Sempre que o noticiário mostra o metal batendo novas máximas, costuma surgir a mesma pergunta: afinal, vale a pena investir em ouro?
E é exatamente esse o contexto atual. No dia 7 de outubro, a onça troy ultrapassou US$ 4.000 pela primeira vez na história. Esse marco histórico reflete não só as expectativas de queda nos juros americanos, mas também uma combinação de temores fiscais, incertezas geopolíticas e busca por estabilidade financeira.
Até agora, a valorização global do ouro em 2025 já superou 50%, e o interesse por produtos atrelados a ele também disparou no Brasil. Na bolsa, o volume médio de negociação dos ETFs de ouro saltou 141% no primeiro semestre deste ano.
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Lá fora, o investidor global Ray Dalio reforça sua aposta no metal como “seguro” de carteira. Para ele, um portfólio bem diversificado deveria ter até 15% em ouro, especialmente em momentos de vulnerabilidade dos ativos tradicionais.
Por outro lado, há quem veja o papel do ativo no portfólio com mais cautela e de forma mais restrita, como Raul Nogueira, economista e CFO da Valios Capital. Ao InfoMoney, o especialista falou sobre o papel de proteção do ouro em alguns momentos, mas ressaltou que “dificilmente ele será o ativo que multiplica a carteira”.
Em meio a opiniões distintas, o metal volta ao centro do debate entre analistas e interessados no ativo. Para decidir se vale a pena investir em ouro ou não, é preciso entender o que sustenta sua valorização e como ele pode se encaixar nas estratégias de investimento.
Veja a seguir o que especialistas dizem sobre o atual momento do ouro e possíveis cenários futuros.
Por que investir em ouro voltou ao centro das atenções
Depois de um ciclo prolongado de juros altos e dólar forte entre 2022 e 2024, ocorreram mudanças no cenário global que impactaram diretamente a demanda pelo ouro.
Para muitos analistas, uma das principais mudanças é a vulnerabilidade do dólar nos últimos tempos. Progressivamente, os bancos centrais vêm ampliando suas reservas em ouro, numa tentativa de diversificar o risco cambial e reduzir a exposição à moeda norte-americana.
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Segundo Paulo Cunha, CEO da iHub Investimentos, os anos de expansão fiscal e monetária nos EUA abalaram a confiança no dólar como reserva de valor. “Com isso, o ouro deixou de ser apenas um refúgio da crise para se tornar uma realocação estratégica de longo prazo”, disse Cunha à Forbes em outubro.
O executivo ainda declarou que, embora o cenário aponte para a continuidade da alta, isso não deve acontecer de forma linear: “Se os juros americanos caírem e o dólar continuar em tendência de baixa, o ouro deve se beneficiar. Mas será um movimento irregular, com fases de correção pelo caminho.”
O shutdown nos EUA também contribuiu para o novo salto do ouro. Sempre que há algum impasse político sobre o orçamento do país, investidores buscam proteção no metal — movimento que se repetiu agora.
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“Os ataques de Trump à independência do Fed e ao Estado de direito provavelmente deram um impulso a mais à cotação do ouro”, disse Claudio Wewel, estrategista de câmbio na J. Safra Sarasin, em entrevista à BBC.
Ouro vale a pena para a carteira do investidor comum?
Como toda escolha financeira, investir em ouro tem seus prós e contras, pois, ao mesmo tempo em que pode ser um aliado na proteção do patrimônio, possui limitações que exigem cuidado.
Para os especialistas, o ponto central não é exatamente se o ouro é bom ou ruim para o investidor comum, mas sim qual papel ele deve desempenhar dentro da carteira. Segundo Bob Triest, professor de Economia da Northeastern University, o metal cumpre bem a função de refúgio em tempos de incerteza.
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“O ouro é um ativo clássico de proteção; a sua alta recente reflete o aumento da incerteza econômica”, afirmou em entrevista à Northeastern Global News. Ele também reforça que, em momentos em que títulos públicos e moedas perdem atratividade, o metal tende a se valorizar por ser visto como um “porto seguro” pelos investidores.
Por outro lado, mesmo sendo visto como reserva de valor, o ouro está longe de ser unanimidade.
Em seu canal no YouTube, o educador financeiro André Massaro ressalta que o ouro não gera renda passiva e que sua aplicabilidade econômica é limitada. “As pessoas se impressionam com as altas recentes do ouro, mas esquecem que ele passou praticamente duas décadas — os anos 1980 e 1990 — caindo continuamente. Você aguentaria 20 anos com um ativo que não gera renda e só cai na carteira?”, afirma.
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No fim das contas, não existe uma resposta única sobre se vale ou não a pena investir em ouro. Embora o metal possa ser útil como ferramenta de diversificação e proteção, sua relevância depende do perfil do investidor, de suas expectativas financeiras e de como ele enxerga o risco no horizonte de tempo. O equilíbrio — e não o entusiasmo — deve ser o ponto de partida para avaliar se o ativo faz sentido ou não para a carteira.