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segunda-feira, dezembro 29, 2025

Bolhas, “barata” e um salto de 367%: 11 trades que marcaram 2025 no mercado global

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Foi mais um ano de apostas de alta convicção — e de reversões rápidas.

De mesas de renda fixa em Tóquio e comitês de crédito em Nova York a traders de câmbio em Istambul, os mercados entregaram tanto ganhos inesperados quanto solavancos. O ouro bateu recordes. Gigantes tradicionais do financiamento imobiliário oscilaram como ações meme. Um carry trade clássico implodiu num piscar de olhos.

Investidores apostaram pesado em mudanças políticas, balanços inflados e narrativas frágeis, alimentando altas desproporcionais de ações, operações de yield superlotadas e estratégias em cripto baseadas em alavancagem, esperança e pouco mais do que isso. O retorno de Donald Trump à Casa Branca derrubou — e depois reanimou — os mercados financeiros ao redor do mundo, impulsionou ações de defesa na Europa e encorajou especuladores a inflamar uma mania atrás da outra. Algumas posições renderam ganhos espetaculares. Outras deram errado quando o momentum virou, o financiamento secou ou a alavancagem foi na direção errada.

À medida que o ano chega ao fim, a Bloomberg destaca algumas das apostas mais chamativas de 2025 — os acertos, os desastres e as posições que definiram a era. Muitas delas deixam investidores preocupados com linhas de fratura já conhecidas ao se prepararem para 2026: empresas frágeis, valuations esticados e operações que seguem tendências e funcionam — até deixarem de funcionar.

1. Cripto: “Trumpado”

Uma caricatura de Donald Trump com tokens de criptomoeda, retratada em frente à Casa Branca para marcar sua posse, em uma loja em Hong Kong. Fotógrafo: Paul Yeung/Bloomberg

Parecia uma das apostas de momentum mais atraentes do mercado cripto: comprar tudo o que estivesse ligado à marca Trump. Durante a campanha presidencial e após assumir o cargo, Trump foi com tudo nos ativos digitais — defendendo reformas amplas e nomeando aliados do setor para agências poderosas. Sua família entrou na onda, promovendo moedas e empresas cripto que traders trataram como combustível político.

A “franquia” se formou rápido. Horas antes da posse, Trump lançou uma memecoin e a promoveu nas redes sociais. A primeira-dama Melania Trump logo seguiu com seu próprio token. Mais tarde no ano, a World Liberty Financial, ligada à família Trump, tornou negociável o token WLFI e o disponibilizou para investidores de varejo. Vieram então operações associadas ao entorno de Trump. Eric Trump cofundou a American Bitcoin, mineradora listada em bolsa que abriu capital por meio de uma fusão em setembro.

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Cada estreia gerou um rali. Cada uma se mostrou passageira. Em 23 de dezembro, a memecoin de Trump patinava, com queda superior a 80% em relação ao pico de janeiro. A de Melania recuava quase 99%, segundo o CoinGecko. A American Bitcoin havia caído cerca de 80% desde o topo de setembro.

A política deu impulso às operações. As leis da especulação puxaram os preços de volta para baixo. Mesmo com um aliado na Casa Branca, essas apostas não escaparam ao padrão central do mercado cripto: preços sobem, a alavancagem entra em massa e a liquidez seca. O bitcoin, ainda o principal termômetro do setor, caminha para fechar o ano em queda após recuar do pico de outubro. Para os ativos ligados a Trump, a política ofereceu momentum, mas não proteção. — Olga Kharif

2. Aposta em IA: o próximo Big Short?

Michael Burry (Foto: Divulgação/Regency Enterprises)

A operação apareceu em um registro regulatório de rotina, mas o efeito esteve longe de ser trivial. A Scion Asset Management informou em 3 de novembro que detinha opções de venda (puts) de proteção em Nvidia Corp. e Palantir Technologies Inc. — ações no centro da tese de inteligência artificial que sustenta o rali do mercado há três anos. Embora não seja um hedge fund “gigante”, a Scion atrai atenção por causa de quem a comanda: Michael Burry, que ganhou fama como “profeta do mercado” no livro e no filme The Big Short, sobre a bolha imobiliária que levou à crise de 2008.

