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quinta-feira, novembro 20, 2025

Nova Zelândia quer fortalecer parceria com Brasil na área ambiental

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A Nova Zelândia está entre o pequeno grupo – cerca de dez dos 196 signatários do Acordo de Paris – que entregaram suas novas metas climáticas à ONU dentro do prazo estipulado, em fevereiro deste ano. Para o país do Pacífico, a ação é relevante para fortalecer relações bilaterais, em especial com o anfitrião Brasil, diz o ministro da Mudança Climática da Nova Zelândia, Simon Watts.

Em entrevista ao Valor, durante passagem por São Paulo, Watts afirmou que a Nova Zelândia quer ampliar a cooperação bilateral com o país, inclusive em áreas como agricultura de baixa emissão.

A nova meta climática neozelandesa prevê cortar entre 51% e 55% das emissões até 2035, em relação aos níveis de 2005, aumento modesto frente ao compromisso anterior, de 50% até 2030, que já foi criticado por especialistas daquele país por falta de ambição. Watts salienta que os números estão alinhados à trajetória doméstica do país. Em um momento de pressão ao multilateralismo, o ministro afirma que regras relacionadas à mudança climática permanecem fortes, como as NDCs. Até a última terça-feira (11), 111 países haviam apresentado suas metas climáticas para combater as mudanças climáticas.

“A meta para 2030 estabelecida pela Nova Zelândia trata-se de uma meta muito desafiadora e ambiciosa. Portanto, quando levamos em consideração onde estamos neste momento, ou seja, o descompasso entre nossa situação atual e a meta de 2030, tivemos que avaliar isso no contexto de onde estaremos em 2035. Também aproveitamos a oportunidade para alinhar 2035 com nossa trajetória doméstica”, disse Watts na segunda-feira, 17, momentos antes de embarcar para a capital paraense.

Pela primeira vez na América Latina e no Brasil, Watts disse que está na COP30 para apoiar a presidência brasileira da conferência, para que ela alcance os resultados que busca entregar. “A Nova Zelândia não vem aqui apenas como um país, mas também representa a região mais ampla do Pacífico. E todos os países que fazem parte dessa região do Pacífico, da qual a Nova Zelândia faz parte.”

O país ainda não tomou a decisão de contribuir com o Fundo de Florestas Tropicais (TFFF, na sigla em inglês) e prioriza o apoio à adaptação e mitigação climática no Pacífico. Mas aderiu à Coalizão Aberta de Mercados Regulados de Carbono, uma das principais prioridades do Ministério da Fazenda e da presidência brasileira na COP30.

A Nova Zelândia ainda não tem acordos formais para compra de crédito de carbono internacional, mas já criou mecanismos para viabilizar o processo caso haja necessidade para atingir a meta de redução de emissões do Acordo de Paris – o foco hoje são as reduções domésticas. “Mas, obviamente, queremos criar o mecanismo caso precise utilizá-lo”, afirmou Watts.

O ministro disse que a ausência dos Estados Unidos na COP30 não enfraquece a conferência e que na relação com o Brasil, no enfrentamento à crise climática, enxerga oportunidades em campos como o de tecnologias que ajudem a reduzir as emissões de metano, tipo de gás produzido em processos como o de fermentação entérica de bovinos. Leia a seguir trechos da entrevista:

Valor: Hoje, como vê a relação bilateral entre Brasil e Nova Zelândia e como prevê que ela seja no futuro? Especialmente no que diz respeito ao enfrentamento da crise climática.

Simon Watts: A Nova Zelândia e o Brasil têm uma relação de longa data e muito próxima. Meu tempo aqui em São Paulo foi dedicado a encontrar diversas empresas neozelandesas que atuam no Brasil em uma ampla gama de áreas bastante únicas, complementando setores mais amplos, especialmente na área agrícola. Nossa relação tem muitas semelhanças em termos de características dos países. Obviamente, o tamanho e a escala são um ponto de diferença, porque somos pequenos e localizados em outra parte do mundo, mas nossa base agrícola é semelhante. Acho que há muito mais oportunidades para ambos, e esse é o principal propósito da minha vinda aqui, fortalecer esses relacionamentos mais amplos para liberar valor e potencial, em primeiro lugar aqui no Brasil, mas também, de forma importante, a partir disso incentivar mais inovação e mais compartilhamento de produtos.

Valor: Muitos têm dito que essa é uma das COPs mais importantes, porque é quando os países têm que atualizar suas NDCs e que teriam que ser muito ambiciosas dada a velocidade com que a temperatura do planeta tem subido. Como o senhor enxerga a COP30 no Brasil? O que espera dela?

Watts: No contexto de como aproveitar melhor esse potencial mais amplo da ação climática, acredito que é garantir que os países consigam fortalecer suas relações. Grande parte do progresso depende do diálogo e de alcançar acordos entre países, especialmente aqueles que têm uma escala significativa e uma grande contribuição para as emissões, para que esses resultados sejam possíveis. E a Nova Zelândia não vem apenas como um país, mas também como representante do Pacífico e de todos os países que fazem parte dessa região.

A realidade é que clima e economia são duas faces da mesma moeda”

Valor: O que a delegação da Nova Zelândia deve apresentar e discutir durante a COP30? Quais as prioridades para o enfrentamento às mudanças do clima no país?

