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segunda-feira, junho 24, 2024

Crítica | Liga da Justiça vs. Godzilla vs. Kong – Plano Crítico

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Não é necessário muito para uma HQ intitulada Liga da Justiça vs. Godzilla vs. Kong agradar leitores. Afinal, nada como ver o mais famoso grupo de super-heróis sair no tapa com os dois mais famosos monstros da cultura pop. No entanto, existe o entretenimento puro bom e o entretenimento puro ruim e muita gente não parece mais, hoje em dia, ser capaz de fazer essa distinção, basicamente aceitando qualquer coisa sempre. Sim, claro que há doses altas de subjetividade no que é “gostar” ou “desgostar” de algo, mas alguns parâmetros mínimos deveria no mínimo balizar conclusões para que se chegue em algo como “sei que é uma porcaria, mas eu gostei mesmo assim”. Pois, muito sinceramente, não vejo como que o roteiro de Brian Buccellato para esse suposto épico da mais pura pancadaria idiotizante seja mais do que um guilty pleasure bem mequetrefe, daqueles que, quando acaba, fica a certeza de que o leitor caiu na armadilha do título.

Mas que fique claro: há sim muita pancadaria entre kaijus e super-heróis ao longo das sete edições que formam essa minissérie e a arte de Christian Duce e Tom Derenick é suntuosa, detalhada, chamativa e repleta de páginas inteiras e páginas duplas que fazem jus à premissa, pelo que seria até possível dizer que a HQ entrega o que promete. O problema é que “entregar o que promete” é um sarrafo baixo demais, pois é o mínimo dos mínimos que se espera de qualquer obra, de qualquer serviço, de qualquer produto, seja uma graphic novel ou o pão com mortadela da padaria da esquina. E esse não é, de forma alguma, o sarrafo que eu uso para qualquer análise, mesmo no caso de uma obra dessa natureza aqui, pois, se eu usasse esse (não)critério, tudo sempre seria ótimo e maravilhoso, sem nenhum tipo de filtro mínimo de qualidade.

Considerando que se trata de uma HQ Elseworlds da DC Comics – há diversos eventos completamente incompatíveis com a linha editorial atual dos quadrinhos da editora – e que é um crossover com o Monsterverse da Legendary, ou seja, uma fusão daquelas de coçar a cabeça, até que Buccelatto faz um bom trabalho para criar as circunstâncias para tornar a premissa verossímil dentro do conceito naturalmente bastante elástico de verossimilhança de obras assim, obviamente. Tudo começa com mais um plano maligno de Lex Luthor, juntamente com a Legião do Mal, para derrotar a Liga da Justiça, plano esse que envolve furtar objetos poderosos da Fortaleza da Solidão. No entanto, graças à insistente intromissão de ninguém menos do que o Homem dos Brinquedos (nem Luthor sabe como ele aceitou a inclusão dele na Legião), tudo dá errado a ponto de os titãs pararem na Terra dos super-heróis, cada um atacando cidades importantes, como Godzilla atacando Metrópolis e Camazotz atacando Gotham City (porque um morcego monstro obviamente tinha que se materializar na cidade natal do Homem Morcego) e assim por diante.

Até aí, tudo bem, nada muito sério a reclamar, pois há uma pegada decididamente mais descompromissada com a rivalidade entre vilões e com o começo quase que aleatório da pancadaria toda, com um bom recurso de enquadramento na primeira edição que faz com que Godzilla já aparece nas primeiras páginas, com Clark Kent tentando pedir Lois Lane em casamento em um jantar romântico no heliponto do Planeta Diário e sendo interrompido pelo lagartão. Mas, a partir da segunda edição, a coisa já começa a degringolar, pois Buccelatto parte para fazer aquilo que todo roteirista que não quer investir tempo pensando muito no que vai colocar nas páginas de uma HQ desse tipo faz, ou seja, tirar Superman do jogo quase que pela duração inteira da minissérie e transformar Batman no herói mais poderoso e inteligente de todos. Todo mundo sabe que o Superman é um super-herói que, com a gama de mega poderes que passou a acumular ao longo de suas mais de oito décadas de existência, exige roteiros mais do que banais para que alguém não tenha que recorrer à sua eliminação temporária para tudo dar certo. E todo mundo também sabe que, a partir da deturpação do que Frank Miller fez em O Cavaleiro das Trevas, Batman passou a ser invencível, sempre com soluções para tudo tiradas normalmente da cartola do roteirista. Ver esses dois artifícios idiotas acontecerem em Liga da Justiça vs. Godzilla vs. Kong é uma decepção enorme.

