2025 testou a fé do investidor de criptomoedas como poucos anos fizeram. Foi um período em que o mercado alternou, em questão de semanas, entre a sensação de “nova era institucional” e o velho fantasma da volatilidade extrema, com recordes de preço, liquidações em massa e o maior hack já registrado da história do setor. Ainda assim, o saldo do ano não foi apenas de euforia e sustos. Foi, sobretudo, de consolidação.
O grande fio condutor de 2025 foi regulatório. Os Estados Unidos mudaram o discurso, passando do embate judicial constante para a tentativa de criar trilhos formais para stablecoins e estrutura de mercado, enquanto a Europa passou a viver, na prática, a aplicação plena do MiCA e a Ásia acelerou sua própria agenda de licenças e produtos regulados. O Brasil não ficou para trás e protagonizou um salto regulatório enorme para o setor.
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No pano de fundo, o recado de 2025 ficou claro: o mercado cripto começou a ser tratado menos como “experimento” e mais como infraestrutura financeira.
Essa virada regulatória andou junto com outro fenômeno, a financeirização do setor. ETFs, derivativos e custódia institucional, além das tesourarias focadas em criptomoedas, passaram a dominar o noticiário, e grandes empresas correram para comprar participação em infraestrutura crítica, especialmente em mercados de opções, prime brokerage e plataformas de trading. Ao mesmo tempo, memecoins voltaram a provar seu poder de mobilizar liquidez e atenção, nem sempre com fundamentos.
O resultado foi um ano de amadurecimento forçado, em que a indústria se profissionalizou, mas a volatilidade seguiu sendo o preço de entrada. E, quando o mercado parecia pronto para avançar de forma mais previsível, outubro — o mesmo mês que levou o Bitcoin ao recorde de US$ 126 mil — trouxe também um choque de liquidações que serviu de lembrete: no mercado cripto, a alavancagem mal calibrada ainda cobra seu preço.
Veja os principais eventos que marcaram o mercado de criptomoedas em 2025:
Janeiro
Governo dos EUA sinaliza agenda cripto coordenada
Com a volta de Donald Trump à presidência dos EUA em janeiro de 2025, a Casa Branca colocou os criptoativos na linha de frente ao estruturar uma agenda federal voltada a ativos digitais. O efeito imediato foi que o mercado passou a precificar regras mais claras e com menos improviso, criando espaço para que bancos e grandes instituições voltassem a estudar produtos e serviços com menor risco de “surpresa regulatória”.
Memecoin de Trump estreia e vira fenômeno
O ano começou com um evento que misturou política, cultura pop e especulação: o lançamento da memecoin associada ao nome de Donald Trump atraiu uma onda de dinheiro rápido, movimentou corretoras e redes sociais e reacendeu um debate antigo sobre o que, de fato, sustenta valor em cripto. A relevância foi menos tecnológica e mais comportamental, já que a moeda mostrou como narrativas podem puxar liquidez quase instantaneamente com uma disparada em questão de horas, para perder quase tudo em seguida.
SEC inicia redesenho de abordagem cripto
A criação de espaços formais para discutir cripto dentro da SEC funcionou como um sinal de que o regulador passaria a priorizar previsibilidade e diálogo. Para o mercado, isso não significou um “vale tudo”, mas reduziu o temor de que todo o setor pudesse ser enquadrado por decisões isoladas e processos prolongados.
MiCA em vigor na Europa
Embora a engrenagem regulatória do mercado cripto europeu tenha datas de implementação que começaram antes, janeiro foi o primeiro mês do ano sob a aplicação mais abrangente do MiCA no cotidiano do mercado. Na prática, o marco elevou exigências para prestadores de serviços e deixou o setor mais próximo de um padrão bancário em temas como governança, transparência e supervisão. Para o investidor, isso significou um ambiente mais previsível, e, para empresas, o custo (e a oportunidade) de se adequar para operar no bloco.
Fevereiro
Hack bilionário na Bybit
O roubo bilionário associado a uma carteira de ether na Bybit levou à perda de US$ 1,4 bilhão, o maior roubo da história das criptomoedas. O impacto foi duplo: no curto prazo, aumentou a aversão a corretoras e reacendeu o medo de contágio; no longo prazo, impulsionou pressão por padrões mais rígidos de custódia, controles internos e auditorias.
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SEC encerra disputa com a Coinbase
O encerramento do caso foi tratado como um grande marco. Se uma das maiores exchanges listadas dos EUA deixa de enfrentar um processo estruturante, a percepção de risco regulatório diminui. Isso costuma destravar investimentos, parcerias e até decisões de expansão de produto, especialmente em um ano em que stablecoins e estrutura de mercado voltaram à mesa.
SEC publica entendimento sobre memecoins
A orientação de que memecoins, em geral, não se comportam como valores mobiliários teve um efeito importante: reduziu incerteza jurídica para um segmento que movimenta bilhões em ciclos de mania. Ao mesmo tempo, o regulador deixou claro que o investidor não deve esperar proteção típica de valores mobiliários, reforçando o caráter especulativo, o risco de manipulação e “pump and dump”.
