Você já reparou que, em algumas cidades, os semáforos ganharam uma faixa branca bem no meio? Ela não é nova, mas ainda passa despercebida por muita gente. Fica ali, discreta, entre as luzes, como se fosse parte da estrutura. E é justamente essa sutileza que intriga. Afinal, o que ela faz ali?
Não, não é enfeite. Nem uma marca qualquer. A faixa tem uma função bem específica e pode fazer toda a diferença, especialmente quando a noite cai.
O que é a faixa branca no meio dos semáforos
Durante o dia, todo mundo sabe ler o semáforo. A posição das luzes já dá a dica: vermelho em cima, amarelo no meio e verde embaixo. Mas à noite, tudo muda um pouco. O brilho intenso das lâmpadas, somado à baixa iluminação da rua, confunde. Para quem é daltônico, então, a situação fica ainda mais complicada.
É aí que a faixa branca entra em cena. Quando o farol do carro ilumina o semáforo, ela brilha exatamente na altura da luz amarela. Com isso, o motorista consegue se orientar pela posição da luz acesa:
- Se estiver acima da faixa, é vermelho
- Se acender na linha, é amarelo
- Se aparecer abaixo, é verde
- Ou seja, mesmo que a cor não seja clara aos olhos, a localização entrega o que importa.
A ideia da faixa branca no semáforo nasceu da vida real
A história por trás dessa solução tem nome e sobrenome. Kátia Moherdaui Vespucci é mãe de dois filhos daltônicos e foi a partir da rotina com eles que a proposta ganhou forma. Não veio de laboratório nem de uma grande empresa de tecnologia. Surgiu da observação de quem vive o problema de perto.
Campinas, no interior de São Paulo, foi a primeira cidade a levar o projeto adiante. Isso aconteceu em 2003. Depois, em 2010, São Paulo adotou o sistema em parte de seus semáforos, com apoio da CET. A ideia pegou, e outros municípios seguiram o exemplo, mesmo que boa parte dos motoristas nem saiba o que, de fato, aquela faixa significa.
Um recurso com efeito real
Segundo o professor e estrategista Coltri Junior, que acompanhou de perto a evolução da proposta, essa faixa representa um exemplo claro de como acessibilidade e segurança podem caminhar juntas. E o melhor: sem grandes custos.
Cerca de 10% dos homens e 0,5% das mulheres têm algum grau de daltonismo. É muita gente. E são pessoas que dirigem, atravessam ruas, enfrentam o trânsito todos os dias. Criar um recurso que facilite essa leitura do semáforo não é luxo, é necessidade.
Além dos daltônicos, o recurso também ajuda:
- Quem tem dificuldade de visão à noite
- Idosos que não enxergam com nitidez
- Motoristas sob chuva, neblina ou reflexo de farol
- Tudo isso com uma simples faixa refletiva.
Cidades que enxergam além
Quando se fala em cidades inteligentes, muita gente imagina aplicativos, sensores e inteligência artificial por todos os lados. Mas inteligência urbana também está nesses pequenos gestos. Uma faixa branca, colocada no lugar certo, pode evitar confusão, reduzir acidentes e tornar o trânsito mais justo.
É assim que se constrói uma cidade mais empática: olhando para quem precisa, ouvindo as experiências reais e transformando ideias acessíveis em políticas públicas.
Da próxima vez que parar no sinal, olhe com mais atenção. Aquela faixa discreta tem uma história. E ela foi pensada para incluir sem alarde, sem custo alto, mas com um impacto que vai muito além do que os olhos podem ver.