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A Kimberly-Clark, fabricante de lenços de papel Kleenex, anunciou nesta segunda-feira (3) que irá adquirir a Kenvue por mais de US$ 40 bilhões (R$ 214,8 bilhões) em um acordo histórico para o setor de consumo. A Kenvue, que se separou da Johnson & Johnson em 2023, é a fabricante do Tylenol, e enfrenta o escrutínio da Casa Branca e uma demanda instável.
Os acionistas da Kenvue receberão US$ 21,01 por ação (R$ 112,8) em dinheiro e ações, o que representa um prêmio considerável de 46,2% em relação ao último preço de fechamento dos papéis.
Após o anúncio do acordo, as ações da Kenvue subiram cerca de 20% no pré-mercado, enquanto as ações da Kimberly-Clark caíram quase 15%. O negócio ocorre após meses de dificuldades enfrentadas pela Kenvue, incluindo a demissão de seu CEO em julho e uma queda nas ações quando o presidente Donald Trump afirmou, em setembro, que o uso de Tylenol poderia levar ao autismo, uma alegação não comprovada por pesquisas conclusivas.
Na semana passada, o secretário de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, Robert F. Kennedy Jr., reconheceu que não havia provas de que o Tylenol causasse autismo, mas reiterou sua opinião de que os indícios de uma ligação entre os dois eram “muito sugestivos”.
Além de certos processos judiciais iminentes contra o Tylenol, a Kenvue também enfrenta ações judiciais por alegações de que seus produtos de talco para bebês causaram câncer, o que afetou negativamente o sentimento dos investidores. Ainda assim, a Kimberly-Clark espera uma economia anual de custos de cerca de US$ 2,1 bilhões (R$ 11,3 bilhões) com a aquisição, que prevê concluir no segundo semestre de 2026.
Considerada a maior aquisição do setor de bens de consumo dos EUA até o momento, a fusão dará à Kimberly-Clark acesso ao vasto portfólio de marcas da Kenvue, desde o enxaguante bucal Listerine e Band-Aid até marcas de cuidados com a pele como Aveeno e Neutrogena, com a expectativa de que a empresa combinada gere receitas anuais de aproximadamente US$ 32 bilhões (R$ 172 bilhões).
Momento do negócio
O momento do acordo, embora provável, foi antecipado em relação ao esperado, considerando os litígios negativos e as notícias regulatórias em torno da Kenvue, disse Nik Modi, analista da RBC Capital Markets.
“Acreditamos que as capacidades da Kimberly-Clark são mais avançadas do que as da Kenvue, o que deve contribuir para melhorar o desempenho da marca”, disse Modi, acrescentando que os investidores precisarão de algum tempo para processar as implicações a longo prazo.
Fontes disseram à Reuters, em junho, que a revisão estratégica das operações da Kenvue poderia incluir a venda ou a divisão da empresa, que havia sido desmembrada do conglomerado de saúde Johnson & Johnson em 2023.
A Kimberly-Clark também está navegando em um ambiente de bens de consumo cada vez mais marcado por um comprador que busca maior valor, o que tem forçado empresas, incluindo a referência do setor Procter & Gamble, a investir em embalagens menores e a reduzir o número de unidades de negócios com baixo desempenho.
A Kimberly-Clark vendeu uma participação majoritária em seu negócio internacional de papel tissue para a fabricante brasileira de celulose Suzano, como parte de uma reestruturação cujos recursos deverão auxiliar na aquisição da Kenvue, informou a empresa na segunda-feira.
Com valor estimado acima de US$ 40 bilhões (R$ 214,8 bilhões), os acionistas da Kenvue receberão US$ 3,50 por ação (R$ 18,8) e 0,15 ação da Kimberly-Clark para cada ação da Kenvue que possuírem.
Isso implica um valor patrimonial de US$ 40,32 bilhões (R$ 216,6 bilhões), segundo cálculos da Reuters. Conforme um documento regulatório, qualquer uma das partes poderá ser obrigada a pagar uma multa de rescisão de US$ 1,12 bilhão (R$ 6 bilhões) em dinheiro caso o negócio não se concretize.
Após a conclusão da transação, o CEO da Kimberly-Clark, Mike Hsu, assumirá o cargo de principal executivo e presidente do conselho da empresa resultante da fusão. A Kimberly-Clark afirmou ter recebido financiamento garantido do JPMorgan Chase Bank e que espera financiar a aquisição da Kenvue por meio de uma combinação de recursos próprios e dívida.