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quarta-feira, dezembro 31, 2025

Da política à moda: as perspectivas dos editores do GLOBO em oito áreas

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No Rio, no Brasil e no mundo, 2026 apresenta um extenso cardápio de desafios mas também de inovações, avaliam editores do GLOBO, em artigos sobre as perspectivas para o ano que chega logo mais. Na corrida presidencial, a polarização pode ofuscar debates relevantes, como a segurança, crucial para o Rio, que não pode ver adiadas a retomada de territórios e a apuração sobre a ligação entre crime e política. O nó fiscal permanece para ser desatado, mas a Inteligência Artificial promete aprofundar revoluções aqui e lá fora_ não só econômicas, mas na vida cotidiana, na ciência e no acesso à saúde. A investida de Donald Trump na América Latina é o ponto de atenção geopolítico, mas a torcida é que os EUA só nos tragam vitórias: da seleção, na Copa, e mais uma vez em Hollywood, no Oscar.

Especial 2026 – Política e Brasil — Foto: Arte GLOBO

POLÍTICA E BRASIL: Polarização ditará o ritmo, e Centrão saberá sobreviver

EM CENÁRIO MARCADO PELO IMPONDERÁVEL, DIREITA E ESQUERDA DOMINARÃO DISCUSSÕES. NEM SEMPRE DA MANEIRA SAUDÁVEL

Vem aí mais uma Copa do Mundo do jornalismo político, a décima corrida presidencial desde a redemocratização. Assim como ensinou o técnico Renato Paiva após a surpreendente vitória do Botafogo contra o PSG em junho, o cemitério das eleições — como o do futebol — está cheio de favoritos. Falar em incerteza e imprevisibilidade soa a análise clichê, mas como ignorar o imponderável recente que permeou a trajetória dos dois maiores protagonistas políticos do Brasil no século?

Três anos antes do triunfo que o levou ao terceiro mandato em 2022, Lula (PT) estava preso em Curitiba pela Lava-Jato e com a vida pública encerrada pelos analistas. Nas semanas que antecederam o primeiro turno de 2018, Jair Bolsonaro (PL) era um azarão levado pouco a sério pela imprensa até sofrer um atentado em Juiz de Fora, disparar nas pesquisas e vencer a eleição.

Embora hoje seja o ex-presidente — e não mais o petista — tido como morto politicamente após a prisão, acredite, leitor: será mais um ano em que Lula e Bolsonaro polarizarão os debates igual Flamengo e Palmeiras monopolizaram o futebol brasileiro nos últimos anos. Enquanto duas finais de Libertadores foram decididas no detalhe, com uma vitória para cada lado, a disputa entre direita e esquerda tende ao mesmo caminho. Não haverá goleada nas urnas em 2026 — e o Centrão, craque para estes momentos-chave, saberá sair fortalecido mais uma vez independente de que lado esteja.

A polarização ditará os debates. Muitas vezes, de maneira tóxica. O discurso antissistêmico populista será usado pela direita atacando o Judiciário e pela esquerda encurralando o Congresso. Outras vezes, o antagonismo será saudável. É ótimo que haja divergências de ideias na economia, na educação, no meio ambiente e, principalmente, na segurança. O tema promete dominar as discussões entre candidatos.

Thiago Prado – Editor de Política e Brasil

Especial 2026 - Economia — Foto: Arte GLOBO
Especial 2026 – Economia — Foto: Arte GLOBO

ECONOMIA: Inovações estruturais no Brasil e no mundo

REFORMA TRIBUTÁRIA MUDA POR COMPLETO RELAÇÃO DO BRASILEIRO COM OS IMPOSTOS. INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL É OPORTUNIDADE E RISCO

As eleições presidenciais serão o grande assunto em 2026 também na economia, com seus previsíveis impactos de maior volatilidade no dólar e na Bolsa, e seus efeitos sazonais na atividade econômica. De quatro em quatro anos é assim. O déficit público seguirá como o maior gargalo para um crescimento sustentável do PIB. Desde o fim da hiperinflação,nos anos 1990, isso é um problema cuja solução tem sido procrastinada no Brasil. Mas é preciso olhar o quadro mais amplo.

O ano de 2026 será marcado, na economia, por duas grandes novações estruturais, uma no Brasil, outra global. Por aqui, entrará em vigor a Reforma Tributária, que mudará por completo a sistemática da cobrança de impostos. A transição para o novo modelo vai até 2033, mas desde já ficará mais fácil combater a sonegação. Empresas serão mais eficientes. E contribuintes terão a informação clara sobre o quanto pagam de impostos. É um ganho econômico, mas também de accountabilitysocial: saber o quanto se paga de tributos facilita cobrar resultados dos governos; reduz o déficit democrático. No cenário global, a inovação virá da tecnologia.

