Um círculo monumental de fossos descoberto próximo a Stonehenge, em Wiltshire, foi confirmado como uma construção neolítica após uma investigação internacional liderada pela Universidade de Bradford. A descoberta, validada com técnicas científicas avançadas, redefine a compreensão da engenharia e das práticas rituais das primeiras comunidades britânicas.
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O círculo, identificado pela primeira vez em 2020, envolve os sítios arqueológicos de Durrington Walls e Woodhenge, a poucos quilômetros de Stonehenge. Segundo a Universidade de Bradford, trata-se da maior estrutura pré-histórica conhecida no Reino Unido: o anel tem mais de 2 quilômetros de diâmetro, cobre quase 3 quilômetros quadrados, e cada fosso mede até 10 metros de largura e quase 7 metros de profundidade.
A dimensão da escavação em calcário evidencia um nível sem precedentes de planejamento e trabalho coletivo. Para os arqueólogos, o projeto, a localização e a escala do sítio só poderiam ter sido alcançados por meio de uma organização social avançada e de conhecimentos técnicos notáveis para o período.
Para confirmar a origem humana das covas, a equipe combinou diversas técnicas. Geofísica avançada — incluindo tomografia de resistência elétrica, radar e magnetometria — permitiu mapear forma e profundidade das cavidades. Para descartar uma origem natural, os pesquisadores recorreram à análise de testemunhos de sedimentos.
A luminescência opticamente estimulada (OSL) foi usada para determinar quando o solo foi exposto à luz solar pela última vez, oferecendo uma data precisa para a escavação. A análise de DNA ambiental (sedaDNA) revelou restos biológicos e permitiu reconstruir a vegetação do período, confirmando a interação dos construtores com o ambiente. Estudos de argilas e siltes mostraram camadas sucessivas, indicando que o preenchimento das covas foi realizado de forma controlada ao longo do tempo.
As conclusões, publicadas na revista Internet Archaeology, no final do mês de novembro, afirmam que a formação do círculo de fossos foi resultado de atividade humana. “Eles não podem ter se formado naturalmente. Simplesmente não é possível. Acreditamos ter comprovado isso”, disse o professor Vincent Gaffney, da Universidade de Bradford, ao The Guardian. Ele ressaltou ainda que os fossos em Durrington Walls fazem parte de uma paisagem monumental organizada, que revela uma sociedade neolítica complexa.
A descoberta abre novas linhas de investigação sobre função, cronologia e impacto ambiental da estrutura. Especialistas especulam sobre propósitos rituais e cosmológicos dos poços. Segundo Gaffney, os círculos podem estar ligados a crenças sobre um submundo, diferenciando-se do alinhamento astronômico de Stonehenge. A Universidade de Bradford considera que o círculo pode ter marcado um espaço cerimonial em Durrington Walls, refletindo práticas que influenciaram a configuração mítica da paisagem.
O achado integra o Projeto Paisagens Ocultas de Stonehenge, uma iniciativa interdisciplinar que envolve universidades europeias, com apoio do English Heritage e do National Trust.