O avanço do uso de energias renováveis na matriz econômica global é bem-vindo, mas a utilização de combustíveis fósseis ainda continuará sendo importante durante as próximas décadas. Essa foi uma das conclusões expostas no painel “O novo cenário da energia diante dos avanços da tecnologia” durante o “Brazil-US Energy and Tech Forum 2025”, realizado em Nova York pelo Valor em parceria com a Amcham Brasil.
“As oportunidades em energia renovável são diversas”, disse Kim Hedegaard, CEO da Power-to-X, plataforma da Topsoe, empresa dinamarquesa de tecnologias relacionadas a energia. Mas ele observou que vê como um erro criar a sensação de uma luta entre o uso de combustíveis fósseis e energias renováveis. “Os combustíveis fósseis continuarão sendo usados por muitas décadas”, afirmou. “O que podemos fazer como empresa é reduzir o ‘gap’ entre o uso de uma e outra energia.”
Na visão de Hedegaard, contudo, leis que incentivem a transição energética devem ajudar a acelerar o processo, assim como incentivos fiscais que beneficiem o que chamou de “soluções verdes”.
O executivo da Power-to-X também destacou que o Brasil, devido aos seus recursos naturais e matriz energética limpa, tem motivos de sobra para aumentar esses incentivos. “O Brasil está em uma boa posição como fonte de energias renováveis”, comentou. Ele ressaltou que o país será fundamental para a descarbonização dos transportes e da indústria global.
“O ponto é se o Brasil realmente quer ser o líder dessa transição, pois o país está em uma posição única para isso”, acrescentou.
Timothy Puko, diretor de commodities do Eurasia Group, também reforçou que é preciso aproveitar o potencial das energias renováveis, mas ressaltou que o mundo ainda não pode abrir mão do uso de combustíveis fósseis.
“No melhor dos cenários pode-se reduzir o consumo de petróleo e gás pela metade”, comentou. “A questão é como conectar todas essas fontes de energia”, acrescentou, destacando que o Brasil pode se beneficiar das fontes renováveis, inclusive como vantagem geopolítica. No entanto, ainda é preciso resolver os desafios dos custos de obtenção das energias renováveis em larga escala.
Para Renato Ciuchini, sócio do Grupo FS, o Brasil tem uma posição única em energia, prestando serviços internacionais de conexão, mas também com uma demanda interna muito grande. Ele acrescentou que o país tem um posicionamento geopolítico amigável, mesmo passando por uma crise “pontual” – como a que ocorre diante do tarifaço imposto pelos Estados Unidos -, e esse fator também é uma vantagem. O que falta resolver do ponto de vista brasileiro, na visão de Ciuchini, está ligado ao custo de impostos, que ele considera elevado, e o custo de muitos equipamentos que são importados.
“A competição será global. Se não houver uma estrutura de custos competitiva em nível mundial não será possível atrair data centers para o Brasil. É necessário também um quadro regulatório claro”, afirmou.
Para Ciuchini, há um problema na medida provisória do Regime Especial de Tributação para Serviços de Datacenter no Brasil, o Redata, que está no Congresso. A proposta é que a energia que abastecerá os centros de dados venha de novas usinas, ainda não operacionais. Isso “torna a MP inviável”, segundo ele, porque uma planta nova pode levar de quatro a cinco anos para ficar pronta e a revolução da IA está acontecendo agora. “É necessário um quadro regulatório estável e favorável, incluindo data centers e a parte de energia”, afirmou no painel, mediado pelo repórter especial do Valor Marcos de Moura e Souza.