A inteligência artificial (IA) vai se inserir ainda mais no cotidiano do trabalho e da vida pessol, proporcionando ganhos de produtividade que, preveem economistas, devem reduzir ainflação e acelerar o corte de juros nos EUA e no mundo. O outro lado da moeda é que o otimismo exacerbado com a IA pode estar criando uma bolha financeira que, como toda bolha, ninguém sabe se e quando vai estourar.

Como toda nova tecnologia, a IA também já aprofundou as enormes desigualdades no mundo, turbinando a fortunade pouquíssimos bilionários eameaçando o emprego de mi-lhares. Esta sim, a concentração de renda, é o grande desafio da economia, brasileira e mundial, dos nossos tempos.

Luciana Rodrigues é editora de Economia

Especial 2026 - Rio — Foto: Arte GLOBO
Especial 2026 – Rio — Foto: Arte GLOBO

RIO: Infiltração do crime na política deve ser estancada

EM ANO DE PROMESSA DE RETOMADA DE TERRITÓRIOS SOB CONTROLE DO TRÁFICO E DA MILÍCIA, INSTITUIÇÕES DO ESTADO TAMBÉM PRECISAM SE LIVRAR DE CV E AFINS

A batalha para combate ao crime arraigado na política do Rio mudou. Não raramente os fluminenses se lembravam dos versos “Se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão”, do Originais do Samba, quando explodiam escândalos de corrupção que saqueavam cofres públicos. Agora, o papo inclui facções como o

Comando Vermelho. As investigações sobre a infiltração desses grupos na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e em diferentes núcleos do poder exigem que, em 2026, além do rigor com os que desviam verbas, os esforços se concentrem em quebrar as estruturas que ligam tráfico e milícia às insti- tuições do Estado.

É urgente identificar, em todos os escalões, os elos estabelecidos, custe quem custar. O ano começa ainda com o desafio de concretizar promessas de ações entre União e governos locais para atacar atividades econômicas que financiam organizações criminosas. A eleição que se aproxima é um dificultador. Mas não deve estar acima da tarefa de interromper operações como a lavagem de dinheiro das quadrilhas, um dos crimes pelos quais é acusado o ex-deputado TH Jóias, preso em setembro.

Em outra vertente, o momento tampouco permite que projetos como o da retomada de territórios sob controle dos bandos armados, entregue este mês pelo governo do Rio ao STF, sejam capturados por falácias eleitorais. A história demonstra que o cerne do problema não se soluciona com incursões policiais isoladas nem com megaoperações como a de outubro, que deixou 122 mortos nos complexos da Penha e do Alemão.

Todo cidadão tem direito a acesso pleno a serviços e a infraestruturas do Estado. É o chamamento — com resultados a longo prazo — que 2026 faz à sociedade civil, aos órgãos públicos, à academia, ao setor privado e, claro, aos políticos as e o futuro do Rio.

Rafael Galdo é editor da Rio

Especial 2026 - Mundo — Foto: Arte GLOBO
Especial 2026 – Mundo — Foto: Arte GLOBO

MUNDO: Pressão sobre Venezuela expõe perspectiva latino-americana

NENHUM PAÍS DEVE PASSAR INCÓLUME POR OBJETIVO DE TRUMP DE AFASTAR CHINA DOS RECURSOS DE REGIÃO QUE VÊ COMO ‘SEU QUINTAL’

Desde que assumiu seu segundo mandato há quase um ano, o presidente dos EUA, Donald Trump, impulsionou tentativas de paz na Ucrânia e em Gaza, mas é a pressão militar sobre a Venezuela, iniciada com os nada pacíficos ataques —vistos como execuções extrajudiciais — contra supostos Narcotraficantes em barcos, que dá o tom do que esperar em 2026 na região de nosso interesse: a América Latina.

Prioritário na Estratégia de Segurança Nacional dos EUA Divulgada no início de dezembro, o Hemisfério Ocidental se insere na visão Realista de Relações Internacionais do governo Trump, com a força e a coerção sendo instrumentos para exercer poder e tentar afastar de “seu quintal” a China, com quem se vê em uma disputa por hegemonia.

Se no início da pressão militar o argumento contra o regime de Nicolás Maduro era odo narcotráfico, usado também em ameaças nada veladas à Colômbia e ao México, o bloqueio naval imposto no último dia 16 explicitou o interesse-chave de Washington: o petróleo venezuelano, que corresponde a 17% das reservas mundiais, as maiores do mundo.

