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A disputa entre Heineken e Ambev pelo mercado de cervejas premium no Brasil ganhou um novo capítulo com a inauguração da nova fábrica da Heineken em Passos, no Sul de Minas Gerais. O investimento de R$ 2,5 bilhões marca a primeira unidade totalmente nova construída pelo grupo holandês no país e reforça sua estratégia de ampliar a presença no segmento mais rentável do setor, onde a rivalidade com a líder de mercado se tornou mais acirrada nos últimos anos.
O setor premium, que há uma década representava 4% do consumo nacional de cervejas, responde hoje por cerca de 24%. O avanço mudou a geografia da disputa entre as duas maiores cervejarias do país. De um lado, a Ambev fortalece marcas como Spaten e Stella Artois. Do outro, a Heineken busca consolidar sua liderança com Heineken e Amstel, marcas que respondem pela maior parte de suas vendas no Brasil. O próximo passo será reforçar as cervejas com o rótulo Eisenbahn.
Mercado competitivo
Mauricio Giamellaro, presidente da Heineken no país, reconhece que o ambiente competitivo se tornou mais intenso desde 2024, mas diz que o grupo mantém foco na estratégia de longo prazo. “O mercado premium brasileiro ainda tem espaço para crescer. A classe média ampliou o consumo, e a busca por qualidade segue aumentando. A nova fábrica é uma resposta a esse movimento”, afirmou o executivo durante a inauguração.
A unidade de Passos é a primeira construída pela companhia desde 2020 em todo o mundo e aumenta em cerca de 10% a capacidade produtiva da Heineken no Brasil. O terreno de um milhão de metros quadrados, com 200 mil metros quadrados de área construída, foi projetado para triplicar de tamanho no futuro. Se isso ocorrer, a planta mineira poderá se tornar a maior do grupo em capacidade global.
Segundo Giamellaro, o novo complexo simboliza a segunda fase da operação brasileira, iniciada após a compra das marcas da Brasil Kirin em 2017. “O investimento em Passos consolida um ciclo de expansão iniciado há seis anos. A primeira etapa foi integrar o portfólio e as fábricas. Agora, entramos em um momento de crescimento estruturado, focado em inovação e sustentabilidade”, afirmou.
Investimento de R$ 6 bilhões
Com o novo projeto, o total investido pela Heineken em plantas industriais no Brasil desde 2019 chega a R$ 6 bilhões. A fábrica de Passos produzirá inicialmente as marcas Heineken e Amstel, ambas classificadas no segmento premium. A companhia também planeja utilizar a unidade como referência em eficiência energética e reaproveitamento de água, elementos centrais de sua política global de sustentabilidade.
A estratégia de expansão no Brasil também tem relação direta com as mudanças no comportamento do consumidor. Segundo o presidente da empresa, a pandemia e o avanço do e-commerce alteraram o padrão de consumo, aproximando o público das marcas premium. “O consumidor brasileiro amadureceu. Ele valoriza a experiência e está disposto a pagar mais por um produto que representa esse valor. O mercado premium deixou de ser um nicho e se tornou mainstream”, disse Giamellaro.
No mesmo segmento, a Ambev reforçou o portfólio com a expansão de Spaten e a consolidação de Stella Artois, que vem crescendo entre consumidores urbanos e jovens adultos. O embate entre as duas companhias se dá não apenas nas gôndolas, mas também na disputa por pontos de venda e presença em bares. Desde 2023, a Ambev tem recuperado espaço com estratégias comerciais agressivas, enquanto a Heineken investe em relacionamento com varejistas e no fortalecimento das marcas.
Para o executivo, a concorrência é natural e reflete a maturidade do mercado. “A disputa é boa porque empurra todos a fazer melhor. Estamos investindo para crescer com qualidade e consistência. O consumidor vai escolher quem entregar o melhor produto e a melhor experiência”, afirmou.
Aumento da demanda
A unidade mineira foi desenhada para atender o mercado do Sudeste, região responsável por quase metade do consumo nacional de cerveja. O projeto foi desenvolvido para permitir aumento gradual de produção conforme a demanda. A expectativa é atingir cinco milhões de hectolitros por ano na fase inicial.
A planta também tem papel estratégico para reduzir custos logísticos e otimizar a distribuição da marca Heineken, cuja demanda cresce em ritmo superior ao do mercado total. Segundo Giamellaro, parte da produção das unidades de Araraquara (SP) e Ponta Grossa (PR) será deslocada para Minas Gerais, liberando capacidade em outras regiões. “Estamos reposicionando nossa malha para atender melhor o consumidor e aumentar a eficiência do sistema”, disse. A folga na capacidade instalada será usada para os outros rótulos da cervejaria holandesa no Brasil.
A ampliação produtiva ocorre em um momento de transformação no mercado de cervejas do país. A combinação de renda mais alta e busca por produtos de maior valor agregado impulsionou a migração para o premium. Ao mesmo tempo, a desaceleração da economia pressiona o consumo das categorias mais baratas, levando as grandes companhias a redefinirem suas prioridades.
A nova fábrica de Passos marca a consolidação dessa virada. Com ela, a Heineken reafirma o compromisso de longo prazo com o país e sinaliza que o mercado brasileiro seguirá no centro de sua estratégia global. A empresa agora opera 14 unidades produtivas no país — 12 cervejarias e duas microcervejarias —, responsáveis por um portfólio que inclui marcas como Eisenbahn, Sol, Baden Baden, Blue Moon, Lagunitas, Devassa e Tiger.
Para o presidente global da companhia, o Brasil continuará sendo uma das prioridades da Heineken. “O país é um dos motores de crescimento do grupo. Acreditamos no potencial do mercado brasileiro, no talento das pessoas e no desejo por qualidade”, disse Dolf van den Brink.