A decisão de realizar a COP30 em Belém foi audaciosa. Em termos de público é um sucesso. Cinquenta mil pessoas passaram por aqui. Fisicamente, para mim a COP representou um desafio. Andamos muito, tudo é muito distante. Descrevi o espaço como um gigantesco aeroporto sem cadeiras.
No meu telefone, há um aplicativo que mede meus movimentos. Todos os dias, registrava um recorde e me parabenizava pelo feito, como se fosse um atleta rompendo limites. E eu estava com a língua de fora.
Como em todas as COPs, as negociações se arrastam. Elas tratam dos grandes temas, financiamento, redução de emissões…
Conferência do Clima: Presidência brasileira da COP30 traça estratégia para superar impasses; Entenda
Por ser conhecido, tive o privilégio de sentir a diversidade e a riqueza do movimento ambiental. As pessoas me descreviam suas lutas, e gostaria de ter algumas horas de televisão para mostrar tudo isso.
Conheci gente que trabalhava com seguros que mostrou a importância desse ramo de negócios, sobretudo em tempos de eventos extremos. Um militante de ONG que trabalha com desperdício de comida mostrou como economizou toneladas de alimentos. Duas americanas que pesquisam nanoplásticos na atmosfera me deram um relatório completo sobre esse tipo de poluição. Ingleses da Universidade Queen Mary traçaram um quadro dos estragos que as guerras trazem ao meio ambiente e do papel da justiça internacional.
Isso às vezes acontece numa só manhã. Na outra, encontro um homem que dedica sua vida ao Rio Jaguaribe, no Ceará, debato com Alessandra Munduruku, indígena importante como líder que comandou um protesto pacífico na COP.
Pessoalmente é também uma viagem autobiográfica. Encontro pessoas de todo o Brasil com quem estive em alguma forma de luta. É também uma forma de perceber a idade. Muita gente se apresentando como filhos de companheiros. A uma delas, disse: não imaginava que seus pais tivessem uma filha adulta. Ela respondeu: adulta? Entrando na terceira idade.
Verdade que tenho uma pauta para anos de trabalho de campo, se houver oportunidade. Constatei coisas tristes também. Lembram o Vale do Javari, onde um jornalista inglês e um indigenista brasileiro foram assassinados? Pois bem, encontrei Beto Marubo, liderança na região, e ele me disse que os bandidos continuam dominando aquele pedaço da floresta.
Há muitas questões na Amazônia que continuam insolúveis. A presença do crime organizado é uma delas. Será que os debates sobre segurança pública, tão ineficazes nas metrópoles, conseguirão abarcar a perda da soberania na floresta?
Minha posição sobre a COP no âmbito político-diplomático é que debates sobre financiamento dificilmente avançam. E, quando avançam, não chegam bem na prática. A transição para energia limpa ainda encontra muita oposição nos produtores de petróleo. Aliás, em 1992 no Rio, nem conseguimos colocar os combustíveis fósseis na pauta.
O único debate promissor é sobre a adaptação às mudanças climáticas. E não podia deixar de ser. Esta COP não discute mudanças futuras. Elas são uma realidade palpável e demandam um conjunto de instruções para todos os países, respeitando, é claro, as características locais.
O que dizer para os pequenos Estados situados em ilhas do Pacífico e no Caribe? Já ultrapassamos a barreira de 1,5°C de elevação da temperatura. A partir daí é sinal vermelho para eles. E amarelo para quase todas as regiões costeiras do planeta.