A China, que atualmente compra 80% do petróleo do país, atraiu um total alinhamento geopolítico de Caracas e é credora de uma dívida de US$ 60 bilhões — o que, na prática, “hipoteca” os recursos energéticos venezuelanos para Pequim, como pontuou o diplomata venezuelano Alfredo Toro Hardy ao colunista do GLOBO Marcelo Ninio.

Com esse pano de fundo, em que Pequim também disputa influência por ver a América Latina como parte do Sul Global, ninguém passará incólume. A belicosidade americana sobre Maduro é apenas o movimento mais explícito em um jogo de tabuleiro maior, em que as eleições presidenciais de 2026 no Brasil, na Colômbia e no Peru também serão peças fundamentais.

Leda Balbino é editora de Mundo

Especial 2026 - Saúde — Foto: Arte GLOBO
Especial 2026 – Saúde — Foto: Arte GLOBO

SAÚDE: Avanço contra a obesidade e IA na criação de novas drogas

NOVA GERAÇÃO DOS ANÁLOGOS DO GLP-1 E TECNOLOGIA, SE BEM UTILIZADAS, SERÃO BOAS FERRAMENTAS PARA CUIDAR DA SAÚDE EM 2026

Uma das coisas mais valiosas na área de saúde é poder dar uma notícia boa. Seja qual for o tipo de acontecimento, ele sempre ganha grandes proporções por esbarrar, de uma forma ou de outra, em questões basilares referentes à vida e à morte de muita gente. Em 2026, um dos assuntos mais relevantes será o da obesidade, fator de risco grave para doenças, como câncer, depressão, problemas cardiovasculares e hepáticos. Teremos um ano com um arsenal médico jamais visto até então contra a condição que já afeta três a cada dez brasileiros adultos.

Os análogos do GLP-1, as chamadas “canetinhas emagrecedoras”, que agem aumentando os níveis de saciedade, sofrerão uma evolução. Novas opções de injetáveis chegarão ainda mais eficazes e com menos efeitos colaterais. Esse tipo de remédio ficará mais acessível. A patente da droga com o princípio ativo semaglutida está prevista para cair em março, barateando o custo. O ano de 2026 trará também boas novas em outras áreas, como uma frente no tratamento para insônia e a chegada de novas vacinas. A IA aplicada com responsabilidade vai conquistar mais espaço na criação de drogas, no dia a dia hospitalar, na comunicação com populações remotas e na humanização da relação entre médicos e pacientes.

Mas em meio a um 2026 com novidades concretas, há um ponto, não tão exato quanto o da ciência dos medicamentos e da tecnologia, que tem de ser lembrado a cada dia que virá. É fundamental tentarmos lidar com a saúde de uma maneira leve, sem cair em regras que defendem corpos e estados de espíritos inatingíveis. Respeite seus limites, valorize-se. É o que mais desejo para você, leitor, para o ano mmito legal que vai começar.

Adriana Dias Lopes é editora de Saúde

Especial 2026 - Esportes — Foto: Arte GLOBO
Especial 2026 – Esportes — Foto: Arte GLOBO

ESPORTES: Um novo ano que começa em modo Copa

NOVO MUNDIAL, BRASIL EM JEJUM HISTÓRICO E UM CALENDÁRIO QUE PROMETE MUDAR O JOGO SÃO AS EXPECTATIVAS PARA 2026

Quando é ano de Copa do Mundo, o esporte costuma entrar em modo automático no quesito expectativa. A agenda gira em torno do torneio, o debate se concentra na seleção e todo o resto vira pano de fundo. Em 2026, isso também vai acontecer. Mas com um detalhe importante: não será apenas mais um Mundial. Será uma Copa diferente de todas as anteriores — e um ano esportivo diferente do que o Brasil está acostumado a viver.

O Mundial dos Estados Unidos, México e Canadá (numa inédita sede tripla), estreia um formato inédito: 48 seleções, mais partidas, uma fase eliminatória a mais e um torneio pensado para um público global ainda maior. Isso amplia o mapa do futebol, traz novos países para o centro da cena e muda a lógica da competição desde o primeiro dia. É uma Copa maior, mais longa e com impacto direto na forma de acompanhar, cobrir e consumir futebol.

No centro dessa expectativa está, claro, a seleção brasileira. Em 2026, o Brasil chega ao maior jejum de títulos de sua história: 24 anos sem vencer uma Copa do Mundo, igualando o intervalo entre 1970 e 1994. A curiosidade aumenta com a presença do italiano Carlo Ancelotti no comando técnico. Pela primeira vez, um treinador estrangeiro e multicampeão europeu pode liderar a seleção em um Mundial — uma ruptura histórica que carrega risco, expectativa e simbolismo.

