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quarta-feira, outubro 29, 2025

Crítica | A Nova História do Universo DC – Plano Crítico

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Independente de qualquer coisa que possa ser dita sobre A Nova História do Universo DC, minissérie em quatro edições que faz exatamente o que o título promete, é necessário reconhecer a insanidade que é um trabalho desse tipo. Não é a primeira vez da DC Comics, claro, que, ao lado da Marvel Comics, vem periodicamente publicando suas cronologias completas desde 1985, mas cada uma delas envolve um trabalho de pesquisa quase inacreditável, além de uma capacidade enorme de condensação narrativa (escrita e visual) para dar conta do recado. O próprio Mark Waid encabeçou a mais recente História do Universo Marvel, publicada entre setembro de 2019 e fevereiro de 2020, e, agora, ele usa a mesma estratégia da minissérie em seis edições da editora concorrente para repetir a dose para a DC, como parte da comemoração dos 90 anos da editora, ou seja, uma sucessão de splash pages, cada uma dando conta de um “assunto” ou “período”, ou “personagem” ou “grupo de personagens” com textos surpreendentemente concisos, em um exercício inegavelmente complexo que, ainda por cima, certamente precisou passar pelo minucioso crivo da equipe editorial em potencialmente intermináveis reuniões.

Outro aspecto que é necessário reconhecer é que não é realmente possível contar 90 anos de histórias de todo um gigantesco universo de super-heróis em apenas quatro edições. Não seria nem em seis ou até mesmo em 52, pelo que a tarefa de Waid, além de envolver pesquisa profunda que necessariamente deve ter contado com um pequeno exército de estagiários de apoio, é também uma de cuidadosa curadoria, já que o o objetivo, aqui, é dar sentido às inevitáveis inconsistências que décadas de ideias dos mais diferentes roteiristas e editoras trouxeram. E, como corolário, é essencial que o leitor tenha em mente que até mesmo a ordenação de inconsistências é invariavelmente inconsistente e não há uma solução definitiva para isso. Portanto, tenho certeza que quem se apegar demais às linhas temporais precisará ter muita serenidade para encarar a tarefa de ler o que Waid fez, pois muita coisa tem o potencial de irritar muita gente. No meu caso, como eu ligo pouco para a consistência de cronologias, tendendo a apreciar a história como ela é contada e não como ela se encaixa em tudo o que se passou e se passará com seus personagens, não encontrei nada que eu não pudesse simplesmente fechar os olhos e aceitar com bastante facilidade.

Minha atitude laissez faire, laissez passer sobre cronologias é, tenho certeza, mais saudável, pois elimina o estresse que elas trazem, mas admito que, por outro lado, faz com que eu aceite completas barbaridades como são as explicações simplistas sobre como o Ciborgue lutou com uma proto-Liga da Justiça bem antes de aparecer nos Novos Titãs ou como alguns aspectos dos Novos 52 foram incorporados e outros completamente ignorados. Mas isso vai de cada um, evidentemente, e eu entendo e respeito aqueles que mergulharão em A Nova História do Universo DC que retorna à origem do universo por seres celestiais superpoderosos, insere de vez Sandman, Dr. Manhattan e outros personagens “de fora” da cronologia clássica, reordena peças e identidades e assim por diante, tudo com narração de Barry Allen escrevendo como basicamente um avatar de Mark Waid. É como um enorme retcon que não foi anunciado como tal, pois a impressão que passa, ao final da leitura, é que o que está valendo é o que está nessas quatro edições, pelo menos até a próxima história do Universo DC, provavelmente em 10 anos para comemorar o centenário da editora. Faz parte do jogo, pelo que é necessário respirar fundo e mergulhar na proposta.

