Muitas pessoas, ao lembrarem da infância, evocam frases que ouviram de seus pais, familiares ou cuidadores. O que para alguns pode ter parecido um comentário passageiro, na verdade pode ter deixado marcas profundas na autoestima e na saúde mental. É o que alerta o Instituto Americano de Formação e Pesquisa (IAFI), uma escola de Coaching e Programação Neurolinguística (PNL) com 17 anos de trajetória e mais de 15 mil formados.
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De acordo com uma análise dessa instituição, as palavras que recebemos na infância têm impacto direto em nossas crenças e na forma como interpretamos o mundo. As crianças, por estarem em uma fase de construção de identidade, são especialmente sensíveis às mensagens que recebem das figuras de autoridade. Daí a importância de refletir sobre o que dizemos e sobre como um comentário aparentemente inofensivo pode se transformar em uma ferida emocional difícil de curar.
Quando uma frase se torna uma ferida
A IAFI destaca que algumas expressões, embora comuns na educação dos filhos, podem ser prejudiciais se repetidas com frequência. A frase “Você é burro”, por exemplo, pode fazer com que a criança duvide da sua inteligência e desenvolva insegurança quanto à sua capacidade de aprender. “Você não consegue fazer nada direito” mina a autoconfiança e fomenta um sentimento permanente de inadequação.
Frases como “Você é um fracasso” ou “Você nunca vai ser nada na vida” não só afetam a motivação como também criam um sentimento de inutilidade que pode acompanhar a criança até a vida adulta. Em alguns casos, essas palavras podem se tornar uma profecia autorrealizável: a pessoa não se esforça para crescer porque já internalizou a ideia de que não vale a pena tentar.
Outro grupo de frases danosas está relacionado à comparação e aos julgamentos sobre a aparência física. Dizer a uma criança “Você nunca será tão bom quanto seu irmão/sua mãe/seu pai” pode criar a sensação de não ser suficiente e gerar rivalidade ou ressentimento. A comparação, longe de motivar, pode abrir caminho para a frustração e o sentimento de inadequação.
O comentário “Você está gordo”, por sua vez, pode ser o início de uma relação conflituosa com o corpo, com repercussões na autoestima e, em alguns casos, na saúde mental. São mensagens que alimentam a insegurança e podem levar a comportamentos de isolamento ou até a transtornos alimentares.
Da mesma forma, expressões como “Você é muito lento para entender” ou “Você não merece tanto amor” são exemplos de mensagens que, segundo o estudo, podem afetar a percepção de valor pessoal e a confiança na hora de criar vínculos afetivos no futuro. Em outras palavras, a infância é o terreno onde se planta a semente da insegurança ou, ao contrário, da autoconfiança.
A inevitabilidade dos erros
O relatório da IAFI também esclarece que esse tipo de frase nem sempre pode ser completamente evitado. “É quase impossível impedir que elas escapem”, observa o documento. Fatores como cansaço, estresse, a idade das crianças ou comportamentos desafiadores podem levar os pais a proferirem palavras das quais se arrependem posteriormente.
Portanto, o objetivo não é culpar os cuidadores, mas sim promover a conscientização. A análise incentiva a identificação de quais dessas frases aparecem com mais frequência nas relações com as crianças, a fim de transformá-las em mensagens construtivas. Um comentário negativo pode ser corrigido, mas repeti-lo sistematicamente instila crenças limitantes na mente da criança.
O estudo também ressalta que não são apenas as palavras que marcam as crianças, mas também os comportamentos. Um ambiente em que há violência, mesmo que silenciosa, causa um impacto mais profundo do que qualquer palavra. “A ação e os comportamentos ficam mais gravados, porque entram pelos olhos e não pelos ouvidos”, conclui a análise.
Isso significa que um ambiente familiar hostil pode deixar marcas mais fortes do que as mensagens verbais. A criança não apenas escuta, mas também observa e interpreta o que acontece ao seu redor. Por isso, o exemplo dos adultos é decisivo na formação emocional dos pequenos.
O desafio para mães, pais e cuidadores é equilibrar a disciplina com o cuidado emocional. Ser compassivo com os próprios erros é tão importante quanto evitar repetir padrões nocivos. No fim das contas, trata-se de compreender que a infância é uma etapa em que cada palavra e cada gesto constroem — ou enfraquecem — os alicerces da autoestima.