O projeto de criação da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio) ganhou impulso na semana passada com a publicação de um edital do Ministério da Educação (MEC) que autoriza instituições comunitárias de ensino superior a criarem a graduação mesmo sem terem um hospital próprio, desde que firmem convênio com “unidade hospitalar de natureza pública”. Em entrevista ao GLOBO, o padre Anderson Antonio Pedroso, reitor da PUC-Rio, comemorou a decisão. Falando por videochamada desde Concepción, no Chile, onde participa de um evento da Organização das Universidades Católicas da América Latina e do Caribe (Oducal), da qual é presidente, o jesuíta discorreu sobre os próximos passos para a criação do curso, que — vencidas as etapas burocráticas junto ao MEC — deve receber os primeiros 108 alunos no segundo semestre de 2026, e os desafios para estruturar o projeto.
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O edital do MEC abre caminho para o curso de medicina da PUC-Rio, mas exige convênios com hospitais públicos. Como está essa articulação?
O edital determina que a gente tenha um convênio com hospitais públicos com um mínimo de 400 leitos. A prefeitura do Rio nos ofereceu mais de 700 leitos em diversas unidades. Teremos 15 anos de convênio, não apenas dois ou três. Serão 15 anos cuidando da saúde pública e formando médicos junto ao sistema público. Isso é revolucionário.
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Como foi pensada a parte pedagógica e acadêmica do curso?
Assim que assumi (2022), recebi o projeto pedagógico elaborado pelo departamento responsável e fiquei muito impressionado com a qualidade. Para aprimorar o modelo, visitamos instituições de excelência: Einstein, a PUC do Chile, Georgetown, Boston College, além de universidades europeias. Fizemos um benchmark forte para trazer referências de alto nível. Mas não basta ter um programa pedagógico de excelência, era fundamental ter também uma universidade organizada para recebê-lo.
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Há pelo menos dez anos que se fala sobre a criação de um curso de Medicina na PUC-Rio.
A ideia surgiu há cerca de uma década, mas não recebeu apoio da gestão anterior. O fato é que até 2017 era possível abrir um curso de Medicina pela chamada via ordinária: uma grande universidade com pesquisa consolidada, vínculo com hospital e todas as condições necessárias podia apresentar a proposta ao MEC. Nesse cenário, a PUC teria todas as credenciais. Porém, a partir do governo Temer (2016-2019), essa via deixou de existir. A PUC acabou ficando de fora. Decidimos então retomar a proposta e estruturá-la de forma consistente. Nos últimos três anos, trabalhamos nessa preparação mais imediata.
O senhor mencionou que a universidade precisava se organizar antes de avançar com a Medicina. O que foi necessário colocar em ordem?
Encontrei a universidade numa situação bastante fragilizada do ponto de vista administrativo, fiscal. Foram situações que em algum momento, no começo principalmente, eu até me assustei. Foram feitas duas auditorias e nós encontramos uma série de irregularidades que precisaram ser sanadas. O curso de Medicina precisava encontrar a casa organizada. Encontrei 200 cartões corporativos na universidade, imagina… Existia uma descentralização imensa. Foram três anos para colocar a universidade em ordem. Hoje, no quarto ano (o reitor foi reconduzido ao cargo em junho) temos uma universidade mais organizada do ponto de vista da sustentabilidade e da governança.
Teve que enfrentar resistências para promover essas mudanças?
Toda reforma gera resistências, mas era necessário enfrentar os problemas. As auditorias nos deram elementos para tomar decisões firmes, e conseguimos avançar com responsabilidade.
Olhando para a frente, o curso exigirá a contratação de novos docentes?
Sim, será necessário. Não posso dizer ainda o número exato, mas nossa prioridade é ter professores comprometidos, capazes de dialogar com diferentes áreas do conhecimento. Com as engenharias, com a parte humanista, com a tecnologia, com a IA. Essa vai ser a característica mais importante dos professores da PUC, que sejam capazes de trabalhar nesse grande ecossistema sob uma governança que vai conduzir esse projeto que, de alguma maneira, muda a história da universidade e se estabelece como uma prioridade para todos nós.