Mas o ano não começa em junho. Começa em janeiro. O futebol brasileiro estreia um novo calendário da CBF, com Campeonato Brasileiro antecipado, estaduais mais curtos e uma Copa do Brasil redesenhada. A tentativa é atacar um dos maiores gargalos do esporte no país: o calendário, falta de datas e excesso de jogos.

Thales Machado é editor de Esportes

Especial 2026 - Ela — Foto: Arte GLOBO
Especial 2026 – Ela — Foto: Arte GLOBO

ELA: 2026: o ano da retomada da moda no Rio

O QUE O ANÚNCIO DA FASHION WEEK CARIOCA, MARCADA PARA ABRIL, PÍER MAUÁ, SIGNIFICA PARA O SETOR

Após um hiato de dez anos, a Prefeitura do Rio anunciou, no último dia 16, a volta da semana de moda à cidade. O Rio Fashion Week (RIOFW) acontecerá de 15 a 18 de abril de 2026, no Píer Mauá, reunirá entre 24 e 30 grifes, e tem a ambição de gerar um impacto econômico de R$ 200 milhões e criar oito mil empregos diretos e indiretos.

Na esteira dos grandes eventos gastronômicos, dos megashows internacionais e do hype da Rua do Senado (eleita a melhor do mundo pela revista Time Out), a notícia chega em um ótimo momento para o Rio. Mas reproduz um mecanismo perigoso da moda nacional, que levou ao fim do Fashion Rio e à derrocada de Eloísa Simão na década passada: a ideia de que paulistas entendem mais do Rio do que os próprios cariocas.

Escolhido pela IMM, empresa de esportes e entretenimento à frente do RIOFW, Paulo Borges, diretor da São Paulo Fashion Week, será também o diretor criativo da semana de moda do Rio. Ele jura que valorizará a mão de obra local, mas já chegou à coletiva de imprensa no Palácio da Cidade com assessores, vieses e hábitos paulistanos. Palavra de quem nasceu lá e passou boa parte vida se dividindo entre a sobriedade de Glória Coelho e o colorido da Farm.

Rio merece uma semana de moda consistente, com as melhores etiquetas de Norte a Sul do país, o fomento a novos talentos e iniciativas de qualificação de jovens para o mercado. Para projetar a cidade e a moda brasileira no mercado internacional, não podemos ser apenas uma maravilha de cenário.

Se tudo correr bem, 2026 será, definitivamente, o ano da moda no Rio.

Marina Caruso é editora do Ela

Especial 2026 - Cultura — Foto: Arte GLOBO
Especial 2026 – Cultura — Foto: Arte GLOBO

CULTURA: Torcida renovada nas premiações do cinema

ANO JÁ INICIA COM GRANDE EXPECTATIVA EM TORNO DA PERFORMANCE DE BRASILEIROS NO GLOBO DE OURO E NO OSCAR

Parece que foi ontem que parte do Brasil parou para torcer, em pleno domingo de carnaval, para Fernanda Torres e “Ainda estou aqui” no Oscar. A atriz, que já tinha conquistado um inédito Globo de Ouro como melhor atriz em filme de drama, não levou a estatueta, mas o longa-metragem de Walter Salles fez história ao trazer pela primeira vez para o país o maior prêmio de Hollywood, na categoria de melhor filme internacional. Pois 2026 começa mobilizando legiões de cinéfilos (ou não) novamente.

Já no dia 11 de janeiro, com a festa do Globo de Ouro em Los Angeles, é a vez de torcer por “O agente secreto” (com duas indicações, em melhor filme de drama e melhor filme em língua não-inglesa) e por Wagner Moura (melhor ator de drama). Na sequência, no dia 22, sai a tão aguardada lista dos indicados ao Oscar. E de novo é hora de sonhar com a presença brasileira no rol de finalistas, uma vez que diversos talentos nacionais aparecem numa pré-lista oficial do evento (além de “O agente secreto”, temos, entre outros, “Apocalipse nos trópicos”, de Petra Costa, com chances na categoria de melhor documentário). A cerimônia de entrega será no dia 15 de março.

Esta é a parte mais celebrada de um setor audiovidual que vive uma boa fase, mas ainda depende de mais estímulo e investimentos públicos e privados, e reivindica regulação do streaming no país.

Em outros campos da Cultura, a demanda por fomento também é grande. Ainda que, individualmente, a sensação é de que a produção é infinita e de que é impossível acompanhar tudo. Não é preciso ter o dom da adivinhação para saber que 2026 terá mais filmes, séries, livros, peças, shows, festivais e exposições de que poderemos dar conta. Mas, em alguns casos, é uma dívida que dá até para pagar no ano seguinte. Sem culpa.

Marcelo Balbio é editor de Cultura

[Fonte Original]

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