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Os preços de exercício chamaram atenção: o da Nvidia estava 47% abaixo do nível em que a ação havia fechado, enquanto o da Palantir estava 76% abaixo. Mas restou um mistério: devido a exigências limitadas de divulgação, não ficou claro se as puts — contratos que dão ao investidor o direito de vender uma ação a um determinado preço até certa data — faziam parte de uma estrutura mais complexa. E o documento trouxe apenas um retrato da carteira da Scion em 30 de setembro, deixando em aberto a possibilidade de que Burry tenha reduzido ou encerrado as posições desde então. Ainda assim, o ceticismo sobre valuations elevados e planos de investimento bilionários dos principais players de IA vinha se acumulando como lenha seca. A divulgação de Burry caiu como um fósforo aceso.

A Nvidia, maior ação do mundo em valor de mercado, caiu na reação inicial, assim como a Palantir, embora ambas tenham recuperado parte das perdas depois. O Nasdaq também recuou.

É impossível saber exatamente quanto Burry ganhou. Uma pista foi um post no X em que ele disse ter pago US$ 1,84 pelas puts da Palantir; essas opções chegaram a subir até 101% em menos de três semanas. O documento cristalizou dúvidas que fervilhavam sob um mercado dominado por um grupo restrito de ações ligadas à IA, fortes fluxos passivos e volatilidade contida. Seja a aposta visionária ou prematura, ela ressaltou como até as narrativas mais dominantes podem virar rapidamente quando a crença começa a rachar. — Michael P. Regan

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3. Ações de defesa: nova ordem mundial

Presidente americano, Donald Trump em encontro do líder ucraniano, Volodymir Zelensky, na Casa Branca – REUTERS/Kevin Lamarque

Uma mudança geopolítica levou a ganhos expressivos em um setor antes visto como tóxico por gestores: a defesa europeia. Os planos de Trump de reduzir o financiamento ao esforço militar da Ucrânia colocaram governos europeus em modo de ampliação de gastos, impulsionando as ações de empresas do setor — do rali de cerca de 150% da alemã Rheinmetall AG no ano até 23 de dezembro à alta superior a 90% da italiana Leonardo SpA no período.

Gestores que antes viam o setor como controverso demais, em meio a preocupações ambientais, sociais e de governança (ESG), mudaram de postura, e alguns fundos chegaram a redefinir seus mandatos.

“Havíamos retirado defesa de nossos fundos ESG até o início deste ano”, disse Pierre Alexis Dumont, diretor de investimentos da Sycomore Asset Management. “Houve uma mudança de paradigma, e quando há uma mudança de paradigma é preciso ser responsável e também defender seus valores. Por isso, estamos focando em armas defensivas.”

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De fabricantes de óculos de proteção a produtores químicos, e até uma gráfica, ações foram compradas em uma corrida frenética. Um cesto da Bloomberg de ações de defesa europeias subia mais de 70% no ano até 23 de dezembro. O boom também se espalhou para os mercados de crédito, com empresas apenas tangencialmente ligadas à defesa atraindo multidões de potenciais financiadores. Bancos chegaram a vender “European Defence Bonds” (títulos de defesa europeia, com recursos carimbados), inspirados nos green bonds, mas neste caso destinados a tomadores como fabricantes de armas. Isso marcou uma reprecificação da defesa como bem público, e não como passivo reputacional — e lembrou que, quando a geopolítica muda, o capital tende a se mover mais rápido do que a ideologia. — Isolde MacDonogh

4. Aposta no debasement: fato ou ficção?

Um funcionário conta notas de dólar americano em uma casa de câmbio em Nova Délhi, Índia, no sábado, 30 de agosto de 2025. Fotógrafo: Prakash Singh/Bloomberg

A elevada dívida em grandes economias como Estados Unidos, França e Japão — e a falta de apetite político para enfrentá-la — levou alguns investidores em 2025 a promover ouro e ativos alternativos como cripto, ao mesmo tempo em que esfriou o entusiasmo por títulos públicos e pelo dólar. A ideia ganhou tração sob um rótulo pessimista: o debasement trade, referência a episódios históricos em que governantes, como Nero, diluíram o valor do dinheiro para lidar com estresse fiscal.

A narrativa chegou ao auge em outubro, quando preocupações com o cenário fiscal dos EUA se somaram ao mais longo shutdown do governo já registrado. Investidores buscaram refúgio além do dólar. Naquele mês, ouro e bitcoin subiram a recordes — um momento raro para ativos frequentemente tratados como rivais.

Como história, a desvalorização ofereceu uma explicação simples para um pano de fundo macro confuso. Como operação, foi mais complicada. O bitcoin caiu desde então, em meio a um recuo mais amplo das criptomoedas. O dólar se estabilizou em alguma medida. Os Treasuries, longe de desabar, caminham para o melhor ano desde 2020 — um lembrete de que temores de erosão fiscal podem coexistir com forte demanda por ativos seguros, especialmente quando o crescimento desacelera e os juros atingem o pico.

