A inauguração de uma parte do trecho norte do Rodoanel nessa segunda-feira (22) foi marcada pela troca de farpas entre o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante (PT). O evento ganhou um tom eleitoral, com a exaltação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), feita por Tarcísio, e a defesa da reeleição de Lula, por Mercadante.
Tarcísio e Mercadante participaram em Arujá, na região metropolitana da capital, da entrega da primeira metade do trecho norte do Rodoanel Mário Covas – do km 129 ao km 153 – entre as rodovias Presidente Dutra e Fernão Dias. A operação no local deve ter início nesta terça-feira (23).
No evento, o presidente do BNDES criticou a gestão estadual por não registrar a participação do banco no financiamento da obra. Mercadante afirmou que o BNDES financiou cerca de um terço, com R$ 1,3 bilhão, mas não aparece na placa de inauguração do trecho do Rodoanel. Em seguida, disse que é preciso “recuperar a relação republicana” entre os governos.
“Essa placa tá muito bonita, mas tá faltando o BNDES aqui. Por quê? É crédito do BNDES e temos de reconhecer a parceria para poder fazer mais coisas juntas no futuro”, afirmou Mercadante, sem citar Tarcísio. O governador é cotado para disputar a Presidência em 2026, contra Lula.
Tarcísio mencionou, no começo de seu discurso, que o “BNDES é fundamental no financiamento das grandes obras” de infraestrutura, mas não detalhou a participação do banco no financiamento do Rodoanel, nem falou sobre a atuação de Mercadante ou do presidente Lula. Na sequência, disse que o atraso da obra, de quase dez anos, se deu por conta de escândalos de corrupção como a Lava-Jato, e exaltou seu próprio governo por entregar o trecho.
O governador citou que a obra começou a ser pensada em 1992, teve seu primeiro trecho licitado em 2013 e era para ter ficado pronta em 2016. “Infelizmente, um clássico brasileiro”, disse. “Sobre essa obra se abateu o problema da corrupção, uma chaga que assola o Brasil. Nós enfrentamos aqui e vimos a Operação Lava-Jato, daqueles governos que se acostumaram a viver na corrupção. Por isso essa obra ficou parada. Por causa da Lava-Jato, da corrupção. Muitos anos de espera, muitas promessas. Mas a espera e a promessa não resolvem.”
Ex-ministro da Infraestrutura de Jair Bolsonaro, Tarcísio citou também a concessão na rodovia Dutra, que foi “pensada, trabalhada, projetada, licitada, leiloada, com contrato assinado” na gestão do ex-presidente. Nesse momento, o governador foi interrompido por gritos de “mito”, em referência a Bolsonaro. “Eu participei , eu vi isso acontecer no Ministério da Infraestrutura e deixamos esse presente para o Brasil. É de quem pensa o Estado”, afirmou sobre o ex-presidente, que está inelegível, preso por tentativa de golpe de Estado e condenado a 27 anos e 3 meses de prisão.
Pouco antes, ao discursar, Mercadante disse que o governo federal pretende modernizar a rodovia Dutra, mas não mencionou Bolsonaro ou Tarcísio. Durante o evento, o presidente do BNDES recebeu vaias ao listar ações do presidente Lula.
Ao falar com a imprensa, no fim do evento, Tarcísio voltou a criticar os escândalos de corrupção e destacou as ações da Lava-Jato, sem citar diretamente que a operação da Polícia Federal foi deflagrada em 2014, no início do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff (PT).
Mercadante reforçou o tom eleitoral e comparou as ações de Lula com as de Jair Bolsonaro, padrinho político de Tarcísio, e defendeu a reeleição do presidente em 2026. “É um erro na política brigar com os fatos. É a menor taxa de desemprego da série histórica, é o maior volume de empregados da série histórica. É o melhor salário mínimo, a melhor renda per capita da história do Brasil. É o melhor coeficiente de Gini. A ONU falou que o Brasil saiu do Mapa da Fome. Eles fizeram seis concessões, nós já fizemos 22 e vamos fazer 40. É só comparar”, disse. “É Lula que vai ganhar de novo”, afirmou Mercadante.
“Estamos fazendo o maior projeto rodoviário do Brasil, que é a Dutra, o maior projeto de aeroportos”, disse, sem mencionar citar Tarcísio ou Bolsonaro. “Em termos de estrada, estamos financiando só de mobilidade para o governo de São Paulo R$ 13,7 bilhões para esse governo. Está faltando a placa ali para reconhecer e nós vamos a todos os eventos para cobrar.”
Ex-ministro, ex-senador e ex-candidato do PT ao governo paulista, Mercadante disse ainda que a orientação de Lula “é trabalhar de forma republicana, é buscar fazer parceria para as coisas andarem e poder entregar e resolver” e voltou a falar sobre o financiamento das obras do Rodoanel pelo BNDES. “Já liberamos nessa obra R$ 1 bilhão. É por isso que está sendo entregue na velocidade que está sendo”, disse. “Vim aqui para ressaltar essa visão. Precisa trabalhar em parcerias. Estado, municípios, governo federal, estadual.”