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quarta-feira, dezembro 3, 2025

Crítica | Absolute Batman – Vol. 2: Abominação – Plano Crítico

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  • Há potenciais spoilers. Leiam, aqui, as demais críticas do Universo Absolute.

Quando acabei de ler o primeiro arco de Absolute Batman, minha reação foi positiva, mas cautelosa. Enxerguei valor nas novidades que Scott Snyder e Nick Dragotta introduziram à mitologia reformulada do Homem-Morcego desse novo universo, mas não consegui ver exatamente um futuro que não fosse uma escalada insana de exageros e de violência extrema. Afinal, da mesma forma que é muito difícil criar situações de ameaça para o Superman extremamente poderoso das últimas várias décadas, o mesmo se dá quando o Batman ultrapassa todos os níveis de “preparo” e ele mesmo se transforma em um “SuperBatman”, algo que, aqui, inclui ele ser um gigante marombado e, mesmo sem o privilégio de ter a costumeira fortuna de família, mesmo assim ser capaz de criar gadgets de toda sorte, incluindo o uso de um absurdamente descomunal caminhão como batmóvel, de um machado bem no peito e ter o comando de diversas batcavernas espalhadas pela cidade.

A vantagem do primeiro arco para além das ideias mais megalomaníacas era que ele contava com uma história de origem diferente para o super-herói, nos introduzia a um Alfred “Comando para Matar” Pennyworth e contava com um vilão sem dúvida violento, mas interessante. No segundo arco, com a novidade tendo ido embora, Snyder acabou fazendo aquilo que eu temia que ele fizesse, ou seja, embarcasse na onda de competir consigo mesmo sobre até que ponto ele poderia chegar no uso de pancadaria e de violência sem escalar a narrativa da mesma forma. O resultado, sem maiores papas na língua, é um arco de incomuns oito páginas – ok, tecnicamente são dois arcos, um pequeno contendo as edições #7 e 8 e batizada de Absolute Zero/Zero Absoluto e outra de seis edições intitulada Abomination/Abominação, que acabou o nome do encadernado nos EUA, mas que se comunicam de maneira muito próxima – que é basicamente uma interminável rinha de galo em que o Batman precisa enfrentar Bane que, aqui, é um capanga do ainda misterioso Coringa, com direito à criação de boa parte da galeria clássica de vilões do super-herói.

Se esse novo Batman é um ser desproporcionalmente colossal, qualquer Bane criado por Dragotta precisaria dobrar, triplicar, quadruplicar a aposta e ele, aqui, acaba sendo mais um kaiju do que efetivamente um humano amplificado pela substância verde que corre em suas veias. Batman torna-se um brinquedo nas mãos de Bane mesmo quando o venom não é ativado e, quando ele é ativado, Batman parece uma minifig de Lego sendo levantado entre os dedos indicador e polegar de uma mão do vilão. É, em poucas palavras, ridículo. E a coisa fica ainda mais ridícula quando a resposta para tudo é um grau de violência tão alta que o arco mais parece pornô de tortura, com Snyder e Dragotta (além de Marcos Martin e Clay Mann, o primeiro responsável pelas edições #7 e 8 e o segundo pela #11) refestelando-se em mostrar os detalhes das maiores barbaridades cometidas por Bane e pela organização Ark M localizada em uma ilha próxima de Gotham em Batman e também outros personagens, notadamente no grupo de amigos de Bruce Wayne que fazem questão de se intrometer nos assuntos do Homem-Morcego, em tese aceitando todas as consequências que isso pode significar.

O roteiro de Snyder até se esforça em usar a conexão de amizade entre Waylon Jones e Bruce Wayne para paralelizar uma luta importante do passado para a qual Bruce ajuda Waylon a treinar e em criar uma história de origem relevante para Bane, mas esses esforços me parecem muito mais uma tentativa artificial de fazer com que a história pareça ser justamente menos vazia do que ela verdadeiramente é. Nesse sentido, o arco Zero Absoluto consegue ser bem mais interessante, pois ele serve para nos apresentar ao Ark M, a versão obviamente muito mais exagerada do Asilo Arkham que é mais um black site e um laboratório de pesquisas ilegais com o objetivo de transformar humanos em máquinas de matar, e a Victor Fries, Jr., o Senhor Frio desse universo que ganha seus poderes congelantes por meio de bactérias no gelo pré-histórico, uma ideia muito boa de Snyder, certamente muito superior aos confrontos porradeiros genéricos entre Bane e Batman em uma escalada em busca de algum tipo de recorde para inscrever a história no Guinness, talvez na categoria de maior quantidade de veias saltadas já desenhadas ou qualquer outra coisa insana nessa linha.

E, em meio a isso tudo, os personagens coadjuvantes passam a ser meramente peças de um tabuleiro já lotado de coisas, peças essas que existem única e exclusivamente para que eles sofram juntamente com o protagonista, mas sem espaço suficiente para que realmente sintamos seus dramas. Até mesmo a Mulher-Gato, com uma versão mais bonita do capacete do Máscara Negra derrotado no primeiro arco, tem um uso descartável, o mesmo podendo ser dito da introdução da gangue do Capuz Vermelho que é comandada por Harley Quinn e que entra na história de maneira consideravelmente conveniente e aleatória, como se mais de 200 páginas de encadernado não fossem suficientes para emprestar a ela e a seu grupo algum tipo de contexto, por mais breve que seja. E o que dizer de Alfred que, coitado, é defenestrado da história central por quase todas as edições, retornando ao final apenas para ser uma versão “violência primeiro, inteligência depois” do Grilo Falante no ombro de seu pupilo? Chega a dar vontade de rir do quão é artificial a tentativa de fazê-lo um badass, algo que já foi feito antes um caminhão de vezes com muito mais categoria.

Abominação é quase isso mesmo, uma abominação. Meu maior receio depois de ler o primeiro arco materializou-se com força total no segundo e em níveis que eu jamais imaginaria vindo desse Snyder e não do outro, o cineasta. Claro que as artes de Dragotta e de seus pares são ótimas, mas elas nascem contaminadas pelas exigências do texto, transformando os personagens, incluindo o próprio Batman, em verdadeiras caricaturas tão grotescas que chegam a ser engraçadas. Entendi perfeitamente a proposta de Scott Snyder, mas, desculpe-se se estiver sendo muito direto e, com isso, ferir suscetibilidades, mas essa proposta é uma porcaria. E o mais assustador é que a bola de neve continua rolando e aumentando, já que, agora que Snyder fez de Bane um kaiju, ele precisará fazer do próximo final boss algo ainda maior e/ou mais violento e/ou mais idiotizante. Só de pensar, não dá nem vontade de continuar acompanhando a HQ…

Absolute Batman – Vol. 2: Abominação (Absolute Batman – Vol. 2: Abomination – EUA, 2025)
Contendo: Absolute Batman #7 a 14
Roteiro: Scott Snyder
Arte: Marcos Martín (#7 e 8), Nick Dragotta (#9 e 10; #12 a 14), Clay Mann (#11)
Cores: Muntsa Vicente (#7 e 8), Frank Martin (#9 e 10; #12 a 14), Ivan Plascencia (#11)
Letras: Clayton Cowles
Editoria: Sabrina Futch, Andrew Marino, Katie Kubert, Chris Conroy
Editora: DC Comics
Datas originais de publicação: 09 de abril, 14 de maio, 11 de junho, 16 de julho, 20 de agosto, 10 de setembro, 08 de outubro e 26 de novembro de 2025
Páginas: 224



[Fonte Original]

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