Resumo da notícia
Bancos on-chain chegam com USDT grátis, juros acima de 10% e cartão global integrado.
América Latina vira o epicentro da revolução financeira baseada em stablecoins e blockchain.
Transferências internacionais passam a custar zero e contas em dólar ganham escala massiva.
A América Latina assiste ao surgimento silencioso de uma revolução financeira que, desta vez, não vem dos bancos tradicionais, das fintechs ou das big techs. A virada acontece diretamente na infraestrutura da internet, em uma camada que até pouco tempo parecia restrita a entusiastas de criptomoedas. Agora, essa base tecnológica começa a ganhar forma de banco, de cartão de pagamento, de conta em dólar e de sistema de transferências globais. E, segundo analistas, nada irá interromper essa expansão.
O avanço é tão rápido que já existe quem afirme que o próximo Nubank não será um banco, será um protocolo blockchain. Entre os defensores dessa tese está o analista de criptomoedas Will Awang.
“Estamos construindo um banco digital que roda inteiramente on-chain, oferecendo todos os serviços de uma instituição financeira tradicional, mas sem as amarras do sistema antigo.”
Esse modelo, que há poucos anos parecia utópico, segundo ele, agora se transforma em produto real. Transferências globais de USDT com custo zero, contas que rendem acima de 10% ao ano e cartões internacionais emitidos sobre infraestruturas blockchain se tornam comuns.
A tendência ganhou força após o lançamento de soluções como Plasma One, EtherFi Cash, UR e Neobankless, cada uma atacando um ponto frágil do sistema bancário latino-americano.
A América Latina como laboratório global
O que explica tanta atenção à América Latina? De acordo com ele, a resposta é uma combinação de fragilidades estruturais e maturidade tecnológica. A região convive com inflação crônica, moedas voláteis, sistema bancário concentrado e tarifas altas em praticamente todos os serviços. Ao mesmo tempo, abriga uma população extremamente digitalizada: em países como Brasil, México e Colômbia, mais de 80% dos adultos têm smartphone e usam meios de pagamento instantâneo diariamente.
Esse contraste criou um terreno fértil para uma categoria inédita de serviços financeiros. O Pix já havia provado isso.
Quando o Brasil lançou sua rede instantânea, o sistema tradicional simplesmente não conseguiu responder. Agora, o mesmo fenômeno se repete, mas numa escala maior: o dinheiro deixa de correr em redes nacionais e passa a circular em redes globais, abertas e programáveis. O Pix é eficiente, mas ainda depende da infraestrutura bancária local. No mundo on-chain, a transferência acontece sem intermediários, sem fronteiras. É um novo padrão, não uma melhoria do antigo.”
Novos bancos
De acordo com ele, embora o termo “banco on-chain” ainda soe abstrato, sua operação é simples quando vista do ponto de vista do usuário. Em linhas gerais, esses novos bancos oferecem:
Conta em dólar via stablecoins como USDT e USDC.
Transferências instantâneas e globais, com taxas próximas de zero.
Rendimentos superiores a 10% ao ano, baseados em protocolos descentralizados.
Cartões Mastercard ou Visa, recarregados diretamente com stablecoins.
Acesso a investimentos tokenizados, como títulos, fundos e depósitos digitais.
É, essencialmente, uma experiência semelhante à de um banco digital tradicional, mas construída sobre blockchain. A diferença está na camada de infraestrutura: em vez de rodar sobre redes bancárias fechadas, essas plataformas operam sobre redes abertas como Ethereum, Solana, Mantle ou Plasma.
O resultado, segundo Will, é uma eficiência operacional impossível de replicar no sistema clássico. Transações internacionais deixam de custar US$ 30 ou US$ 50 e passam a custar centavos. A liquidação é imediata. O câmbio não sofre com sobrepreço bancário. A conta deixa de ser local e passa a funcionar como um endereço universal.
De acordo com Will, entre os grandes catalisadores dessa transição está o USDT. Em blockchains como Plasma, a moeda pode ser movimentada com taxa zero, porque o próprio protocolo subsidia as transações para acelerar a adoção. Na prática, enviar US$ 1.000 da Argentina para o Brasil custa o mesmo que enviar US$ 1= nada.