Em outros mercados, a dinâmica de preços contou uma história diferente. Oscilações em metais de cobre a alumínio, e até prata, foram impulsionadas tanto pelas políticas tarifárias de Donald Trump e por forças macro quanto por preocupações com desvalorização cambial, borrando a linha entre proteção contra inflação e choques clássicos de oferta. O ouro, por sua vez, seguiu avançando e atingiu novas máximas históricas. Nesse canto do mercado, a aposta na desvalorização resistiu — menos como um julgamento amplo sobre moedas fiduciárias e mais como uma aposta focada em juros, política e proteção. — Richard Henderson

5. Ações coreanas: K-pop

O presidente sul-coreano Lee Jae Myung responde à pergunta de um repórter durante uma coletiva de imprensa para marcar o primeiro aniversário da declaração da lei marcial de 3 de dezembro de 2024 pelo ex-presidente Yoon Suk Yeol, na Casa Azul em Seul, Coreia do Sul, em 3 de dezembro de 2025. REUTERS/Kim Hong-Ji

Dê licença, K-drama. Quando o assunto são reviravoltas e emoção, é difícil superar o que aconteceu este ano na bolsa da Coreia do Sul. Impulsionado pelos esforços do presidente Lee Jae Myung para fortalecer os mercados de capitais do país, o índice de referência disparou mais de 70% em 2025 até 22 de dezembro, avançando rumo à meta simbólica de 5.000 pontos e liderando o ranking entre os principais índices globais.

É raro ver um líder político estabelecer publicamente um nível de índice como objetivo, e a campanha “Kospi 5000” de Lee recebeu pouca atenção quando foi anunciada. Agora, mais bancos de Wall Street, incluindo JPMorgan Chase & Co. e Citigroup Inc., avaliam que o objetivo é alcançável em 2026, ajudados em parte pelo boom global de IA, que elevou a demanda por ações sul-coreanas como a principal aposta asiática em inteligência artificial.

Há, porém, uma ausência notável no rali do Kospi: o investidor local de varejo. Embora Lee frequentemente lembre aos eleitores que já foi investidor pessoa física antes de entrar para a vida pública, sua agenda de reformas ainda não convenceu os domésticos de que o mercado é uma aposta duradoura de compra e manutenção. Mesmo com a entrada de capital estrangeiro, pequenos investidores locais foram vendedores líquidos, direcionando um recorde de US$ 33 bilhões para ações nos EUA e buscando apostas de maior risco, de cripto a ETFs alavancados no exterior.

Um efeito colateral foi a pressão sobre a moeda. Com a saída de capital, o won se desvalorizou, lembrando que até ralis espetaculares de ações podem esconder ceticismo persistente em casa. — Youkyung Lee

6. Duelo do Bitcoin: Chanos vs. Saylor

Michael Saylor e Jim Chanos (Foto: Reprodução/Strategy e Bloomberg TV)

Toda história tem dois lados. No caso da arbitragem do vendedor a descoberto Jim Chanos envolvendo o acumulador de Bitcoin (BTC) Michael Saylor, da Strategy Inc., havia também duas figuras de peso e uma operação que rapidamente virou um referendo sobre o capitalismo da era cripto.

No início de 2025, com o bitcoin em disparada e as ações da Strategy nas alturas, Chanos viu uma oportunidade. O rali da Strategy havia esticado o prêmio da ação em relação às reservas de bitcoin da empresa, algo que o investidor considerou insustentável. Ele decidiu então vender Strategy a descoberto e comprar bitcoin, anunciando a estratégia em maio, quando o prêmio ainda era elevado.

Chanos e Saylor passaram a trocar farpas publicamente. “Não acho que ele entenda qual é o nosso modelo de negócios”, disse Saylor à Bloomberg TV em junho sobre Chanos, que, por sua vez, chamou as explicações de Saylor de “completo disparate financeiro” em um post no X.

As ações da Strategy atingiram um recorde em julho, acumulando alta de 57% no ano, mas à medida que o número de chamadas empresas de tesouraria em ativos digitais explodiu e os preços de tokens cripto recuaram dos picos, os papéis da Strategy — e de suas imitadoras — começaram a sofrer, e o prêmio em relação ao bitcoin diminuiu. A aposta de Chanos passou a dar resultado.

