com flashbacks, emprestando uma paleta de cores mais suave e menos intensa. Bem-Vindo, Lugar Nenhum é, portanto, um mais do que sólido segundo capítulo em um saga frenética pelas dimensões, mas que se recusa a esquecer de desenvolver seus personagens.

Black Science – Vol. 2: Bem-Vindo, Lugar Nenhum (Black Science – Vol. 2: Welcome, Nowhere (EUA, 2014)
Contendo: Black Science #7 a 11
Roteiro: Rick Remender
Arte: Matteo Scalera
Cores: Dean White; Michael Spicer (#10 – arte pintada)
Letras: Rus Wooton
Editoria: Sebastian Girner
Editora original: Image Comics
Datas originais de publicação: entre julho e dezembro de 2014
Editora no Brasil: Editora Devir
Data de publicação no Brasil: agosto de 2019
Páginas: 120



[Fonte Original]

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