Março
EUA oficializam a ideia de uma reserva estratégica de Bitcoin
No início do mês, Trump assinou a ordem executiva para criar a reserva de Bitcoin dos EUA. A narrativa de “Bitcoin como ativo estratégico” ganhou dimensão institucional. Mesmo quando a implementação não significou compras imediatas no mercado, o valor simbólico foi enorme, já que reforçou o discurso de reserva de valor, estimulou discussões em outros países e ajudou a ancorar expectativas de adoção no longo prazo, combustível para ciclos de euforia.
Kraken compra a NinjaTrader
A aquisição de US$ 1,5 bilhão foi um recado de onde as empresas enxergam valor: infraestrutura de negociação, derivativos e base de clientes acostumada a operar alavancagem. Movimentos desse tipo aumentam a competição e incentivam corretoras a oferecerem produtos mais sofisticados, ao mesmo tempo em que elevam o debate sobre riscos e requisitos de capital.
Abril
Cripto sofre com o estresse macro
O ambiente global ficou pressionado pela onda de tarifas aplicadas por Trump no mundo todo, colocando o mercado em modo defensivo. Apesar do discurso de “reserva de valor”, investidores ainda enxergam que, no curto prazo, o Bitcoin ainda pode se comportar como ativo sensível a liquidez e a mudanças de humor macro. Para altcoins, o efeito tende a ser amplificado.
Maio
Ethereum recebe atualização Pectra
O Pectra virou um dos grandes eventos técnicos do ano, sendo a maior atualização do Ethereum em três ano, ganhando atenção de desenvolvedores e investidores por mexer em peças importantes da evolução da rede. Atualizações desse porte costumam influenciar narrativas sobre escalabilidade, experiência do usuário, staking e competitividade com outras redes, e, por tabela, a tese de longo prazo do ETH.
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Coinbase compra a Deribit
A aquisição de US$ 2,9 bilhões elevou o patamar do mercado. Opções são ferramentas típicas de instituições e de traders profissionais, e consolidar esse tipo de infraestrutura em uma gigante americana reforça a “institucionalização” de vez. Além disso, aumentou a pressão competitiva: quem não tiver um braço forte de derivativos corre o risco de ficar para trás.
SEC encerra processo contra a Binance
Outro caso emblemático que saiu do centro do ringue diminuiu o risco sistêmico percebido pelo mercado americano. Para a indústria, significou menos ameaça existencial e mais espaço para discutir regras claras, especialmente num ano em que stablecoins migraram de “tema cripto” para “tema de pagamentos”.
Junho
Pedidos e discussões sobre ETFs além de BTC/ETH ganham força
O mercado passou a tratar o “cardápio de ETFs” como um ciclo próprio: cada sinal regulatório favorável aumentava a lista de ativos na fila. Isso alimentou especulação, mas também colocou pressão por transparência e qualidade de mercado em redes e tokens que aspiravam virar produto de bolsa.
Julho
Crypto Week nos EUA
A politização do tema atingiu um novo patamar com uma semana dedicada a votar projetos estruturantes de criptomoedas. Para o mercado, quando a discussão sai do tribunal e entra no plenário, a previsibilidade tende a aumentar e o setor cripto passa a operar olhando cronogramas legislativos, não apenas decisões judiciais.
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GENIUS Act é aprovado
O GENIUS Act virou o grande símbolo do ano na frente regulatória. As stablecoins, vistas como o “dólar de cripto”, sustentam a liquidez, o trading, as remessas e parte relevante da tokenização. Ao criar um marco federal específico para stablecoins, que marca também a primeira legislação sobre cripto dos EUA, o país respondeu a um vácuo regulatório que se arrastava há anos. Com a nova lei, bancos e outras instituições começaram a avançar em seus planos no mercado cripto, e isso só deve crescer.
Agosto
Hong Kong começa a operar o regime de licenças para stablecoins
A implementação prática foi um marco porque separa “lei aprovada” de “mercado funcionando”. Regimes de licenciamento forçam emissores a atender requisitos de governança e reservas, o que tende a melhorar confiança — e, ao mesmo tempo, selecionar quem consegue operar.
Setembro
SEC aprova padrões de listagem para ETPs cripto
Esse tipo de decisão tem efeito multiplicador, já que reduz a fricção para novos produtos e muda o jogo para emissores. Ao facilitar listagens, o mercado passa a precificar que mais ativos podem ter seus próprios ETFs com menos incerteza e mais velocidade.
Outubro
Bitcoin bate máxima histórica
Dia 6 de outubro, o Bitcoin atinge US$ 126.080 e marca seu maior preço na história (até hoje). O recorde parecia marcar o segundo semestre como fase de euforia. O mercado leu o movimento como resultado de uma combinação de narrativa regulatória mais favorável, demanda via produtos regulados e busca por proteção/retorno em um ambiente macro volátil. Mas ninguém parecia preparado para o que viria a seguir.
