Crédito, The Washington Post via Getty Images
- Author, Victoria Gill
- Role, Repórter de ciências, BBC News
Eles são roedores subterrâneos estranhos e sem pelos, que parecem linguiças com dentes. Mas acabaram de revelar um segredo genético para a longevidade.
Um novo estudo do bizarro rato-toupeira-pelado concluiu que estes animais evoluíram para criar um mecanismo de reparo de DNA que pode explicar por que eles vivem tanto tempo.
Esta espécie de mamífero mora em tocas e tem um período de vida máximo de cerca de 40 anos. Trata-se do roedor com maior expectativa de vida longa do planeta.
As novas descobertas foram publicadas pela revista Science. Elas podem também esclarecer por que o rato-toupeira-pelado é resistente a uma vasta série de doenças relativas à idade avançada.
Estes animais são resistentes ao câncer, à artrite e à deterioração do cérebro e da medula espinhal. Por isso, muitos cientistas querem saber como o corpo deles funciona.
O estudo foi liderado por uma equipe da Universidade Tonji em Xangai, na China. O foco foi o reparo do DNA, um processo natural nas células do corpo.
Quando fitas de DNA (os nosso blocos de construção genética) são danificados, o corpo aciona um mecanismo que faz com que outra fita de DNA que não sofreu danos seja usada como modelo para reparar o estrago.
A pesquisa se concentrou em uma proteína específica, envolvida nesse sistema de detecção e reparo de danos.
Quando uma célula identifica o dano, ela produz uma proteína chamada c-GAS, que desempenha diversas funções. Mas o interessante para os cientistas é que, nos seres humanos, esta substância interrompe o processo de reparo do DNA.
Os cientistas acreditam que esta interferência pode promover o câncer e reduzir nosso tempo de vida.
Mas, no rato-toupeira-pelado, os pesquisadores descobriram que a mesma proteína faz exatamente o contrário. Ela ajuda o corpo a corrigir fitas de DNA e mantém intacto o código genético em cada célula.

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O professor Gabriel Balmus estuda o reparo de DNA e envelhecimento na Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
Ele declarou que a descoberta é animadora. Para ele, esta é “a ponta do iceberg” para compreendermos por que esses animais vivem por períodos tão longos.
“Você pode pensar no cGAS como uma peça de Lego biológica”, compara ele, “o mesmo formato básico em seres humanos e ratos-toupeiras-pelados. Mas, no rato-toupeira, alguns conectores são invertidos, o que permite que eles montem uma estrutura e função completamente diferentes.”
Balmus explica que, depois de milhões de anos de evolução, o rato-toupeira-pelado aparentemente reprogramou o mesmo processo e “o usou em seu benefício”.
“Esta descoberta levanta questões fundamentais: como a evolução reprogramou a mesma proteína para agir de forma contrária? O que mudou? Este é um caso isolado ou faz parte de um padrão evolutivo maior?
E, o mais importante, os cientistas querem saber o que eles podem aprender com estes roedores para melhorar a saúde humana e ampliar a nossa qualidade de vida com o avanço da idade.
“Acho que, se pudermos aplicar a engenharia reversa à biologia do rato-toupeira-pelado, podemos criar muitas terapias necessárias para uma sociedade que está envelhecendo”, conclui o professor.