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sábado, dezembro 20, 2025

Crédito digital lastreado em Bitcoin desafia bancos e desencadeia disputa pelo futuro das finanças

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Resumo da notícia:

Nem dinheiro eletrônico nem ativo de risco nem reserva de valor: a inovação financeira do Bitcoin (BTC) não consiste em se adequar a conceitos pré-definidos ou se adaptar ao sistema financeiro tradicional, mas sim a criar um novo padrão monetário.

A engenharia financeira desenvolvida por Michael Saylor à frente da Strategy para acumulação de Bitcoin, deliberadamente ou não, criou um sistema paralelo de “crédito digital” lastreado em BTC que opera de forma completamente independente do sistema bancário tradicional, argumenta Danillo Uliana, analista da WeSearch:

“Do ponto de vista sistêmico, o ‘crédito digital’ representa um fenômeno sem precedentes: um ativo híbrido que combina características de renda fixa (pagamentos regulares de dividendos), alavancagem corporativa (emissão de dívida para comprar mais BTC), colateral digital (lastro em Bitcoin) e eficiência fiscal (tratamento favorável em certas jurisdições).”

Propriedades do Bitcoin enquanto capital e lastro para operações de crédito. Fonte: Danillo Uliana (WeSearch)

Segundo Uliana, o sucesso do modelo confirmará que a Strategy é mais do que apenas uma empresa cujo propósito é acumular Bitcoin, mas sim de que ela é um “laboratório para um novo modelo de finanças corporativas que poderia tornar os bancos comerciais obsoletos em segmentos inteiros do mercado de crédito.”

Saylor teria levado adiante a criação de Satoshi Nakamoto para desintermediar as finanças e ameaçar verdadeiramente o sistema bancário.

Sistema de crédito lastreado em Bitcoin transforma capital em renda
Sistema de crédito lastreado em Bitcoin transforma capital em renda. Fonte: Danillo Uliana (WeSearch)

Inclusive, segundo Uliana, a queda recente do preço do Bitcoin pode estar associada a uma reação deliberada do JP Morgan para inviabilizar o modelo de negócios da Strategy.

A reação do JP Morgan

A pressão estrutural sobre a MicroStrategy em 2025 teve início quando o MSCI (Morgan Stanley Capital International) divulgou um memorando interno sugerindo a exclusão de empresas com balanços compostos majoritariamente por Bitcoin em índices acionários como o MSCI USA e MSCI World.

Analistas do JP Morgan estimaram que uma eventual exclusão poderia resultar em perdas de capital entre US$ 2,8 bilhões e US$ 8,8 bilhões para a Strategy, caso outros indexadores seguissem o mesmo caminho. O total pode chegar a US$ 15 bilhões caso outras empresas do setor sejam excluídas.

O debate público contribuiu para uma correção acentuada no preço das ações da Strategy, que recuaram cerca de 40% em novembro e aproximadamente 70% em relação ao seu topo histórico, superando a volatilidade do Bitcoin no mesmo período.

Em paralelo, o JP Morgan alterou suas políticas internas de risco para empréstimos garantidos por ações da Strategy. O banco elevou os requisitos de margem de 50% para 95%, exigindo a alocação imediata de garantias adicionais por parte de investidores alavancados.

A medida amplificou a tendência de queda do preço das ações, provocando liquidações compulsórias que reforçaram a pressão vendedora e reduziram a utilidade dos papéis da Strategy como colateral no mercado tradicional.

Para muitos analistas, mais do que uma medida de contenção de risco, a ação coordenada das instituições financeiras tradicionais foi uma tentativa deliberada de minar o sistema de crédito digital paralelo da Strategy.

Considerando-se que recentemente o JP Morgan liberou a concessão de empréstimos com garantias em Bitcoin para investidores institucionais, a postura do banco em relação à Strategy demonstra a intenção de manter a circulação dos ativos digitais sob a infraestrutura e a governança das instituições financeiras tradicionais, limitando a expansão de sistemas de crédito independentes que operam fora dos trilhos do sistema legado.

Para Uliana, esses eventos consolidam a “transição do Bitcoin de um ativo de nicho para uma peça central na arquitetura financeira global.”

A Nova Arquitetura Financeira e o Futuro das Reservas Soberanas

O modelo de crédito lastreado em Bitcoin oferece vantagens em relação ao crédito bancário clássico, explica o analista da WeSearch. Enquanto no mercado tradicional o risco de contraparte está atrelado ao fluxo de caixa operacional das empresas, as garantias em Bitcoin se beneficiam da liquidez de um ativo global e altamente líquido, cuja negociação é ininterrupta.

Comparação entre o crédito lastreado em Bitcoin e o crédito tradicional.
Comparação entre o crédito lastreado em Bitcoin e o crédito tradicional. Fonte: Danillo Uliana (WeSearch)

Por consequência, essa demanda institucional por Bitcoin para fins de colateralização e lastro de crédito gera um impacto direto sobre o preço. Dados on-chain mostram que a redistribuição da oferta em 2025 fixou o custo de aquisição de 70% do Bitcoin em circulação acima de US$ 85.000.

Esse patamar estabelece um novo piso psicológico e estrutural, ancorado na entrada de capital institucional e de grandes detentores que utilizam o Bitcoin como ativo de reserva. A consolidação nesse nível reduz a influência do varejo sobre o mercado à vista.

Como resultado do volume acumulado por meio de ETFs e das linhas de crédito privadas integradas às tesourarias de ativos digitais, a volatilidade caiu bastante no ciclo atual, contribuindo para a estabilização dos preços mesmo em momentos de redução da demanda.

Uliana acredita que a adoção corporativa é apenas o primeiro passo na construção de uma nova arquitetura financeira. O modelo de crédito lastreado em Bitcoin pode alcançar a esfera geopolítica à medida que o criptoativo for incorporado às reservas soberanas de bancos centrais, como já aconteceu em El Salvador, no Butão e, mais recentemente, na República Tcheca. 

O ponto de inflexão do novo modelo seria a criação efetiva da Reserva Estratégica de Bitcoin nos Estados Unidos. Uma vez que isso aconteça, é de se esperar que mais nações e corporações adotem sistemas de emissão de dívida e crédito digitais lastreados em Bitcoin.

O Bitcoin e a nova ordem monetária

Um mercado de capital soberano e paralelo ao sistema financeiro tradicional inauguraria uma nova ordem monetária para circulação global de valor, na qual o código e o colateral digital substituem os intermediários do sistema legado.

O amadurecimento do Bitcoin e sua consolidação como um ativo legítimo foram e seguem sendo marcada por tensões estruturais entre o sistema financeiro tradicional e a nova economia digital, destaca Uliana:

“A volatilidade de 2025 foi a dor do crescimento. Ela marcou o ponto de síntese dialética entre as finanças tradicionais e o dinheiro digital, onde o sistema legado foi forçado a absorver o ativo que não conseguiu suprimir, enquanto o ecossistema Bitcoin foi obrigado a se adaptar às regras do mundo institucional.”

O embate entre MicroStrategy e JP Morgan pode ser o estopim para “a fundação de uma nova arquitetura financeira, mais concentrada, mais institucional, mais geopolítica, e sobretudo, mais inevitável”, conclui o analista.

Conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil, a Coinbase acredita que o mercado de criptomoedas está muito próximo de um ponto de inflexão institucional.

[Fonte Original]

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