Um relatório divulgado nesta segunda-feira (22) pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) acendeu um alerta para a saúde pública nos Estados Unidos. O estudo, publicado no Annals of Internal Medicine, mostrou um crescimento de quase 70% entre 2019 e 2023 nas infecções causadas por bactérias resistentes a medicamentos, conhecidas como “bactérias do pesadelo”. Essas infecções estão ligadas principalmente ao gene metalo-β-lactamase de Nova Délhi (NDM), que as torna imunes à maioria dos antibióticos disponíveis.
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O gene NDM leva à produção da enzima NDM-1, que neutraliza o efeito de penicilinas e até mesmo de carbapenêmicos de amplo espectro — antibióticos normalmente utilizados como última linha de defesa contra infecções graves. Embora o número absoluto de casos ainda seja considerado relativamente baixo, os pesquisadores destacaram que a taxa de crescimento é alarmante: em poucos anos, os registros de infecções por NDM aumentaram mais de cinco vezes.
De acordo com reportagem da PBS News, David Weiss, pesquisador da Universidade Emory, classificou a disseminação dessas bactérias como “um perigo sério”, ressaltando que indivíduos podem se tornar portadores assintomáticos e transmitir os microrganismos a familiares, amigos e colegas sem perceber. Já a médica Maroya Walters, coautora do estudo, alertou que infecções comuns, como as urinárias, podem se transformar em problemas de longo prazo, cada vez mais difíceis de tratar.
Segundo os dados do CDC, somente em 2023 foram notificados 4.341 casos de infecções resistentes a carbapenêmicos em 29 estados, sendo 1.831 deles relacionados ao gene NDM. Isso equivale a uma taxa de pouco mais de três casos por 100 mil habitantes, contra dois em 2019. A taxa específica de NDM passou de 0,25 para 1,35 por 100 mil pessoas no mesmo período, o que representa um aumento de 460%. O relatório, porém, não considerou grandes estados como Califórnia, Nova York, Texas e Flórida, o que sugere subnotificação dos números nacionais.
Especialistas, como o infectologista Jason Burnham, da Universidade de Washington, apontam que o uso indiscriminado de antibióticos durante a pandemia de COVID-19 pode ter acelerado a resistência. Casos recentes de fechamento de praias em Washington devido à presença de bactérias resistentes e relatos de microrganismos raros que se alimentam de carne em Nova York ampliaram a preocupação da população. Para os pesquisadores, os dados reforçam a urgência de políticas de conscientização e controle no uso de antibióticos, a fim de conter uma ameaça que já mostra impactos visíveis no cotidiano dos americanos.