O economista-chefe e sócio da Vinland Capital, Aurélio Bicalho, avalia que os cortes recentes da taxa básica de juros nos Estados Unidos têm efeitos distintos sobre o dólar no curto e no longo prazo, com implicações relevantes para economias emergentes como a brasileira.
No curto prazo, explica Bicalho, a redução dos juros americanos tende a provocar fortalecimento da moeda norte-americana, já que o movimento gera incertezas, fuga de capital e aumento da volatilidade cambial.
Esse ambiente, segundo ele, ainda não está totalmente precificado pelo mercado, o que abre espaço para oportunidades em outras regiões, como México e República Tcheca, além de operações dentro do próprio EUA.

No entanto, olhando para o longo prazo, o cenário muda. Movimentos de corte de juros próximos a eleições tendem a pressionar o dólar para baixo, já que taxas mais baixas tornam os investimentos em dólares menos atrativos para estrangeiros e reduzem a entrada de capital.
Além disso, a percepção de risco político ou de possível interferência na condução da política monetária pode acentuar a volatilidade e acelerar a tendência de enfraquecimento da moeda.
Bicalho também destaca que os bancos centrais, diante de pressões políticas, costumam preferir cortes antecipados em vez de manter juros altos por mais tempo e arriscar uma recessão.
Continua depois da publicidade
“Esse ambiente já vai acabar pesando para o outro lado. E isso tem implicações para o dólar e para as economias do mundo”, afirmou no podcast Stock Pickers, apresentado por Lucas Collazo.
Corte de juros e motivações políticas
A decisão do Federal Reserve (Fed) de reduzir os juros em 50 pontos-base às vésperas das eleições levantou questionamentos sobre possíveis motivações políticas. Para Bicalho, o momento escolhido reacendeu dúvidas sobre a independência da autoridade monetária.
“Historicamente, o Fed evita alterar a política monetária perto das eleições justamente para não gerar essa percepção. A decisão do ano passado provocou debate: teria sido um movimento político ou técnico?”
Em sua análise, períodos eleitorais ampliam a sensibilidade das decisões do banco central, que podem ser interpretadas como instrumentos de apoio ou prejuízo político — fator que adiciona mais pressão sobre a trajetória do dólar e sobre a dinâmica das economias globais.