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quinta-feira, dezembro 4, 2025

Crítica | Absolute Mulher-Maravilha – Vol. 2: Como Minhas Mães Me Fizeram – Plano Crítico

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  • Há potenciais spoilers. Leiam, aqui, as demais críticas do Universo Absolute.

Li o segundo arco de Absolute Mulher-Maravilha na sequência de minha desalentadora leitura do segundo arco de Absolute Batman e não tenho como começar a presente crítica sem afirmar que Scott Snyder faria bem se tivesse uma aula de como “continuar uma história” com Kelly Thompson. Para começo de conversa, é evidente que a Mulher-Maravilha desse universo realmente é uma criação nova e não uma variação do que já existe e que até já foi feito antes de maneiras semelhantes com o próprio Batman. Depois, é visível que Thompson está preocupada sobretudo com o desenvolvimento de sua protagonista, dos personagens que gravitam ao seu redor e da expansão orgânica dessa nova mitologia, mesmo que, em estrutura, coincidentemente ou não, a segunda história seja muito semelhante à de Absolute Batman, com Diana, como Bruce, passando quase toda a história dentro de uma espécie de prisão governamental, o que só torna tudo ainda mais irônico em relação ao que Snyder fez.

Como tem sido padrão no Universo Absolute e de certa forma consolidado em Absolute Evil para quem ainda tinha alguma dúvida, a vilania macro vem de organizações governamentais e paragovernamentais. Com apenas Absolute Caçador  de Marte até o momento fugindo desse padrão, temos a Ark M em Absolute Batman, a Corporação Lázaro em Absolute Superman, o Projeto Olimpo em Absolute Flash e a Hammond Consulting em Absolute Lanterna Verde, todas essas organizações de alguma maneira sendo responsáveis pela criação e/ou controle de outros personagens poderosos, sejam eles vilões ou não. Agora, em Absolute Mulher Maravilha, somos apresentados à Veronica Cale, representante do governo americano que comanda a Área 41, uma gigantesca instalação secreta que conta com a Doutora Veneno como uma das principais mentes – ainda que forçada a isso, por ser prisioneira – e uma espécie de labirinto ancestral no subsolo onde vivem as mais diversas criaturas aparentemente sem controle direto de Cale, mas também sem possibilidade de escaparem.

Mas, antes de a Mulher-Maravilha ser atraída para lá por meio da conversão em arma dos sons do monstro infernal gigantesco que ela derrotara no primeiro arco, algo que a deixa ainda mais irritada do que antes, já que isso fala muito da natureza humana corrompida pelo poder e pelo medo de deixá-lo escorrer por entre os dedos, ela organiza sua vida, com uma elipse temporal entre arcos permitindo que ela se estabeleça em uma gleba de terra nos arredores de Gateway City em que ela usa seus feitiços para invocar – de maneira não muito diferente do que o Superman faz no clássico filme de 1978 – uma moradia que ganha o nome de Hieron (seria uma referência à Xenofonte?) para onde ela leva Steve Trevor, Barbara Minerva e as irmãs Etta e Gia Candy, que naturalmente formam sua equipe de sidekicks. É de lá que, abrindo sua própria porta mágica (confesso que a conveniência dos feitiços da protagonista por vezes me deixa cansado), Diana vai para o tal labirinto onde não demora a encontrar a criatura que uma personagem de origem grega sempre precisa encontrar em labirintos, ou seja, um Minotauro que, porém, revela-se de bom coração e com o hilário nome Ferdinando, em meio a uma luta contra criaturas anfíbias para proteger uma sereia. Com essa aliança inusitada, conhecemos mais do lugar e da final boss de lá, que é ninguém menos do que a atlante Rainha Cléa, vilã clássica da Mulher-Maravilha que, aprisionada por décadas em um lugar longe do mar (ou pelo menos é isso que ela acha), perdeu o controle de suas faculdades mentais.

