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quarta-feira, outubro 8, 2025

Ganhador do Nobel de Física diz que cortes de Trump ‘paralisarão’ pesquisas nos EUA

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Passava de 2h da manhã quando John Clarke recebeu um telefonema de um número misterioso que anunciaria que ele havia sido laureado com o prêmio Nobel. O cientista pensou que, “obviamente, tratava-se de um trote”, que ficou ainda mais surrealista quando ouviu “uma voz vinda da Suécia”.

– Logo ficou claro que era real – disse Clarke aos jornalistas nessa terça-feira (7), depois de ganhar, junto com outros dois colegas, o Nobel de Física por seus trabalhos no campo da mecânica quântica.

– Estava sentado completamente atordoado […]. Jamais pensei em toda a minha vida que algo assim pudesse acontecer – refletiu.

Esse professor da Universidade de Berkeley, na Califórnia, contou que, desde então, seu telefone não parou de tocar. Muitos e-mails chegaram e as pessoas começaram a “bater na minha porta” buscando entrevistas às 3h da madrugada.

– Eu disse obrigado, mas não. Não a esta hora da noite – recordou o britânico, de 83 anos, com um sorriso.

Clarke compartilhou o cobiçado prêmio com o francês Michel Devoret e o americano John Martinis, dois colegas físicos que trabalhavam em seu laboratório de Berkeley durante a época da pesquisa nos anos 1980. Os três cientistas são pesquisadores em universidades dos Estados Unidos.

O físico destacou os recursos significativos que teve a seu dispor no momento de seu trabalho há quatro décadas, como o espaço do laboratório, assistentes de pós-graduação e equipamentos.

E classificou os esforços do presidente Donald Trump para reformar a política científica e de saúde do país como um “problema imensamente grave”, incluindo as demissões em massa de cientistas governamentais e cortes nos orçamentos de pesquisa.

– Isso paralisará grande parte da pesquisa científica nos Estados Unidos – disse ele à AFP, ao acrescentar que conhece pessoas que sofreram enormes cortes de financiamento.

– Será desastroso se isso continuar […]. Supondo que a administração atual vai acabar, pode levar uma década para voltar para onde estávamos, digamos, há um semestre – acrescentou.

Ele também classificou essa situação como um “enorme problema” que está além de “qualquer compreensão”.

A ganhadora do Nobel Mary Brunkow, que na segunda-feira foi laureada na categoria de Medicina, disse algo similar aos jornalistas sobre a importância do financiamento público dos Estados Unidos à pesquisa científica.

Os premiados com o Nobel de Física deste ano realizaram seus experimentos na década de 1980. Suas pesquisas permitiram posteriormente aplicações reais do universo quântico.

A mecânica quântica estuda o comportamento da matéria e da energia em escalas extremamente pequenas.

Por exemplo, quando uma bola atinge uma parede, ela rebate e volta. Mas em escala quântica, uma partícula pode atravessar diretamente uma parede. Esse fenômeno é conhecido como “efeito túnel”.

Clarke e seus companheiros demonstraram o efeito túnel em uma escala que o público pode compreender.

Como manifestou o Comitê Nobel, seu trabalho demonstrou que “as propriedades estranhas do universo quântico podem se tornar concretas em um sistema grande o suficiente para caber na mão”.

Essa pesquisa tornou possíveis tecnologias como os telefones celulares e também foi fundamental na corrida para desenvolver computadores quânticos poderosos.

Clarke destacou nessa terça que é “vital” continuar financiando trabalhos que possam parecer “ciência básica”, mas que resultam em “aplicações cruciais” mais adiante.

À época, “Michel, John e eu não tínhamos como compreender a importância” que esse trabalho teria, afirmou. – É muito importante fazer essa ciência básica porque você não sabe qual será o resultado – concluiu.

[Fonte Original]

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