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quarta-feira, dezembro 17, 2025

Com Legado de Sebastião Salgado, Mágio Celebra Culturas Yanomami e Ye’kwana, e o Cacau

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Mario Tama/Getty Images

Sebastião Salgado durante a exibição Amazônia na Califórnia em outubro de 2019

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A paraense Mágio Chocolates (antiga De Mendes), uma das principais biotech de cacau nativo da Amazônia, deu mais um passo estratégico em sua consolidação no mercado de bioeconomia ao lançar, nesta terça-feira (16), na Galeria Lume, em São Paulo, uma coleção limitada de chocolates inspirada nos povos indígenas amazônicos Yanomami e Ye’kwana, desenvolvida em parceria com o célebre fotógrafo documental e fotojornalista brasileiro Sebastião Salgado, que morreu em maio deste ano, aos 81 anos.

O empresário Stefano Arnhold chegou a conhecer Salgado, em sua residência em Paris, na França. Arnhold é sócio da empresa e fundador do Instituto BKK e da CBKK, venture builder que investe e estrutura negócios de impacto socioambiental, incluindo a Mágio,

“Sebastião Salgado retratou os povos indígenas de uma forma muito especial e gostaríamos de usar isso nos nossos chocolates porque ele tinha uma história muito forte com esses povos”, diz Arnhold.

“Conversamos com ele no dia 13 de março. Eu não me esqueço desta data. Explicamos para ele, qual era o projeto, qual que era intuito, e como a gente queria contribuir para o bem-estar das comunidades, tanto o povo Ye’kwana quanto o Yanomami. Ele entendeu imediatamente nossa ideia e foi assim impressionante”, diz.

“Nosso alinhamento sempre foi com o propósito de estruturar uma cadeia produtiva sustentável, lucrativa e que promova o bem viver das comunidades produtoras”, diz Arnhold.

Foi nesta ocasião que Salgado cedeu os direitos de uso de suas fotos aos Yanomami e elas passam a compor as caixas de chocolates. Com isso, a Mágio celebra o legado socioambiental do artista, reforçando a importância dos povos originários para a preservação da natureza, temática central de sua obra.

Divulgação

Stefano Arnhold (à esq.) ao lado de Julio Ye’kwana

A empresa fabrica os chocolates exclusivamente de amêndoas colhidas em comunidades de povos originários que além de indígenas, como o Ye’kwana e o Yanomami, reúne comunidades quilombolas e ribeirinhos amazônicos que somam uma entrega anual de cerca de 30 toneladas de cacau e 2 toneladas de cupuaçu.

Para Julio Ye’kwana, presidente da Associação Wanasseduume Ye’kwana, a iniciativa vai além do produto.

“As imagens e o olhar de Sebastião Salgado honram nossa história e nossa relação com a terra. Elas ajudam o mundo a reconhecer quem somos e por que proteger a floresta é essencial,” diz Julio.

Ele celebra ainda a que, com este projeto, sua comunidade ganha mais força que perdia o jovens para trabalhos em garimpos ilegais em sua área. Eles passam a ver no cacau uma saída para acabar com esse problema.

Arte, floresta e valor econômico


  • Caixa da nova edição de chocolates da Mágio inspirada na obra de Sebastião Salgado

    Reprodução

    Caixa da nova edição de chocolates da Mágio inspirada na obra de Sebastião Salgado

  • Cada caixa contém uma foto de Sebastião Salgado retratando as comunidades indígenas

    Cada caixa contém uma foto de Sebastião Salgado retratando as comunidades indígenas

  • Foto de Sebastião Salgado exposta durante o lançamento

    Foto de Sebastião Salgado exposta durante o lançamento

Reprodução

Caixa da nova edição de chocolates da Mágio inspirada na obra de Sebastião Salgado

Inspirados no repertório visual construído por Sebastião Salgado ao longo de décadas de convivência com povos da floresta, os chocolates da coleção trazem formas que remetem a folhas, sementes e grafismos amazônicos, traduzidos em peças autorais produzidas com precisão artesanal.

