30.5 C
Brasília
quarta-feira, novembro 5, 2025

Pela 1ª vez, ultraprocessados vão ficar mais baratos do que alimentos saudáveis em 2026, indica estudo; veja o impacto na saúde

- Advertisement -spot_imgspot_img
- Advertisement -spot_imgspot_img

Os alimentos ultraprocessados devem ficar, em média, mais baratos do que os in natura ou minimamente processados em 2026, indica uma nova pesquisa conduzida pelo Instituto de Defesa de Consumidores (Idec) em parceria com os grupos de estudos de Inquéritos Populacionais de Saúde (GEIPS) e de Pesquisas e Práticas em Ambiente Alimentar e Saúde (GEPPAAS) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Os responsáveis pelo levantamento analisaram os valores dos alimentos entre 2018 e 2024 e projetaram a tendência para o ano que vem. No início do período, 1 kg dos itens saudáveis era, em média, R$18,90, contra R$22,20 do de ultraprocessados. Após uma alta atípica durante a pandemia, o preço dos in natura ou minimamente processados passou para R$18,60 em 2024, um cenário de estabilidade em comparação com 2018. Já o dos ultraprocessados caiu cerca de 16% nos cinco anos e chegou a R$18,80.

Para 2026, a projeção dos pesquisadores é que os produtos saudáveis sofram uma pequena alta e subam para R$19,60, enquanto os nocivos mantenham a tendência de queda e caiam para R$17,90, tornando-se mais baratos. Segundo Bruna Furtado, pesquisadora do GEIPS e do GEPPAAS, da UFMG, essa transição é um fenômeno mundial que reflete os entraves crescentes para melhores escolhas alimentares:

— Isso ocorre por diversos fatores, como produção em larga escala, o que reduz o custo por unidade, e uso de ingredientes como açúcares, sódio e gorduras que têm preços muito baixos. Outro ponto é que boa parte das indústrias de ultraprocessados conta com mecanismos de proteção e incentivos fiscais e operam em cadeias produtivas globais, altamente eficientes. Tudo isso diminui o preço dos produtos e aumenta a sua disponibilidade, alcançando um número cada vez maior de consumidores.

A pesquisa mostrou, por exemplo, que o kg do arroz branco passou de R$ 4,50 para R$ 5,90 entre 2018 e 2024, o de feijão subiu de R$ 7,10 para R$ 9,30, e o da banana prata de R$ 6,60 para R$ 8,20. Já entre os ultraprocessados, o refrigerante sabor cola caiu de R$ 5,60 para R$ 4,70 o litro, a mortadela saiu de R$ 21,10 para R$ 15,10 o kg e o iogurte com sabor saiu de R$ 16 para R$ 14,70.

— Em um país em que a desigualdade socioeconômica é tão grande, o custo da alimentação se torna um fator essencial para as escolhas alimentares. Então quando vemos esse cenário de preços, vemos que há um incentivo para o consumo de produtos nocivos, que aumentam o risco de diversas doenças. Comer de forma saudável no Brasil tem se tornado um privilégio — diz Ana Maria Maya, especialista do programa de Alimentação Saudável e Sustentável do Idec.

O Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, documento reconhecido internacionalmente para a elaboração de diretrizes nutricionais, tem como regra de ouro evitar o consumo de ultraprocessados ao máximo e priorizar os alimentos in natura ou minimamente processados.

No entanto, graças ao apelo e aos preços mais em conta, a realidade é que uma parcela crescente da dieta dos 212 milhões de brasileiros é composta por ultraprocessados. Segundo dados da POF, cerca de 20% das calorias diárias no país são provenientes dos produtos, percentual que chega a ser de 42% e 58% na Austrália e nos Estados Unidos, respectivamente.

Ainda que o cenário não seja tão ruim quanto em outras partes do mundo, ele já é visto com preocupação devido aos danos à saúde associados a esses alimentos. Uma revisão de 45 estudos sobre o tema publicada na revista científica The BMJ encontrou uma ligação com um risco aumentado para 32 agravos de saúde diferentes.

— Em geral, esses estudos associam o consumo de alimentos classificados como ultraprocessados a doenças crônicas não transmissíveis, como obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares e, em alguns casos, até a câncer ou mortalidade precoce. Mas é importante destacar que nenhum alimento isoladamente causa ou previne doenças. O que importa é o padrão alimentar global e o contexto de consumo. Tudo pode ser consumido sem culpa dentro de uma alimentação equilibrada — diz a nutricionista Márcia Terra, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (Sban).

O que são ultraprocessados

O novo estudo usou dados secundários da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor (SNIPC) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD contínua). Todos os preços foram deflacionados até dezembro de 2024.

Os alimentos foram agrupados com base na classificação Nova, modelo criado pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP) que os divide em quatro grupos. Os in natura ou minimamente processados são aqueles obtidos diretamente da natureza ou que passam por processos simples sem adição de substâncias, mantendo suas características originais, como carne, grãos, leite, frutas e legumes.

O segundo diz respeito aos ingredientes culinários processados, que são extraídos de alimentos ou diretamente na natureza e usados em pequenas quantidades para preparar refeições, caso dos óleos, do sal e do açúcar, por exemplo. Já os alimentos processados são aqueles que passam por modificações simples com esses ingredientes para aumentar sua durabilidade e variedade, como pães, queijos e conservas.

Por fim, o quarto grupo engloba os ultraprocessados, que são as formulações industriais feitas com diversos aditivos, como corantes, saborizantes e ingredientes modificados. Esses itens têm baixo valor nutricional e alto apelo comercial. Alguns exemplos são refrigerantes, salgadinhos, doces, sorvetes, barras de cereal, pães embalados, margarina, macarrão instantâneo, entre outros.

Em um segundo estudo, os pesquisadores do Idec e da UFMG simularam o quanto a Reforma Tributária em curso no Brasil pode afetar o cenário de preços dos alimentos. O modelo atual da proposta isenta alimentos da cesta básica, muitos in natura ou minimamente processados, e incide o novo imposto seletivo, destinado a produtos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente, apenas sobre refrigerantes.

Segundo a análise, embora importante, a mudança não será suficiente para reverter a tendência de que os ultraprocessados fiquem mais baratos do que os itens saudáveis. Para isso, eles afirmam que seria necessário que o imposto fosse estendido a todos os ultraprocessados, e que a arrecadação obtida com o tributo fosse convertida em incentivos para os alimentos in natura ou minimamente processados.

— Se não tivéssemos garantido a isenção da cesta básica e o imposto no refrigerante, o cenário seria pior. Mas vemos como as políticas brasileiras tem sido insuficientes para melhorar o que chega à nossa mesa. Temos redução de consumo e de produção de arroz e feijão nos últimos anos, por exemplo, e não vamos conseguir reverter esse cenário com as medidas atuais — afirma a especialista do Idec.

[Fonte Original]

- Advertisement -spot_imgspot_img

Destaques

- Advertisement -spot_img

Últimas Notícias

- Advertisement -spot_img