O Tribunal de Contas da União (TCU) voltou a decidir que o governo deve mirar o centro da meta fiscal, e não o limite inferior, na hora de contingenciar recursos do Orçamento, ao entender que a prática atual pode causar riscos à condução da política fiscal.
Por outro lado, os ministros admitiram que mudanças feitas em 2025 na Lei de Diretrizes Orçamentárias, que permitiu ao governo mirar o limite inferior, fizeram com que a análise da Corte para este ano perdesse o efeito.
Assim, para os integrantes da Corte, o desfecho da análise foi “ameno”, apesar de alguns votos mais duros, uma vez que o governo ainda poderá buscar no Congresso uma solução para ajustar o piso da meta por meio da LDO. A leitura, contudo, é de derrota porque, na visão de membros do TCU, o Executivo pretendia uma “liberação ampla”.
O ministro-relator, Benjamin Zymler, falou que a mudança realizada na LDO em 2025 fez com que o julgamento referente a este ano perdesse o efeito. Ao final de outubro, o governo conseguiu alterar a legislação no Congresso Nacional para deixar claro que era liberado mirar o limite inferior na hora de contingenciar recursos.
“Adoção ao limite inferior revela-se incompatível com o regime jurídico fiscal vigente”, votou o ministro Jorge Oliveira, que foi acompanhado nesta quarta pelos demais membros do Tribunal.
O decano do TCU, ministro Walton Alencar Rodrigues, disse em seu voto que o governo “desobedece ao Congresso e atua como se fosse o piso da meta a regra” a ser seguida durante a gestão fiscal. O Parlamento, em seu entendimento, expressamente optou, votou e aprovou o centro da meta.
O ministro Bruno Dantas divergiu das considerações. Para ele, o governo ficaria liberado a mirar o limite inferior, ao menos que a LDO seja explícita ao determinar mirar o centro na hora de contingenciar recursos.
Governo descumpriu lei fiscal
Em julgamento nesta quarta-feira (3), os ministros também decidiram informar ao Poder Executivo de que houve descumprimento da legislação fiscal em 2025 nos bimestres anteriores à mudança da Lei de Diretrizes Orçamentárias 2025, que permitiu, ao fim de outubro, mirar o limite inferior na hora de contingenciar.
O informe ao Executivo foi expedido pelo ministro Jorge Oliveira em duro voto apresentado nesta quarta-feira. Isso não significa que as contas serão rejeitadas em 2025, no entendimento de integrantes e técnicos do Tribunal, mas que serão elementos a serem analisados em 2026.
Para 2026, no entendimento de técnicos de orçamento, o governo precisará deixar claro na Lei de Diretrizes Orçamentárias 2026 que é autorizado mirar o limite inferior. Neste caso, a decisão do TCU não teria efeito, já que a possibilidade estaria prevista em lei. A proposta do Executivo previa mirar o piso para fins de contingenciamento, mas o relator da LDO, deputado Gervásio Maia (PSB-PB), alterou essa previsão. O Valor apurou, no entanto, que há espaço para negociação do governo com o Congresso.
Em um cenário de obrigatoriedade de mirar o centro da meta, o governo precisará, no ano que vem, buscar o superávit de 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB), equivalente a R$ 34 bilhões. Isso precisaria ser feito a cada dois meses na hora de contingenciar recursos, elevando o desafio orçamentário em ano eleitoral.