Adriano Machado/Reuters
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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a Selic estacionada em 15% ao ano pela quarta reunião consecutiva. Este é o nível da taxa básica de juros desde junho, quando o BC fez a sua última elevação — de 14,75% para o patamar atual.
A decisão já era amplamente esperada pelo mercado e antecipada pelo próprio BC em suas últimas comunicações. Mais cedo, o IPCA de novembro mostrou um avanço de 0,18% e a inflação dentro do teto extrapolado da meta pela primeira vez em mais de um ano. Apesar disso, não houve sinais de que a autarquia deseja retirar a política monetária do campo restritivo.
“O conjunto dos indicadores segue apresentando, conforme esperado, trajetória de moderação no crescimento da atividade econômica, como observado na última divulgação do PIB, enquanto o mercado de trabalho mostra resiliência. Nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e as medidas subjacentes seguiram apresentando algum arrefecimento, mas mantiveram-se acima da meta”, aponta o comunicado da decisão.
O BC também destaca que as expectativas para a inflação segue com valores acima da meta de 3% para 2025 e 2026 na pesquisa Focus. Além disso, o Comitê destaca que “os riscos para a inflação, tanto de alta quanto de baixa, seguem mais elevados do que o usual”. Segundo o cenário de referência do BC, o IPCA só se aproxima da meta no segundo trimestre de 2027 — a 3,2%
“O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado”.
O que frusta a expectativa do mercado é a falta de sinalização sobre um eventual início de “pouso suave” da economia brasileira, com projeções de cortes de juros já para as primeiras reuniões do próximo ano. O tom permaneceu duro, sem alívio. A projeção mais amena para a inflação, no entanto, deve seguir renovando a aposta do mercado em uma Selic mais baixa já no primeiro trimestre do próximo ano.
Aquecendo os motores?
Em entrevista à Forbes Brasil, o economista do ASA, Leonardo Costa, aponta que as “leves” mudanças feitas no texto não são suficientes para entregar um corte em janeiro, em linha com o que a casa esperava. No entanto, elas podem ser “pitadinhas” de um discurso mais suave como uma sinalização futura ao mercado. Dentre as mudanças estão não só a queda na projeção da inflação, mas também menção a uma melhora no mercado doméstico na leitura de inflação e atividade e a adição do termo “em curso” para se referir à estratégia hoje adotada pelo BC.
“Parece que ele está tentando fazer uma indicação temporal de “ó, tenho conseguido alguma coisa até aqui e [a política monetária] tem sido adequado. Parece que ele está referendando a estratégia adotada. São algumas sutilezas para ele tentar se desamarrar das condicionalidades que estão no texto e ficar um pouco mais próximo da divulgação dos dados das próximas semanas””, explica. O economista, no entanto, entende que essas sinalizações ainda são suficientes para abrir o cenário de cortes.
O ASA projeta que o início do ciclo de cortes deve ser feito em março, com um ajuste de 0,5 p.p — mais agressiva do que a maior parte do mercado projeta para o primeiro corte. Segundo Costa, o diferencial de juros com relação ao Fed vai continuar grande e pode ter efeitos positivos no câmbio, com uma apreciação do real e uma melhora nas projeções de inflação.
“A gente tem observado uma dinâmica melhor no núcleo de serviços. Há uma desaceleração justamente na parte mais relevante desse núcleo, composta por itens mais sensíveis ao ciclo de política monetária. Além disso, quando olhamos para a atividade doméstica, já estamos no terceiro mês do quarto trimestre, e os indicadores antecedentes apontam para um PIB próximo de zero. Ou seja: dois trimestres seguidos com PIB perto de zero e um enfraquecimento gradual do mercado de trabalho. Essas informações devem ficar ainda mais claras na reunião de março, o que deve dar suporte para a decisão de um corte de 50 pontos-base”, pondera.