Essa lógica rompe completamente o modelo de remessas internacionais, que movimenta US$ 160 bilhões por ano na América Latina e paga tarifas que vão de 6% a 12%. Para trabalhadores migrantes, pequenas empresas e famílias, a diferença entre pagar US$ 30 e pagar zero não é um detalhe, é uma revolução econômica. Quando a infraestrutura base é blockchain, a transação não depende de bancos, corretores ou intermediários. O custo cai para praticamente zero, e o usuário sente imediatamente a vantagem.”, aponta.
O juro de 10% que o banco não consegue dar
Will também argumenta que se taxas de transferência zero já são impressionantes, os rendimentos chamam ainda mais atenção. Em muitos bancos tradicionais, a poupança rende menos que a inflação. Em outros, há exigência de saldo mínimo, prazo de carência ou tarifas escondidas. Nos bancos on-chain, o rendimento surge de pools de crédito descentralizados, protocolos de liquidez e estratégias automatizadas lastreadas em garantias reais.
Taxas entre 8% e 15% ao ano em dólares já são comuns em produtos de renda fixa on-chain. Embora não sejam isentas de risco, há risco tecnológico, de contrato inteligente e de mercado, elas atendem um ponto crítico que bancos locais não conseguem resolver: proteger o usuário da desvalorização da moeda.
Em países como Argentina e Venezuela, onde o dinheiro perde poder de compra em ritmo acelerado, esses rendimentos são vistos não como oportunidade de investimento, mas como mecanismo de sobrevivência financeira. As pessoas não estão buscando lucro. Estão fugindo da inflação. Se o banco te dá 8% em moeda que perde 50% ao ano, isso é perda disfarçada. On-chain, o usuário recebe rendimento em dólar, e isso muda tudo.”
Ele tambem aponta que outro ponto decisivo é a integração com o sistema de cartões. Durante muito tempo, manter ativos em blockchain significava ficar preso em um ecossistema paralelo, sem conexão com o varejo diário. Isso mudou. Bancos on-chain agora emitem cartões Mastercard e Visa conectados diretamente a contas em stablecoin.
O usuário paga no mercado, no Uber ou no shopping, e o sistema converte automaticamente USDT ou USDC no momento da compra. Algumas plataformas oferecem até 4% de cashback, algo inimaginável nos cartões convencionais da região. No Brasil, o Neobankless já testa uma modalidade ainda mais ousada: limite de crédito baseado em ativos depositados. O cliente não precisa comprovar renda, seu limite acompanha o valor que possui em stablecoins na plataforma.
O que muda no sistema financeiro?
Will argumenta também que a chegada dos bancos on-chain coloca pressão direta sobre bancos tradicionais e fintechs. Se uma transferência internacional pode ser feita em segundos, gratuita e sem fronteiras, a justificativa para tarifas elevadas desaparece. Se uma conta em dólar rende 10% ao ano, manter depósitos em moedas inflacionárias deixa de fazer sentido.
A diferença não é apenas tecnológica; é estrutural. Bancos on-chain:
não precisam de agências físicas;operam com equipes menores;escalam globalmente desde o primeiro dia;não carregam sistemas legados;não dependem de redes bancárias nacionais.
É por isso que muitos afirmo que o impacto será maior que o dos próprios neobanks. Revolut, Nubank e Chime transformaram o front-end; bancos on-chain alteram o back-end inteiro.
A América Latina como epicentro da disrupção
Segundo ele, o epicentro dessa revolução será latino-americano, pois a região reúne as condições perfeitas para isso
1,22 bilhão de transações Pix por mês;
1,22 milhão de pessoas sem conta bancária formal;
inflação persistente;
instabilidade cambial;
dependência de remessas;
smartphones em toda parte.
“A América Latina é o primeiro lugar do mundo onde o banco on-chain não é apenas útil, é necessário. A história do sistema financeiro latino-americano parece prestes a entrar em um novo capítulo. O Pix mostrou que a população está pronta para mudanças rápidas. Agora, uma nova geração de serviços, construída sobre blockchain, oferece algo ainda mais profundo: um sistema financeiro global, acessível e programável que não depende de fronteiras, bancos ou moedas frágeis.’, finaliza.