Flash crash e liquidações recordes expõem o custo da alavancagem
Poucos dias depois, em 10 de outubro, o trauma do ano: posições alavancadas foram varridas em efeito dominó, e o mercado viu, em poucas horas, como liquidez pode evaporar. Naquele dia, as liquidações chegaram ao patamar de US$ 19,3 bilhões — o número mais alto já visto na história do mercado cripto. O Bitcoin perdeu os US$ 100 mil e o episódio reforçou o argumento de que cripto amadureceu em produto e regulação, mas ainda carrega riscos estruturais quando o assunto é alavancagem do mercado.
Trump concede perdão a Changpeng “CZ” Zhao
Em 23 de outubro, Donald Trump concedeu perdão a Changpeng Zhao, o CZ, ex-CEO da Binance, em um episódio que chamou atenção não só pelo tamanho do personagem no ecossistema, mas pelo simbolismo político. O perdão virou um evento de mercado porque mexe com percepção de risco regulatório e com o tom político em torno das grandes corretoras. Por outro lado, a relação pouco clara entre a Binance e os empreendimentos pessoais de Trump vieram a tona cercado de suspeitas.
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OranjeBTC estreia na B3 e reforça a “febre das tesourarias de Bitcoin” em 2025
No Brasil, a chegada da OranjeBTC (OBTC3) à Bolsa de Valores virou um dos marcos do ano ao colocar no centro do debate local o modelo de Bitcoin Treasury Company, empresas cuja tese é manter BTC no balanço. Isso também reforçou uma tendência vista em 2025, com tesourarias corporativas de Bitcoin que passaram a disputar narrativa com ETFs e derivativos como “canal institucional” do ciclo, influenciando o fluxo e a forma como investidores precificam oferta e demanda do ativo, com grande destaque para a Strategy de Michael Saylor.
ETFs à vista de Solana e XRP começam a ser negociados
A estreia dos ETFs à vista ligados as altcoins Solana e XRP foi tratada como marco por mostrar que o mercado estava indo além do duopólio BTC/ETH. Esse tipo de evento tem impacto direto ao atrair novos perfis de investidor, aumenta discussão sobre custódia e abrir uma corrida por outros ETFs de altcoins, que viriam nos meses seguintes.
Novembro
Banco Central do Brasil publica novas regras para criptomoedas
No Brasil, o avanço regulatório entrou no radar global do setor ao detalhar exigências e delimitar atividades reguladas. Em três normas, o BC descreveu como as empresas que prestam serviços com ativos virtuais deverão operar, além de definir o que são operações de câmbio no meio cripto e quais situações estão sujeitas à regulamentação de capitais internacionais.
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Receita Federal divulga novas regras de reporte de criptomoedas
Uma semana após o Banco Central divulgar suas normas, foi a vez da Receita Federal atualizar as obrigações de reporte de transações com ativos digitais por investidores e empresas do setor, com o lançamento da Declaração de Criptoativos (DeCripto).
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Dezembro
Ripple compra a Hidden Road
O movimento evidenciou a prioridade em atender clientes institucionais com serviços de financiamento, execução e infraestrutura, aproximando o mercado cripto das práticas já consolidadas por bancos e corretoras nos mercados tradicionais. Ao mesmo tempo, reforçou a tendência de integrar stablecoins e colateral a operações cada vez mais alinhadas ao universo “tradfi”.
Bancos nos EUA recebem autorização para oferecer Bitcoin
A abertura para modelos do tipo “trust bank” indicou que a integração com o sistema bancário americano avançou. Com a aprovação do Office of the Comptroller of the Currency (OCC), órgão que supervisiona bancos federais nos EUA, os bancos do país passaram a ter autorização para intermediar transações de Bitcoin e outras criptomoedas para seus clientes.
O que fica para 2026?
Se 2025 foi o ano em que a regulação virou protagonista, 2026 tende a ser o ano em que os efeitos práticos dessa regulação aparecem no dia a dia. Nos EUA, o mercado deve acompanhar como o marco de stablecoins será aplicado na prática e como isso vai mexer na competição entre emissores, bancos e big techs. Na Europa e na Ásia, o tema será execução: licenças, fiscalização, padronização e o impacto real sobre custos e inovação.
Entre as tendências apontadas por especialistas para o próximo ano estão o crescimento dos mercados de previsão, vistos como um dos grandes hypes da virada de ano, o contínuo amadurecimento dos investimentos institucionais em criptomoedas e a expansão de movimentos que marcaram este ano, como o avanço da tokenização de ativos do mundo real (RWA) e o uso de stablecoins para agilizar pagamentos internacionais.
A indústria chega em 2026 mais consolidada e mais institucional — mas com uma lição recente na memória: a volatilidade continua sendo a moeda do curto prazo. A combinação de ETFs ampliando o acesso, derivativos ganhando peso e M&As criando “superplayers” pode deixar o mercado mais eficiente e líquido, mas também aumenta o risco de movimentos bruscos quando alavancagem cresce demais. Em outras palavras: as regras ficaram mais claras; o comportamento do mercado, nem tanto.
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