E, nessa mesma esteira, outros super-heróis extremamente poderosos – Supergirl, Mulher-Maravilha, os vários Lanternas Verdes, Flash – têm seus poderes reduzidos, basicamente igualados a todos os demais, até mesmo os vários que não têm poderes, como a bat-família e o Arqueiro Verde, com Ciborgue sendo transformado em um garoto de recados glorificado. Ora, se estamos falando de Elseworlds, exatamente a mesma coisa poderia ser feita com o Superman sem precisar que ele “quase morra” para causar um drama bobo, já que todo mundo sabe que ele não morrerá de forma alguma. A questão do Batman chega a ser tão inadvertidamente engraçada que ele e seus amigos despoderados (com exceção de Dinah, eu sei, mas o poder dela é… simples demais) são os únicos que, agindo em conjunto, conseguem efetivamente derrotar um kaiju. Superman quase morre com a baforada atômica de Godzilla, Shazam, Supergirl e Mulher-Maravilha apanham como cães ladrões e os Lanternas ficam batendo cabeça que nem idiotas o tempo todo. É um festival de bobagens cansadas que levam à reunião e à separação dos super-heróis quando conveniente, como é o caso do Aquaman que, mesmo com um alarme geral da Liga da Justiça, não sai de Atlântida de jeito nenhum, mas, quando ele precisa de ajuda, todo mundo corre para ajudar o amigo do cavalo marinho rosa gigante.

E não é que Buccelatto não tenha boas ideias, pois ele tem. Como citei, a própria maneira como ele reúne os universos é bacana, assim como alguns outros momentos soltos ao longo da narrativa, como Grodd arregimentando Kong para o seu lado, o que infelizmente acontece fora das páginas, e um certo anel que vai para um certo personagem criando uma certa combinação tão interessante quanto inusitada que, infelizmente, é muito mal aproveitada. Em compensação, no lugar de imaginar uma pancadaria realmente destrutiva, daquelas de arrasar cidades inteiras, o roteirista limita-se a derrubar alguns prédios já evacuados e a fazer com que o clímax aconteça integralmente dentro de um parque em Metrópolis. E olha que eu falo, aqui, de um clímax com diversos kaijus (na escala absurdamente enorme da Legendary, vale lembrar) e nada menos do que três mechas, além de todos os super-heróis e super-vilões que Duce e Derenick resolveram desenhar. Seria cômico se não fosse ridículo, patético e absolutamente vergonhoso e covarde.

Por tudo isso é que não, Liga da Justiça vs. Godzilla vs. Kong não entrega sequer o que promete, parecendo mais uma paródia da premissa do que qualquer outra coisa, sendo que não dá para levar para o lado de paródia pela maneira como a narrativa se leva a sério o tempo todo. Com uma cajadada só, Buccelatto de um lado desperdiça a Liga da Justiça e a Legião do Mal em suas versões muito estendidas e, de outro, subutiliza Godzilla, King Kong e os outros monstrengos que aparecem. Não era necessária muita coisa para uma HQ dessas dar certo e é frustrante que o roteirista sequer alcance o patamar mínimo, preferindo entregar um arremedo de história que parece se apoiar unicamente na promessa que sua premissa faz.

Liga da Justiça vs. Godzilla vs. Kong (Justice League vs. Godzilla vs. Kong – EUA, 2023/24)
Contendo: Justice League vs. Godzilla vs. Kong #1 a 7
Roteiro: Brian Buccellato
Arte: Christian Duce, Tom Derenick
Cores: Luis Guerrero
Letras: Richard Starkings, Tyler Smith
Editoria: Ben Abernathy, Michael McCalister (DC Comics), Robert Napton (Legendary)
Editora original: DC Comics
Datas originais de publicação: 17 de outubro, 21 de novembro e 19 de dezembro de 2023; 16 de janeiro, 20 de fevereiro, 19 de março e 21 de maio de 2024
Páginas: 238



[Fonte Original]

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