O governo dos Estados Unidos anunciou nesta sexta-feira (14) uma lista de produtos agrícolas que serão isentos das chamadas “tarifas recíprocas” impostas pelo presidente Donald Trump em abril. O anúncio, que pode beneficiar o Brasil, ocorre em meio à insatisfação dos americanos com os altos preços dos alimentos no país.
Estão na longa relação divulgada pela Casa Branca produtos como a carne bovina e o café, importantes itens da pauta de exportação do Brasil para os EUA e que estão sendo duramente afetados pelas tarifas impostas por Trump ao país.
As isenções reduzirão as tarifas comerciais sobre essas commodities agrícolas que, segundo a Casa Branca, não podem ser produzidas em quantidade suficiente nos EUA para atender à demanda interna.
Além de café e carne bovina, centenas de produtos alimentícios — como abacate, abacaxi, banana, castanhas e tomate — foram listados pelo governo como beneficiários da medida, que entrou em vigor retroativamente às 02h01 de ontem (horário de Brasília).
“Após considerar informações e recomendações, o status das negociações com vários parceiros comerciais, a demanda doméstica atual por determinados produtos e a capacidade doméstica atual de produzir certos bens, entre outros fatores, determinei que é necessário e apropriado modificar ainda mais o escopo dos produtos jeitos às tarifas recíprocas”, afirmou Trump no decreto divulgado pela Casa Branca.
Ainda não está claro como a isenção afetará os produtos brasileiros. Em 2 de abril, no chamado “Dia da Libertação”, Trump anunciou uma taxa de 10% sobre as exportações do Brasil aos EUA, além de alíquotas específicas sobre outros vários países.
Posteriormente, porém, o presidente americano aplicou uma “tarifa punitiva” de 40% sobre os produtos brasileiros, relacionando a alíquota extra ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por orquestrar uma tentativa de golpe de Estado após as eleições presidenciais de 2022.
Com isso, a tarifa aplicada ao Brasil subiu para 50%. No entanto, a Casa Branca recuou pouco depois e divulgou uma ampla lista de exceções, que isentou quase 700 produtos exportados aos EUA. Ainda assim, importantes itens do comércio entre os dois países ainda ficaram com alíquotas mais altas.
O decreto não esclarece se os produtos brasileiros também serão isentos da “tarifa punitiva” de 40% ou se serão beneficiados apenas com o corte de 10% da “tarifa recíproca” aplicada ao país.
O representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, antecipou o plano de isentar produtos agrícolas das tarifas recíprocas em entrevista nesta sexta-feira, afirmando que a medida se encaixa na estratégia comercial mais ampla da Casa Branca. Nos últimos dias, Trump e o secretário do Tesouro, Scott Bessent, já haviam sugerido que poderiam cortar as taxas cobradas de produtos como o café.
“Agora é o momento para liberar alguns desses itens que o presidente disse que iria liberar”, afirmou Greer. “Isso é um desdobramento natural exatamente do que o presidente sinalizou, e é isso que ele está fazendo hoje.”
Desde a imposição da “tarifa punitiva” sobre o Brasil e das várias críticas do presidente americano ao julgamento de Bolsonaro, os dois países se aproximaram. Trump se encontrou brevemente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos bastidores da Assembleia Geral da ONU e anunciou, em seu discurso, que os dois teriam uma reunião para discutir as relações comerciais.
O encontro ocorreu no fim de outubro, na Malásia, e abriu caminho para negociações conduzidas pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e pelo secretário de Estado americano, Marco Rubio. Ontem, os dois se encontraram, no Canadá, para discutir uma redução das tarifas dos EUA sobre o Brasil.
Após a reunião, Vieira disse que Rubio acenou com a possibilidade de um acordo provisório entre os dois países, que poderia ser fechado até o fim de novembro ou o início de dezembro. No entanto, o chanceler brasileiro não deu detalhes sobre que medidas seriam incluídas nesse pacto temporário.
A isenção sobre produtos agrícolas foi anunciada após o governo dos EUA ter fechado acordos comerciais com Argentina, Equador, El Salvador e Guatemala, com redução de tarifas para certos produtos desses países.