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terça-feira, outubro 7, 2025

Geógrafo pedala do Rio a Belém para levar projeto de educação ambiental

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O geógrafo e educador ambiental Leandro Costa chegará a Belém de bicicleta para a COP30 depois de pedalar 3.500 quilômetros. Ele deixou o Rio de Janeiro no dia 22 de setembro com a missão de educar e também ouvir crianças, adolescentes e adultos sobre os efeitos das mudanças do clima. Iniciativas como essa mostram o poder de engajar alunos na questão climática, mas não são suficientes para alcançar as futuras gerações, segundo especialistas. Para eles, o Brasil precisa de políticas públicas e regulamentação nacionais que façam da educação climática um tema contínuo e transversal nas escolas.

Costa está no norte de Minas Gerais. Já parou em várias escolas, onde foi surpreendido com a reação de muitos estudantes. Como Maria Alice, de 6 anos, que ficou tão apaixonada pelo assunto que decidiu se incluir na jornada, e lhe entregou um desenho colorido. Nele a menina está na garupa de Costa, levando sua bonequinha.

“As crianças ficaram entusiasmadas ao vê-lo chegar de bicicleta e depois imaginar como ele faria uma viagem tão longa, perguntando como iria dormir e consertar a bicicleta caso ela quebrasse. Amaram saber que o rio que passa em frente à nossa escola já teve peixe e que, caso não fosse poluído, ainda poderíamos ter o piabanha nele”, afirma a professora Juliana Costa, do Colégio Estadual Déa Lúcia Cordeiro, em Petrópolis, que já recebeu a visita do educador.

O especialista em Mudanças Climáticas da Unicef no Brasil, Danilo Moura, afirma que há um consenso de que a educação ambiental e climática é incipiente no país. O tema não tem a força que deveria na Base Nacional Curricular (BNCC) e parece ausente de muitas formas, segundo ele.

“Existe essa ideia de que ela tem que ser um elemento transversal, mas o fato é que ela não está transversalizada no currículo como ele existe hoje e isso é uma questão para ser discutida”, afirma. “Acho que neste momento mais importante que legislação é a discussão dos currículos, da aplicação e construção de currículos escolares, porque é nessa hora que a coisa pega. Ter a lei é importante, mas o mais difícil é incorporar a dimensão do conhecimento para dentro do currículo educacional.”

Uma nova lei sancionada no ano passado estabeleceu que a partir deste ano as escolas brasileiras deveriam passar a trabalhar em sala de aula os temas mudanças do clima e proteção da biodiversidade. A lei 14.926 modifica a Política Nacional de Educação Ambiental acrescentando o estudo desses assuntos entre os objetivos da educação ambiental nacional. Pelo texto de julho do ano passado, as escolas já deveriam estar estimulando estudantes a participar de ações de prevenção e diminuição das mudanças climáticas.

Moura ressalta que este momento da COP30 é ideal para se fortalecer a estrutura curricular para educação climática. É uma oportunidade, já que estão sendo formuladas novas políticas climáticas para os próximos dez anos.

“É uma ocasião oportuna para o desenvolvimento de uma estratégia nacional para que de fato se tenha política nacional para estudantes brasileiros. O MEC está fazendo este movimento. Isso é bom mas não está acontecendo na velocidade que gostaríamos. Seria interessante que os sistemas educacionais entendessem a urgência. A sensação é que estamos discutindo como fosse há 30 anos, falta senso de urgência”, afirma Moura.

Diretor-adjunto do Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) Mané Garrincha, o geógrafo Sidney Cardoso avalia que quanto mais presente o tema ambiental e a questão climática estiverem nas escolas mais estarão na sociedade.

“Quando o aluno sai da sala de aula para o trabalho, ele vai conversar para não usar copo plástico e levará isso para a empresa dele. Este indivíduo vai ter conhecimento não porque a casa dele alagou, mas porque aprendeu na educação básica. A educação ambiental e climática tinha que estar mais presente no currículo, tanto em química, como na história e em uma disciplina específica”, defende.

O Ciep Mané Garrincha foi a primeira parada do geógrafo que está fazendo a viagem sobre duas rodas até Belém. A escolha tem seus motivos: a escola venceu prêmios que reconhecem iniciativas na educação ambiental e criou um programa para dar continuidade a projetos que antes eram “como vagalumes”, na definição comparativa de Cardoso. Lá os alunos aprendem sobre orgânicos, reúso, poluição, abelhas. Os insetos que funcionam como termômetro ambiental têm apiários construídos e mantidos pela escola.

“Os alunos se surpreenderam com a jornada, ficaram encantados em conhecer alguém com desejo ambiental tão significativo. Ficamos lisonjeados em sermos os primeiros a recebê-lo”, diz Cardoso.

A iniciativa da longa pedalada de Costa é apoiada pela organização The Climate Reality Project Brasil e pelos consulados da Bélgica e da Holanda. Ela se assemelha a de outros ciclistas e simpatizantes de outras partes do mundo reunidos sob o projeto COP30 Bike e Ride: Pedalando e velejando pela proteção climática até a COP30.

No projeto, ciclistas já partiram principalmente de países do Leste Europeu e da Europa Ocidental rumo a Belém. De países como Turquia, Croácia, Itália, França e Holanda, os participantes da iniciativa vão pedalando até Lisboa, de onde seguem para o Brasil a bordo de veleiros. A jornada continua do Recife até a capital paraense.

Os especialistas destacam também a importância de projetos que buscam o fortalecimento de iniciativas locais e regionais. Como o Programa de Capacitação e Ação em Legislação de Educação Climática do Climate Reality Project Brasil. Este busca selecionar líderes da realidade climática de cada Estado da federação e do Distrito Federal, para integrarem grupos de trabalho e formação em projetos de lei sobre educação climática, bem como realizar advocacy pela proposição de projetos de leis sobre a implementação da educação climática no currículo escolar. O programa tem como foco a capacitação para a ação em legislação pela educação climática.

Em outra frente, o Instituto Juntos pelo Clima, na região serrana do Rio de Janeiro, apoia a formação de líderes climáticos para guiarem ações coletivas em prol da redução de impactos das mudanças climáticas.

“A política pública precisa ser também interdisciplinar, do campo da medicina ao da arquitetura e engenharia; o desenvolvimento sustentável está aí”, disse Costa, que faz parte do Instituto Juntos pelo Clima e também defende uma grade curricular mais robusta para a educação ambiental nas escolas.

[Fonte Original]

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