Do momento em que Chanos tornou pública a posição vendida até 7 de novembro, data em que disse ter encerrado a operação, as ações da Strategy caíram 42%. Além do resultado, o episódio ilustrou um padrão recorrente de boom e bust no universo cripto: balanços inflados pela confiança, e confiança sustentada por preços em alta e engenharia financeira. Funciona até a crença vacilar — quando o prêmio deixa de ser um diferencial e passa a ser o problema. — Monique Mulima

7. Títulos japoneses: de widowmaker a rainmaker

O presidente do Banco do Japão, Kazuo Ueda, durante entrevista em Tóquio (Foto: Kim Kyung-Hoon/Reuters)

Se houve uma aposta que repetidamente queimou investidores macro nas últimas décadas, foi a famosa widowmaker (trade com perda catastrófica) contra títulos japoneses. O raciocínio parecia simples. O Japão carrega uma dívida pública gigantesca, então a lógica era que os juros teriam de subir mais cedo ou mais tarde para atrair compradores. Assim, investidores tomavam títulos emprestados e os vendiam, esperando que os preços caíssem quando a realidade se impusesse. Por anos, porém, essa lógica se mostrou prematura e custosa, já que a política monetária frouxa do banco central manteve o custo de financiamento baixo e puniu quem tentou antecipar o desfecho. Não mais.

Em 2025, a widowmaker virou rainmaker (trade com ganho gigantesco), com os yields dos principais títulos públicos disparando, transformando o mercado japonês de US$ 7,4 trilhões em um sonho para vendedores a descoberto. Os gatilhos foram de aumentos de juros ao primeiro-ministro Sanae Takaichi liberar a maior rodada de gastos do país desde o fim das restrições da pandemia. Os yields dos JGBs (títulos públicos japoneses) de 10 anos passaram de 2%, atingindo níveis não vistos há décadas, enquanto os papéis de 30 anos avançaram mais de um ponto percentual e chegaram a máxima histórica. Um índice da Bloomberg de retorno dos títulos do governo japonês caía mais de 6% no ano até 23 de dezembro, o pior desempenho entre os grandes mercados do mundo.

Gestores de casas como Schroders, Jupiter Asset Management e RBC BlueBay Asset Management discutiram vender JGBs de alguma forma ao longo do ano, e investidores e estrategistas apostam que a operação ainda tem espaço, à medida que a taxa básica avança. Além disso, o Banco do Japão vem reduzindo suas compras de títulos, pressionando os yields. E, com o país exibindo de longe a maior relação dívida/PIB do mundo desenvolvido, o viés baixista para JGBs tende a persistir. — Cormac Mullen

8. Disputas no crédito: jogar duro compensa

(Foto: Divulgação/Amsurg)

Alguns dos maiores ganhos em crédito de 2025 não vieram de apostas em recuperação, mas de enfrentar outros investidores. A dinâmica, conhecida como “violência entre credores” (creditor-on-creditor violence), rendeu alto para fundos como a Pimco e a King Street Capital Management, que conduziram uma campanha calculada em torno da Envision Healthcare, apoiada pela KKR.

Quando a Envision, empresa de serviços hospitalares, naufragou após a pandemia de Covid-19, precisou de um empréstimo de novos investidores. Mas captar nova dívida exigia oferecer como garantia ativos já comprometidos. Enquanto muitos detentores de dívida se organizaram para barrar o novo financiamento, Pimco, King Street e Partners Group romperam o bloco. O apoio deles viabilizou uma votação que permitiu liberar o colateral — uma participação na valiosa operação de cirurgias ambulatoriais Amsurg — dos credores antigos e usá-lo para lastrear a nova dívida.

Os fundos passaram a deter dívida lastreada na Amsurg, que acabou convertida em participação acionária. Depois, a Amsurg foi vendida à Ascension Health neste ano por US$ 4 bilhões. Os fundos que contrariaram seus pares geraram retornos em torno de 90%, segundo uma métrica, mostrando o potencial de tais disputas internas. A lição: nos mercados de crédito atuais, marcados por documentação frouxa e grupos de credores fragmentados, cooperação é opcional. Estar certo nem sempre basta. O maior risco é ser ultrapassado.

9. Fannie e Freddie: a vingança das “gêmeas tóxicas”

Bill Ackman (Foto: Reprodução/Instagram)

Fannie Mae e Freddie Mac, gigantes do financiamento imobiliário sob controle do governo americano desde a crise financeira, há muito são alvo de especulação sobre quando e como seriam libertadas do controle de Washington. Entusiastas como o gestor de hedge fund Bill Ackman compraram ações das duas na esperança de lucrar com um plano de privatização, mas os papéis passaram anos estagnados no mercado de balcão, enquanto o status quo prevalecia.