Watts: Antes de tudo, estarei aqui para apoiar o Brasil e a presidência brasileira no sentido de garantir que alcancemos os resultados que a COP busca alcançar. Obviamente, nas interações que teremos, participarei de uma ampla variedade de reuniões bilaterais com ministros do clima de outros países. E, naturalmente, a conversa com o Brasil analisará como podemos continuar trabalhando juntos para ajudar uns aos outros na redução de emissões. Acho que, novamente, quando pensamos que o Brasil tem números significativos de cabeças de gado, a discussão sobre metano biogênico toma o gado de corte como uma área de oportunidade (…). Trata-se de fazer parte de uma coalizão unida de países que buscam avançar. Há muita tensão no mundo neste momento devido à pressão geopolítica. O sistema multilateral está sob pressão, especialmente no ambiente comercial. Uma das poucas áreas que permanecem relativamente fortes é a ordem multilateral baseada em regras no que diz respeito à mudança climática. E a realidade é que clima e economia são duas faces da mesma moeda.

Valor: A Nova Zelândia se adiantou e apresentou suas novas NDCs ainda no início do ano, um dos poucos países que o fizeram dentro do prazo. Elas apresentaram a nova ambição do país de reduzir as emissões entre 51% e 55% abaixo dos níveis de 2005 até 2035. A meta foi alvo de críticas, que a chamaram de pouco ambiciosa. O que responde às críticas?

Watts: Em relação à meta NDC para 2030, trata-se de uma meta muito desafiadora e ambiciosa. Portanto, quando levamos em consideração o descompasso entre nossa situação atual e a meta de 2030, tivemos que avaliar isso no contexto de onde estaremos em 2035. Também aproveitamos a oportunidade para alinhar 2035 com nossa trajetória doméstica. Isso não era o caso em 2030. Na prática, estamos unificando esses caminhos. A Nova Zelândia está fazendo uma quantidade significativa de trabalho, especialmente em torno da eletrificação. Tivemos mais projetos de geração de energia renovável nos últimos 18 meses do que nos 15 anos anteriores somados. E quando você atinge 99% de energia renovável para eletricidade no mês de outubro, acho que precisamos celebrar esse sucesso no contexto de outros países e do progresso que fizemos. Mas, claro, sempre há mais a ser feito.

Valor: Representantes de algumas nações insulares, como de Palau, hoje sob ameaças como a elevação do nível do mar, criticaram o anúncio do governo neozelandês de revisão da meta de redução de metano biogênico, de 24% a 47% para 14% a 24% abaixo dos níveis de 2017 até 2050. Como espera responder a críticas desse tipo de países do Pacífico na COP30?

Watts: Veja, cada país está lidando com suas próprias circunstâncias únicas. E, como a Nova Zelândia demonstrou por meio de suas ações, somos absolutamente ambiciosos no contexto da ação para reduzir emissões, mas precisamos ser guiados pela ciência quando se trata de nossas metas. E o que fizemos na Nova Zelândia foi realizar uma revisão científica sobre onde estão as metas de metano biogênico e onde deveriam estar. Criamos um painel científico independente, composto por cientistas de ponta, para nos aconselhar sobre isso. As emissões agrícolas da Nova Zelândia representam cerca de 50% do nosso perfil total de emissões. Seguimos um modelo agrícola baseado em pastagens, muito diferente de outras jurisdições que não utilizam alimentação a pasto. Portanto, a complexidade e o desafio de reduzir essas emissões de metano são muito diferentes das emissões de metano produzidas pelo petróleo e gás ou por resíduos. Este é metano biogênico. A Nova Zelândia reconhece que o papel que podemos desempenhar ao encontrar soluções para reduzir o metano biogênico não beneficiará apenas a Nova Zelândia, mas também todas as nações agrícolas do mundo, especialmente aquelas baseadas em sistemas pastoris. Aí surge a oportunidade entre Brasil e Nova Zelândia, quando se pensa no papel que a agricultura desempenha no Brasil. E, embora o metano biogênico não represente proporcionalmente uma porcentagem tão alta quanto na Nova Zelândia, a escala e o potencial das tecnologias que podem ser implementadas em um país como o Brasil trariam benefícios globais significativos para o mundo de forma mais ampla. É nisso que devemos focar.

Valor: Sobre as recomendações de que a Nova Zelândia deveria comprar créditos de carbono no exterior para conseguir atingir a meta do Acordo de Paris, é algo que o governo considera fazer para se blindar do risco de frustração da meta? Que países seriam considerados para essa finalidade?

Watts: O governo neozelandês, neste momento, não firmou nenhum acordo formal para comprar créditos internacionais de carbono. O que fizemos foi criar e implementar os mecanismos necessários para, na prática, realizar esse processo, e fizemos isso com quatro países até agora, principalmente na região da Asean [Associação de Nações do Sudeste Asiático], incluindo Vietnã, Cingapura e também as Filipinas. Portanto, temos, na prática, acordos de cooperação estabelecidos. Nosso foco deve estar em garantir reduções domésticas de emissões antes de tudo, mas, obviamente, queremos criar o mecanismo caso precise utilizá-lo.

Valor: Como enxerga a ausência dos EUA nesta COP?

Watts: Não acho que isso enfraqueça a conferência. Quero dizer, todo país tomará decisões em relação às suas próprias políticas domésticas e internacionais. A Nova Zelândia foi muito clara ao afirmar que está comprometida com o Acordo de Paris e comprometida em garantir que façamos parte do sistema multilateral em todos os aspectos da política, mas especialmente no que diz respeito à mudança climática. Então, antes de tudo, estamos aqui para fortalecer essas relações internacionais, garantir que obtenhamos resultados e apoiar a presidência brasileira nesse sentido. Acho que cada país adotará posições diferentes, mas o que temos ciência é que há 194 países aqui, representando praticamente todos os países do mundo que estão à mesa.

[Fonte Original]

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