Resumo da notícia
Governo Trump enviou representantes do Departamento de Contraterrorismo a Foz do Iguaçu.
Criptomoedas são vistas como novo foco de risco na Tríplice Fronteira. Brasil, EUA,
Paraguai e Argentina discutem medidas conjuntas contra lavagem de dinheiro e financiamento ilícito
Em meio ao avanço das criptomoedas e à intensificação das operações financeiras digitais, o governo do presidente Donald Trump demonstrou preocupação com a lavagem de dinheiro na Tríplice Fronteira, região que conecta Foz do Iguaçu (PR), Paraguai e Argentina.
Dessa forma, um encontro realizado na última semana, levou representantes do Departamento de Contraterrorismo dos EUA à cidade paranaense para discutir medidas de cooperação e monitoramento conjunto.
O encontro foi organizado pela Associação Brasileira de Câmbio (Abracam) e reuniu autoridades, especialistas e entidades do setor financeiro.
O principal objetivo foi avaliar o impacto das criptomoedas em esquemas ilícitos e alinhar estratégias para reforçar o controle cambial e a integridade do sistema financeiro latino-americano. A delegação norte-americana destacou que a região é considerada uma das mais sensíveis do continente, com alto fluxo de capitais e circulação intensa de pessoas e mercadorias.
De acordo com os representantes dos EUA, a Tríplice Fronteira continua sendo um ponto de vulnerabilidade para o combate ao crime organizado transnacional. O grupo citou o uso crescente de carteiras digitais e transações em blockchain por redes criminosas que se aproveitam da falta de integração regulatória entre os países.
O tema ganhou ainda mais relevância após o aumento da movimentação de criptomoedas em áreas próximas à fronteira, o que levanta suspeitas de evasão fiscal, contrabando e lavagem de capitais.
Criptomoeda ampliam a atividade de lavagem de dinheiro
A presidente da Abracam, Kelly Gallego Massaro, reforçou que o momento exige mais cooperação entre governos e inovação nas estratégias de regulação.
“A Tríplice Fronteira é, ao mesmo tempo, um desafio e uma oportunidade. É preciso combinar inovação regulatória e cooperação regional para fortalecer a integridade financeira do continente”, afirmou.
Massaro explicou que o evento teve como foco principal o aperfeiçoamento dos mecanismos de prevenção à lavagem de dinheiro. Segundo ela, as moedas digitais ainda carecem de parâmetros sólidos de regulação, o que amplia o espaço para atividades ilícitas.
“O mercado de criptomoedas precisa de regras claras, tanto para proteger o investidor quanto para evitar que criminosos se aproveitem das brechas normativas”, completou.
Nos debates técnicos, autoridades brasileiras e estrangeiras apresentaram um panorama sobre a evolução da Prevenção à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo (PLD/FT).
Foram discutidas também as responsabilidades de órgãos como o Banco Central do Brasil, o Coaf e o Gafilat (Grupo de Ação Financeira da América Latina). Os participantes ressaltaram que, embora cada país mantenha suas próprias leis, a cooperação internacional é essencial para monitorar transações em blockchain e rastrear movimentações suspeitas.
A presidente da Abracam lembrou que as instituições financeiras e casas de câmbio têm intensificado programas de compliance e governança, buscando antecipar riscos e criar uma cultura de transparência.
“A prioridade é fortalecer os sistemas de vigilância e capacitar os profissionais do setor, para que saibam identificar sinais de atividades irregulares antes que os prejuízos ocorram”, destacou Massaro.
Fronteira digital e física
Representantes da GovRisk, órgão vinculado ao Departamento de Contraterrorismo dos EUA, participaram da reunião com autoridades do Brasil, Paraguai e Argentina. Eles reforçaram que a fronteira digital é tão porosa quanto a geográfica, o que torna urgente o desenvolvimento de políticas conjuntas. O uso de criptomoedas, plataformas de apostas e e-commerces internacionais tem criado novas rotas de movimentação financeira, frequentemente fora do alcance das autoridades.
Durante os painéis, especialistas alertaram que a velocidade da digitalização supera a capacidade dos sistemas de controle, especialmente em países emergentes. Essa defasagem cria oportunidades para operações sofisticadas de lavagem de dinheiro, realizadas por meio de exchanges internacionais, stablecoins e protocolos descentralizados.
O governo norte-americano demonstrou interesse em ampliar a cooperação com as autoridades brasileiras para aprimorar o rastreamento de fluxos financeiros ligados a criptomoedas. Segundo fontes presentes na reunião, Washington vê o Brasil como peça-chave na proteção financeira do hemisfério, especialmente diante do crescimento da economia digital e do avanço de redes ilícitas na América do Sul.
Mesmo sem anunciar novos acordos formais, o encontro em Foz do Iguaçu marcou um passo importante na integração entre governos, setor privado e órgãos de controle. A Abracam confirmou que pretende manter uma agenda permanente de reuniões técnicas e promover programas de capacitação em conjunto com entidades internacionais.
Para Kelly Massaro, o caminho é inevitável, “A inovação financeira não pode caminhar separada da responsabilidade. A fronteira é um laboratório do que o mundo inteiro vai enfrentar nos próximos anos.”