Então veio a reeleição de Donald Trump, que lançou as ações em uma euforia quase de meme, com a expectativa de que a nova administração tomaria medidas para liberar as empresas. Em 2025, o entusiasmo aumentou ainda mais: os papéis subiram 367% do início do ano até o pico em setembro e seguem entre os grandes vencedores de 2025.

O que levou o movimento ao ápice foi a notícia, em agosto, de que a administração avaliava um IPO que poderia valorar as empresas em cerca de US$ 500 bilhões ou mais, com a venda de 5% a 15% das ações para levantar aproximadamente US$ 30 bilhões. Embora os papéis tenham oscilado desde o pico de setembro diante do ceticismo sobre quando — e se — a oferta de fato ocorrerá, muitos seguem confiantes na tese.

Em novembro, Ackman apresentou uma proposta à Casa Branca que prevê o relistamento da Fannie e da Freddie na Bolsa de Nova York, a redução da participação preferencial sênior do Tesouro e o exercício da opção do governo de adquirir quase 80% das ações ordinárias. Até Michael Burry entrou na história, anunciando uma posição otimista no início de dezembro e sugerindo, em um blog de 6.000 palavras, que as empresas que um dia precisaram do governo para evitar a insolvência talvez não sejam mais “gêmeas tóxicas”.

10. Carry trade na Turquia: pegos de surpresa

Estudantes universitários exibem bandeiras e cartazes turcos durante uma manifestação após a prisão de Ekrem Imamoglu, prefeito de Istambul. Fotógrafo: Kerem Uzel/Bloomberg

O carry trade turco era o favorito do consenso entre investidores de emergentes após um 2024 estelar. Com yields dos títulos locais acima de 40% e um banco central sustentando uma âncora cambial do dólar, traders entraram em peso — captando barato no exterior para comprar ativos turcos de alto rendimento. Isso atraiu bilhões de dólares de casas como Deutsche Bank, Millennium Partners e Gramercy — algumas delas em solo turco em 19 de março, dia em que a operação implodiu em minutos.

Foi naquela manhã que a polícia turca fez uma operação na casa do popular prefeito de oposição de Istambul e o levou sob custódia, desencadeando protestos — e uma venda frenética da lira que o banco central não conseguiu conter. “As pessoas foram pegas completamente de surpresa e não vão voltar tão cedo”, disse à época Kit Juckes, chefe de estratégia de câmbio da Société Générale, em Paris.

Ao fim do dia, as saídas de ativos denominados em lira eram estimadas em cerca de US$ 10 bilhões, e o mercado nunca se recuperou de fato. Em 23 de dezembro, a lira acumulava desvalorização de cerca de 17% frente ao dólar no ano, um dos piores desempenhos globais. O episódio lembrou que juros altos podem recompensar quem assume risco, mas não oferecem proteção contra choques políticos repentinos.

11. Mercados de dívida: alerta de “barata”

O JPMorgan foi prejudicado por um “problema de crédito” e Jamie Dimon alertou que pode haver mais. Fotógrafa: Eva Marie Uzcategui/Bloomberg

Os mercados de crédito em 2025 não foram abalados por um único colapso espetacular, mas por uma sequência de episódios menores que expuseram hábitos incômodos. Empresas antes vistas como tomadoras rotineiras de crédito entraram em dificuldades, deixando credores com perdas expressivas.

A Saks Global reestruturou US$ 2,2 bilhões em títulos após pagar apenas um cupom, e a dívida reestruturada agora negocia abaixo de 60 centavos por dólar. Os títulos recém-trocados da New Fortress Energy perderam mais da metade do valor ao longo de um ano. As falências da Tricolor e, depois, da First Brands eliminaram bilhões em posições de dívida em poucas semanas. Em alguns casos, fraudes sofisticadas estiveram na raiz do colapso. Em outros, projeções otimistas não se concretizaram. Em todos, investidores tiveram de responder por como justificaram grandes apostas de crédito em empresas com pouca ou nenhuma evidência de que conseguiriam pagar suas dívidas.

Anos de inadimplência baixa e dinheiro barato corroeram padrões, de proteções aos credores a análises básicas de risco. Credores tanto da First Brands quanto da Tricolor não identificaram que os tomadores supostamente davam o mesmo ativo em garantia mais de uma vez e misturavam colaterais que lastreavam diferentes empréstimos.

Entre esses credores estava o JPMorgan, cujo CEO, Jamie Dimon, soou o alerta em outubro ao advertir, de forma colorida: “Quando você vê uma barata, provavelmente há mais.”

©️2025 Bloomberg L.P.

[Fonte Original]

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