E, nesse mergulho, uma coisa fica evidente: mesmo com todo o esforço valoroso de Waid, quatro edições realmente é muito pouco para lidar com tanta coisa. Se o Superman tivesse como um de seus vários poderes algo como super-concisão, ele não seria capaz de comprimir tanta coisa em tão poucas páginas, pelo que muitas vezes o roteirista precisa recorrer a elipses dentro de elipses, soltando coisas como “fulaninho, que estava preso em outro universo por cicraninho, então retorna para o nosso universo para salvar o dia”, sendo que nem fulaninho e nem cicraninho haviam sido mencionados antes. Causa estranheza mesmo que o leitor conheça os respectivos personagens, pois é uma quebra narrativa grande em uma história já muito carregada de eventos, nomes, reviravoltas, mudanças e assim por diante. Teria sido muito melhor se Waid tivesse tido mais espaço para trabalhar, no barato o dobro de edições (mas preferencialmente bem mais).

Além disso, apesar de o foco ser no universo principal, as Terras paralelas precisam ser mencionadas algumas vezes, até para justificar o uso de termos como multiverso e omniverso, e essas menções são completamente vazias, sem peso e aparentemente sem relevância (mas elas são relevantes, como sabemos). Esse é outro problema da relativamente pequena quantidade de páginas, pois forçou uma curadoria severa demais de Waid sobre o que falar e o que explorar. Isso não significa que a minissérie muda de novo o multiverso, pois não muda, mas tenho para mim que é impossível separar as múltiplas Terras de qualquer Nova História do Universo DC, até porque Crise nas Infinitas Terras é um evento muito mencionado por Barry Allen e porque tudo desemboca no Universo Absolute. Em outras palavras, a minissérie acaba sendo um pouco tímida demais para o seu próprio bem, mesmo que, como abri a presente crítica, seja aplaudível o esforço de Mark Waid em arregaçar as mangas para escrever o que ele escreveu (e pela segunda vez em sua vida, vale relembrar!), especialmente porque ele ainda oferece, ao final de cada edição, uma cronologia com a menção das HQs em que cada situação que ele cita aconteceu.

No quesito arte, não tenho muito o que dizer, pois houve um revezamento de diversos desenhistas de peso que trabalham com a DC Comics, sem que houvesse preocupação em manter unicidade visual. Afinal, não era mesmo necessário isso, pois as splash pages – e algumas raras paginas duplas – são muito mais funcionais do que efetivamente parte da narrativa, ou seja, servem para lembrar os leitores dos personagens e situações mencionados e não muito mais do que isso. Mesmo assim, o resultado é muito chamativo e bonito, com alguns trabalhos merecendo até uma pausa maior para admiração, por vezes por razões nostálgicas, outras pela beleza pura e simples delas.

A Nova História do Universo DC é, portanto, uma tarefa impossível que Mark Waid, não sei bem como, conseguiu cumprir com qualidade pela segunda vez. Obviamente que a minissérie gerará muita conversa, muita discussão e potencialmente muita irritação para os mais apegados com a cronologia das grandes editoras americanas de super-heróis, mas isso é algo mais do que esperável, inclusive funcionando até mesmo como chamariz para que mais pessoas leiam os quadrinhos e procurem conhecer com profundidade o passado remoto da editora.

Obs: Não sou muito amigo de capas alternativas, por elas não passarem de caça-níquel, mas confesso que as capas “D” (que inclui capa e quarta capa) desenhadas por Scott Koblish – a que eu usei como imagem principal da presente crítica é da edição #1 dele – e que se conectam umas com as outras formando uma mega arte com uma infinidade de personagens da editora são fenomenais!

A Nova História do Universo DC (New History of the DC Universe – EUA, 2025)
Contendo: New History of the DC Universe #1 a 4
Roteiro: Mark Waid
Arte: Todd Nauck e Jerry Ordway (#1), Brad Walker e Michael Allred (#2), Dan Jurgens e Dough Mahnke (#3)
Cores: Matt Herms e John Kalisz (#1), Trish Mulvihill e Laura Allred (#2), John Kalisz e David Baron (#3)
Letras: Todd Klein
Editoria: Marquis Draper, Brittany Holzherr, Andrew Marino
Editora: DC Comics
Datas originais de publicação:
Páginas: 216



[Fonte Original]

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