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quinta-feira, dezembro 25, 2025

Crítica | Superman: O Espectro de Kryptonita – Plano Crítico

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Quando “cores” são usadas como artifícios narrativos para trazer supostas novidades em histórias em quadrinhos de super-heróis, como os vários tons de Hulks, o arco-íris dos Lanternas e, claro, o prisma de pedras de kryptonita, confesso que imediatamente torço o nariz de maneira semelhante ao que faço quando variações multiversais dos mesmos personagens começam a aparecer na base de uma dúzia por ano. Por isso é que eu não sei bem o porquê de eu ter começado a ler Superman: O Espectro de Kryptonita, considerando que a minissérie em cinco edições do selo DC Black Label é justamente sobre a descoberta, pelo Homem de Aço, de quatro novos tipos de krytptonita. Mas ainda bem que acabei me interessando, pois a criação da mesma equipe por trás da extremamente bem-sucedida e incrivelmente longeva Ice Cream Man, da Image Comics, é um achado, talvez a melhor homenagem ao Azulão desde a clássica Grandes Astros: Superman.

Sem perder muito tempo com enrolações, o roteiro de W. Maxwell Prince já começa com os robôs do Superman localizando um meteoro oriundo de Krypton que contém quatro variações desconhecidas de kryptonita e levando-o para a Fortaleza da Solidão. Somando-se às já conhecidas kryptonitas verdes, vermelhas, pretas e douradas, eis que chegam, então, a roxa, a azul cobalto, a salpicada (speckled, em inglês) e a arco-íris, com o Superman arregimentando a ajuda do Batman para testar nele mesmo os efeitos das pedras, para desespero do Homem-Morcego que quer é incinerar todas imediatamente (mas provavelmente não sem antes recolher pequenas amostras…). O que poderia ser um artifício bobo para contar uma história em que cada capítulo lida com um efeito diferente no Superman acaba tornando-se uma bem engendrada narrativa que realça os valores do protagonista, sem deixar de, claro, abordar os personagens mais importantes que gravitam ao seu redor, notadamente Lois Lane, Jimmy Olsen e seu arqui-inimigo Lex Luthor que, não tenham dúvida, é fonte de muita dor de cabeça para todos os envolvidos nesses perigosos testes de novas kryptonitas.

É talvez importante dizer logo de cara, para fins de dosagem de expectativa, que Prince não leva sua história muito a sério e o texto é uma inteligente fusão de nonsense típico da Era de Ouro com um pouco de seriedade moderna, resultando em uma leitura agradável, por vezes hilária, outras vezes tensa, que faz do Superman aquilo que ele é, ou seja, um bastião do altruísmo, sempre colocando-se à frente de ameaças, por mais que ele saiba das consequências para si. O Batman, aqui, funciona como a voz da razão, o bom e velho “Grilo Falante” que tenta temperar as atitudes do Azulão, primeiro tentando ao máximo evitar que ele faça a experimentação e, depois, lutando para encontrar um meio-termo e reduzir os prejuízos normalmente causados por um Luthor oportunista, por sua vez caracterizado com um empresário invejoso, mas sobretudo mesquinho.

Não tenho nenhuma intenção de revelar os efeitos das quatro novas kryptonitas no Homem de Aço, pois descobrir o que acontece faz parte do processo, mas basta dizer que a primeira testada, a kryptonita roxa, existe muito mais para permitir ousadias narrativas do que para efetivamente prejudicar o Superman, com a segunda e a terceira basicamente “se cancelando” e a última… bem, a última é completamente inesperada e abre uma porta diferente para a HQ enveredar por um caminho que ninguém esperaria. Mas é claro que as kryptonitas “comuns”, notadamente a verde e a vermelha, dão as caras na minissérie, cortesia de Luthor cuja interferência no “processo científico” dos dois superamigos bagunça o coreto e permite que o caos se instale em Metropolis, abrindo oportunidades para participações especiais muito boas, seja de super-vilões, seja de super-heróis, especialmente a de Shazam que, curiosamente, é aqui chamado de Capitão Marvel por um Prince brincalhão que “burla” a proibição causada pelo registro do nome do personagem como marca pela Marvel Comics.

A arte estranha de Martín Morazzo, apesar de funcionar muito bem para Ice Cream Man, foi, para mim, um processo razoavelmente demorado de aclimatação e costume. Seu traços são… peculiares… com sua abordagem para os personagens parecendo muito mais caricaturas feias deles do que o exagero benigno, por assim dizer, de Frank Quitely na citada Grandes Astros: Superman. Se é fácil aceitar um Lex Luthor feio, o mesmo não pode ser dito de Superman e Batman e os dois são decididamente horrorosos nos traços de Morazzo, mas, curiosamente, na medida em que vamos virando as páginas, eles vão se fundindo com um pano de fundo lógico, com uma construção narrativa que de certa maneira até pede algo nessa linha mais desafiadora e menos nos conformes confortáveis do que estamos acostumados. Soma-se a isso o domínio que o desenhista argentino demonstra ter da manipulação de quadros e do uso inteligente das sarjetas, criando um visual que, com as cores primárias de Chris O’Halloran, resulta em um conjunto estranhamente harmônico, exatamente o que o texto de Prince parece pedir.

Com isso, uma premissa “de cores” que parecia ser apenas caça-níquel, não mais do que uma mera curiosidade, torna-se uma obra que é uma verdadeira carta e amor ao Superman, uma de suas raras histórias em que seus pontos fracos naturalmente se tornam sua força, sem que seja necessário enfrentar vilões ultrapotentes capazes de destruir o planeta inteiro em uma pancadaria honesta. W. Maxwell Prince bebe do clássico para fazer o moderno e Martín Morazzo materializa essas ideias com seus traços desafiadores e incomuns em uma história surpreendentemente sólida do Homem de Aço.

Superman: O Espectro de Kryptonita (Superman: The Kryptonite Spectrum – EUA, 2025)
Contendo: Superman: The Kryptonite Spectrum #1 a 5
Roteiro: W. Maxwell Prince
Arte: Martín Morazzo
Cores: Chris O’Halloran
Letras: Good Old Neon
Editoria: Jillian Grant, Paul Kaminski, Chris Conroy
Editora: DC Comics (DC Black Label)
Datas originais de publicação: 13 de agosto, 10 de setembro, 08 de outubro, 12 de novembro e 17 de dezembro de 2025
Páginas: 184



[Fonte Original]

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