As embalagens, concebidas como objetos de design, foram pensadas para criar uma experiência sensorial completa, reforçando o caráter colecionável e presenteável da edição.

A proposta é conduzir o consumidor a uma experiência que vá além do sabor, estimulando reflexão sobre preservação ambiental, cultura e responsabilidade coletiva.

“Sebastião Salgado tinha um respeito profundo pelos povos da floresta. Ele queria que o mundo nos enxergasse com dignidade, como ele nos via”, diz Davi Kopenawa Yanomami, uma das principais lideranças indígenas do país, ao destacar a importância do fotógrafo na construção dessa ponte entre mundos.

A parceria com Sebastião Salgado é resultado de um relacionamento de longa data entre a Mágio e instituições como a Hutukara Associação Yanomami, a Associação Wanasseduume Ye’kwana e o Instituto Socioambiental (ISA).

Bioeconomia como modelo de negócio

Divulgação

Jovens indígenas com os frutos de cacau colhidos

Fundada em 2014 pelo empresário paraense César De Mendes, filho de mãe quilombola e pai ribeirinho com descendência judaica e marroquina, a Mágio Chocolates está transformando cacau nativo em um ativo de alto valor cultural e econômico.

Com uma fábrica em Belém em Santa Bárbara do Pará, na região metropolitana de Belém (PA) e outra em São Paulo (SP), inaugurada este ano, a empresa passou de uma capacidade de processamento de cacau de 12,5 toneladas por ano para 100 toneladas por ano.

Isso só foi possível porque desde 2020, a Mágio passou a ser investida pela CBKK. De lá para cá, foram R$ 16 milhões aportados, demonstrando que a bioeconomia amazônica não é apenas um conceito ambiental, mas um modelo de negócio viável, escalável e alinhado às grandes transformações do mercado global de alimentos, sustentabilidade e impacto.

Os investimentos fazem a empresa ganhar mais fôlego para competir com correntes no mercado de chocalates premium e artesanais como a catarinense Nugali, a baiana Dengo Chocolates fundada em 2017 pelo executivo Guilherme Leal, cofundador da Natura, a gaúcha Noir Chocolates e a capixaba Pepe Chocolates.

O modelo da Mágio vai além da compra de insumos, envolvendo capacitação, pagamento por serviços ambientais e sociais, verticalização da produção e uso de tecnologia blockchain para garantir rastreabilidade total da cadeia.

Divulgação

Indígenas na área de plantas de cacau

Esse modelo permite que o valor gerado pelo chocolate não se concentre apenas no consumidor final, mas seja distribuído ao longo da cadeia produtiva, impactando positivamente agricultores familiares, povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos.

Ao mesmo tempo, cria um diferencial competitivo claro em um mercado cada vez mais atento à origem e à integridade dos produtos.

“O melhor cacau do mundo é o amazônico”, diz o administrador de empresas Marcelo Tucci, CEO da CBKK.

“Então estamos pegando meio que uma joia, a lapidando, e mostrando de onde ela realmente veio. O objetivo é tirar a invisibilidade desses povos originários no Brasil”, diz Tucci.

Produção de cacau no Brasil e no mundo

O levantamento do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene) mostra que a produção global de cacau saltou de 4,49 milhões de toneladas na safra 2023/24 para 4,84 milhões em 2024/25, um crescimento de 7,8%.

A Costa do Marfim possui a liderança disparada com 1,85 milhão de toneladas, seguida por Gana com 600 mil toneladas. Equador é o terceiro com 480 mil toneladas; a Nigéria vem em seguida com 350 mil toneladas; e Camarões está em quinto lugar com 320 mil. O Brasil está na sexta posição, com até 300 mil toneladas.

O Valor Bruto da Produção (VBP) do cacau no Brasil em 2025 apresentou um crescimento expressivo, com estimativas apontando para um faturamento de R$ 14,5 bilhões, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).



[Fonte Original]

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