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sexta-feira, dezembro 26, 2025

Os múltiplos riscos do baixo crescimento

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O Brasil entra em mais um fim de ano fazendo um balanço conhecido e desconfortável. A economia cresceu, mas em ritmo insuficiente para fazer o país romper o patamar das nações de renda média e enorme desigualdade social. O problema não é apenas a fotografia de um PIB modesto, e sim o filme longo de uma economia que cresce pouco por muitos anos seguidos.

Essa combinação tem efeitos corrosivos que vão muito além das estatísticas e ajudam a explicar por que o país patina justamente nas áreas que deveriam puxar o futuro, como tecnologia e transição energética, e por que espaços vêm sendo ocupados pelo crime organizado dentro da própria economia formal, justamente em setores debilitados pela falta de dinamismo.

Crescimento baixo e prolongado asfixia a capacidade de um país dar saltos tecnológicos. Inovação exige investimento contínuo, escala, financiamento de risco e previsibilidade. Quem alerta sobre os riscos da permanência desse quadro paradoxal é o economista José Roberto Mendonça de Barros.

Num ambiente em que empresas lutam para sobreviver, o horizonte é curto e o capital escasso. Investir em pesquisa, digitalização ou novos processos vira exceção, não regra. O resultado é uma economia que se moderniza aos solavancos, incapaz de disputar cadeias globais mais sofisticadas ou de criar campeões tecnológicos fora de nichos muito específicos.

O mesmo vale para a indústria. Sem crescimento consistente, ela perde densidade, cadeias produtivas se enfraquecem, e a aposta em valor agregado dá lugar à sobrevivência baseada em custos baixos e benefícios fiscais. O governo Lula fala em reindustrialização desde a posse, mas a verdade é que pouco avançou nessa agenda.

A transição energética, que deveria ser uma avenida de oportunidades para um país com matriz limpa e potencial em renováveis, também sofre para avançar além dos planos de governo. Esbarra, sobretudo, nas contradições da política, hesitante em abrir mão do velho desenvolvimentismo que faz o olho crescer quando surge uma nova fronteira de extração de petróleo como a Margem Equatorial.

Outro aspecto que, combinado a esse crescimento modesto, ajuda a explicar a vulnerabilidade da economia ao crime organizado é um arranjo de incentivos fiscais que se perenizam sem levar a resultados significativos. O ministro Fernando Haddad acertou no diagnóstico ao mirar no combate a esse cipoal de isenções e incentivos ineficazes que se perpetuam à base de pesados lobbies.

Muitos dos setores agraciados por essas políticas são justamente os infiltrados pelas facções criminosas: transporte, logística, combustíveis, resíduos, construção e serviços despontam na lista. Organizações criminosas prosperam justamente onde há baixa concorrência saudável, fiscalização falha e estruturas opacas. Capital ilícito entra como “solução” para empresas descapitalizadas, distorce preços e elimina concorrentes que jogam dentro da lei.

A perpetuação de benefícios fiscais mal calibrados contribui decisivamente para esse quadro. Incentivos que não são avaliados, não têm prazo claro para terminar e não exigem contrapartidas reais funcionam como renda garantida para setores pouco dinâmicos, que não inovam nem geram os encadeamentos prometidos. Ao reduzir artificialmente custos e aumentar a opacidade, esses regimes criam ambientes ideais para lavagem de dinheiro e captura por interesses que nada têm de produtivos. Mais grave: ao drenar recursos públicos, esses benefícios reduzem a capacidade do Estado de investir justamente nas áreas que poderiam destravar o crescimento — educação técnica, infraestrutura, ciência, transição energética. O círculo vicioso se fecha.

Romper esse ciclo exige mais que ajuste fiscal ou slogans desenvolvimentistas. Requer encarar o crescimento como política de Estado, mas conjugando responsabilidade fiscal e investimento em áreas estratégicas. Essa deveria ser uma plataforma importante de discussão na campanha de 2026, mas, até aqui, nem Lula nem os pré-candidatos da direita têm um plano consistente para atacar essas duas questões de forma sistemática.

[Fonte Original]

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