O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, listou neste domingo (19) suas principais demandas em relação às negociações comerciais com a China, a pouco menos de duas semanas de seu encontro com o líder chinês, Xi Jinping. Conforme Trump, terras raras, fentanil e soja estão no topo das prioridades do governo americano nas tratativas com Pequim.
Em declaração dada à imprensa, a bordo do Air Force One, o presidente americano disse que “não quer jogar o jogo das terras raras com eles [China].”
Trump também afirmou que os EUA querem que a China “pare com o fentanil”, em referência à sua acusação de que Pequim não conseguiu conter as exportações da droga e de seus precursores químicos, o que contribui para a crise de opioides nos EUA. Outra exigência importante é que a segunda maior economia do mundo retome as compras de soja. Os três temas, disse ele, eram “coisas muito, você sabe, normais”.
O secretário do Tesouro, Scott Bessent, declarou que EUA e China realizarão negociações ainda nesta semana na Malásia. Isso ocorreu após uma reunião virtual com o vice-premiê He Lifeng na sexta-feira, que a mídia estatal chinesa descreveu como uma troca construtiva de opiniões.
Pouco mais de uma semana atrás, Trump levantou a possibilidade de cancelar seu primeiro encontro presencial com o presidente chinês Xi Jinping desde que retornou à Casa Branca, irritado com a promessa do governo chinês de exercer controles amplos sobre os elementos de terras raras. Ele também anunciou que o sobretaxa de importação de 100% entraria em vigor em 1º de novembro.
Essa medida ameaça a trégua comercial que deve expirar em 10 de novembro, a menos que seja prorrogada. Meses de relativa estabilidade na relação entre EUA e China foram abalados nas últimas semanas, depois que Washington ampliou restrições tecnológicas e propôs tarifas sobre navios chineses que entrarem em portos americanos. A China respondeu com medidas paralelas e anunciou controles de exportação mais rigorosos sobre terras raras e outros materiais críticos.
Questionado em entrevista à Fox News sobre sua nova ameaça de aumentar as tarifas sobre produtos chineses, Trump disse que a tarifa “não é sustentável”, embora “possa ser mantida”.
Ele acrescentou que mantém um bom relacionamento com o líder chinês e espera uma reunião presencial na Coreia do Sul, onde ocorrerá o encontro da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec) ainda este mês. “Acho que vamos ficar bem com a China, mas precisamos de um acordo justo. Tem que ser justo”, disse Trump.
A soja tem sido uma importante ferramenta de alavancagem para a China na disputa comercial. No ano passado, a China comprou cerca de US$ 12,6 bilhões do grão, mas neste ano esse valor é zero. O país passou a adquirir o produto da América do Sul.
A frustração entre os agricultores americanos — base essencial de apoio a Trump — está crescendo, com muitos ficando sem espaço para armazenar os grãos não vendidos e enfrentando pressão devido à queda nos preços. Eles aguardam ansiosamente ajuda de Washington, que está suspensa por causa do fechamento do governo.
Em agosto, Trump pediu que a China quadruplicasse as compras de soja dos EUA. Demonstrando sua frustração com a falta de progresso, na semana passada ele ameaçou interromper as importações de óleo de cozinha chinês, acusando o país de “causar dificuldades aos nossos produtores de soja”.
A questão do fentanil há muito é vista como uma área em que os dois países poderiam avançar, embora ainda complique as relações bilaterais.
No início deste ano, Trump impôs tarifas de 20% sobre todos os produtos chineses devido ao fluxo de fentanil ilegal para os EUA. Essas tarifas se somam às impostas no “Dia da Libertação”. Em junho, Pequim reforçou os controles sobre dois produtos químicos que podem ser usados na fabricação da droga, mas também afirmou repetidamente que cabe aos EUA resolver seu próprio problema com drogas.
“As três questões levantadas por Trump são altamente tangíveis e ressoam com grupos domésticos específicos e poderosos nos EUA”, disse Sun Chenghao, pesquisador do Centro de Segurança e Estratégia Internacional da Universidade Tsinghua, em Pequim. “Ao focar nesses temas, Trump busca vitórias rápidas e demonstráveis que possam ser facilmente comunicadas ao público, em vez de se engajar nas negociações longas e tecnicamente complexas necessárias para alterar o modelo industrial fundamental da China.”
Questionado durante uma coletiva de imprensa regular em Pequim na segunda-feira sobre as declarações de Trump, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, disse que uma “guerra comercial não serve aos interesses de nenhuma das partes e que ambos os lados devem negociar e resolver as questões relevantes com base na igualdade, respeito e benefício mútuo”.
A China tentou aliviar as preocupações sobre a escalada das restrições às terras raras — essenciais para a fabricação de caças, smartphones e até bancos de carros — a fim de suavizar a reação internacional.
Durante discussões paralelas às reuniões anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) na semana passada, delegados chineses disseram a seus homólogos de outros países que o endurecimento dos controles de exportação não prejudicará o comércio normal, segundo fontes anônimas.
Os oficiais disseram que a China buscava criar um mecanismo de longo prazo com a medida, introduzida em resposta às provocações dos EUA, como a expansão de sanções que atingem subsidiárias de empresas já incluídas em listas negras, segundo as fontes, que pediram anonimato por se tratar de discussões privadas.