Problemas de segurança pública no Rio de Janeiro ajudam a afugentar investimentos do Estado, afirmou a pesquisadora Juliana Trece da Fundação Getulio Vargas (FGV).
A estudiosa, economista do Núcleo de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Economia da (FGV/Ibre) e que acompanha estruturalmente a economia fluminense, foi questionada sobre possíveis impactos, em investimentos no Estado, da “Operação Contenção”.
A ação policial, deflagrada nesta terça-feira (28) e comandada por forças de segurança fluminense contra o Comando Vermelho (CV), até o momento, levou a mais de 80 prisões. Mas também teve como saldo mais de 60 mortes, além de interdições de vias e mudança nos itinerários de ônibus e fechamentos de universidades e comércio.
A técnica informou que, de acordo com seus estudos, o Rio foi a unidade da federação com menor crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) entre 1985 e 2022, com expansão média anual de apenas 1,6% nesse período. Ela apontou ainda que o Rio passou por processo de desindustrialização aguda mais intensa que a nacional, além de ter sido o único Estado com retração do emprego formal entre 1985 e 2024.
“A segurança, obviamente, não é a única variável a explicar essa deterioração, mas ela colabora para afugentar investimentos daqui”, disse. “Os dados do emprego formal na indústria de transformação ainda mostram que a cidade do Rio é o epicentro dessa queda no Estado”, afirmou, referindo-se à Relação Anual de Informações Sociais (Rais), relatório de informações socioeconômicas solicitado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Ao ser questionada se as notícias sobre a operação policial desta terça-feira nos Complexos da Penha e do Alemão, no Rio, poderiam fazer os investidores interessados em montar um empreendimento no Estado mudarem de ideia, ela não descartou a hipótese.
“Se você é um investidor e precisa tomar uma decisão de investimento, hoje, e vê o que acontece no Rio, não vai ser a sua prioridade investir aqui”, admitiu. “Esse contexto acaba sendo levado em consideração na decisão de investimento”, reconheceu.
A especialista notou ainda que os problemas de segurança acabam gerando impactos indiretos desfavoráveis em campos importantes, como de logística, por exemplo.
Trece se refere ao fato de que várias ruas e avenidas foram interditadas, nesta terça, por conta de ocorrências policiais e barricadas montadas por criminosos.
“Hoje, especificamente na cidade do Rio, houve interrupção de algumas atividades. Não sabemos se amanhã a situação estará normalizada ou haverá retaliação”, comentou. “O que podemos dizer é que a crise de segurança é mais uma das múltiplas crises pelas quais o Estado passa. E que essas crises (segurança, fiscal, econômica, social) se retroalimentam”, comentou.