Mas, mais importante do que Cléa, Ferdinando e a sereia, é aqui que Diana tem contato com uma de suas irmãs de Themyscira, Io, que está também aprisionada por lá há décadas por razões que ela mesmo desconhece, mas que se revela tudo aquilo que a heroína sonhou de alguém que partilha de sua herança perdida. Io, que tem seu corpo todo tatuado com um mapa do labirinto que me fez lembrar imediatamente de Prison Break, claro, apresenta Diana à toda uma comunidade de seres aparentemente mitológicos que vivem ali presos e que, claro, Diana faz de tudo para salvá-los, em um processo que é intercalado com flashbacks para seu tempo quando criança na Ilha Selvagem com sua mãe adotiva Circe, em que aprendemos mais de suas características e qualidades. A bondade e altruísmo extremos da Mulher Maravilha chega até mesmo a incomodar, mas no bom sentido, já que ela é como a completa antítese da própria razão de ser de todo esse universo criado a partir de Darkseid e, quando falo completa, quero dizer ainda mais do que o Superman e os demais super-heróis apresentados até agora. Do jeito que ela tem sido escrita por Kelly Thompson, Diana é o alicerce central da estrutura super-heróica que vai aos poucos se formando no Universo Absolute, alicerce esse que vem sendo fincado de maneira muito competente pela roteirista com a ajuda da brilhante materialização artística de Hayden Sherman que, aproveitando-se do tema labirítinco, ajusta sua arte para apropriar-se dele em todos os momentos, criando páginas e páginas duplas absolutamente magníficas, além de manter o porte titânico da Mulher-Maravilha e criar novos personagens e recriar antigos com visuais igualmente inspirados.

Quando o arco de cinco edições que dá nome ao encadernado acaba, outro de duas edições – O Preço – começa seguindo a linha do encadernado anterior, em que Diana precisa enfrentar uma criatura misteriosa e silenciosa que ataca em diversos lugares pelo planeta. É uma pequena história independente que Thompson parece usar não só para fincar a importância da Mulher-Maravilha nesse universo, como, também e talvez principalmente, para fazer um ótimo uso da equipe que a protagonista tem em Hieron, com Etta e Gia sendo peças fundamentais no desvendamento do que exatamente está acontecendo. Matías Bergara comanda a arte desse arco e o contraste com as ousadias de Sherman é grande, mas o artista consegue imprimir um estilo que também combina muito bem com a heroína e seu drama mais pessoal nesse epílogo.

O segundo encadernado de Absolute Mulher-Maravilha deixa evidente que Kelly Thompson tem um ótimo plano para sua personagem e que ele não está de forma alguma contaminado pela vontade insana empilhar exageros em cima de exageros como é o caso de seu colega Scott Snyder lá no Batman Bombado. A nova Mulher-Maravilha é, até o momento – sem contar com a incomparável obra-prima experimental que é a metade publicada da maxissérie do Caçador de Marte (mas aí é covardia) – a melhor recriação de personagem clássico da DC Comics no Universo Absolute. Vida longa para Diana de Themyscira, Princesa do Inferno, Filha de Circe, Bruxa da Ilha Selvagem, Mulher-Maravilha de Gateway City!

Absolute Mulher-Maravilha – Vol. 2: Como Minhas Mães Me Fizeram (Absolute Wonder Woman – Vol. 2: As My Mothers Made Me – EUA, 2025)
Contendo:
Absolute Wonder Woman #8 a 14
Roteiro: Kelly Thompson
Arte: Hayden Sherman (#8 a 12), Matías Bergara (#13 e 14)
Cores: Jordie Bellaire
Letras: Becca Carey
Editoria: Ash Padilla, Chris Conroy
Editora: DC Comics
Datas originais de publicação: 28 de maio, 25 de junho, 23 de julho, 27 de agosto, 24 de setembro, 22 de outubro e 26 de novembro de 2025
Páginas: 208



[Fonte Original]

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