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segunda-feira, junho 24, 2024

Crítica | Outer Range (Além da Margem) – 2ª Temporada – Plano Crítico

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  • spoilers. Leiam, aqui, a crítica da temporada anterior.

Respondendo comentários em minha crítica da 1ª temporada de Além da Margem, afirmei que não tinha muita curiosidade de continuar assistindo a série. No entanto, o que é a curiosidade diante da teimosia, não é mesmo? Afinal, foi só o 2º ano aparecer no Prime Video – infelizmente desta vez de uma vez só e não semanalmente, que é a maneira civilizada de se ver qualquer série – que eu comecei a conferi-lo e logo notando que a abordagem mais atmosférica, existencial, de queima lenta e preocupada em construir personagens do ano inaugural abriu espaço para uma pegada mais direta, rápida e preocupada em ao mesmo tempo revelar e construir mistérios no segundo ano, certamente refletindo a saída do criador da série e showrunner original Brian Watkins e a entrada de Charles Murray em seu lugar.

Nessa mudança de caminho, a proeminência do drama familiar sobre a ficção científica deixa de existir. Aliás, há uma inversão dessa lógica, com o lado sci-fi tomando de assalto a 2ª temporada e jogando um pouco para escanteio as relações entre nos seios familiares dos Abbotts e dos Tillersons e também entre as famílias rivais. E justamente em razão dessa escolha, a concentração de mistérios e reviravoltas no final do primeiro ano deixa de existir, com o segundo trabalhando tudo de maneira mais compassada e aberta, sem arrumar subterfúgios para esconder segredos. Mas é importante notar que meus comentários sobre a comparação de escolhas da produção não quer necessariamente dizer que um seja superior ao outro. Não é exatamente isso, ainda que eu tenha preferido, no agregado, a segunda temporada, mas por uma margem bem pequena. Meu ponto é que a segunda temporada só consegue ser o que é em razão da primeira, pois há complementariedade entre elas, mesmo que, no conjunto, seja visível que ambas “enrolam” a narrativa o máximo possível na esperança de fisgar espectadores de forma que mais temporadas possam ser produzidas.

O segundo ano começa a partir do estouro de bisões que começa no “buraco temporal” da fazendo dos Abbotts e lida fundamentalmente com os destinos dos personagens que foram diretamente afetados por ele. Vemos a xerife interina Joy Hawk (Tamara Podemski) vivendo com a tribo Shoshone nos anos 1880 e tendo seu retorno ao presente costurado com a chegada de Royal (na versão criança vivida por Teaguen Arbogast) ao século XX, o que altera a percepção do passado do Royal adulto de Josh Brolin sobre seu passado, ou revela o que efetivamente aconteceu, afastando a neblina psicológica gerada pelo trauma de matar o próprio pai, não sei. Além disso, descobrimos que Perry (Tom Pelphrey) retornou ao passado e encontrou-se com seus futuros pais ainda jovens (Royal e Cecilia nas versões jovens adultos de Christian James e Megan West) e ainda não juntos, pela primeira vez lidando diretamente com paradoxo temporal, já que é ele, ao que tudo indica, o responsável pelo casamento dos dois, somente para ele repetir a dose ao final, levando à morte de seu eu levemente do passado pelas mãos de Trevor (Matt Lauria) e não o contrário. No presente, vemos Autumn (Imogen Poots) ser despertada inicialmente pelo próprio Royal para o fato de ela ser Amy (Olive Abercrombie, que cresceu pacas de uma temporada para a outra) e, depois, ganhando confirmação via o “mineral temporal” que Luke Tillerson (Shaun Sipos) a presenteia, o que catalisa uma busca por Amy para que sua linha temporal de louca varrida líder de um culto no futuro seja preservada.

E o parágrafo anterior só lida com as pinceladas maiores da temporada e deixa evidente que o que não falta nela são reviravoltas e revelações que, em linhas gerais, deixam todo o elenco principal conectado e plenamente ciente das bizarrices temporais da região, de certa forma abrindo o caminho para que todo os mistérios sejam deixados completamente de lado para fazer a história andar. No entanto, mesmo que toda essa energia da temporada torne-a mais fluida, com ação mais constante e até algumas experimentações aqui e ali, como é o caso do episódio com Joy no passado, quando olhamos o ano em retrospecto, percebemos que, na verdade, a evolução foi ainda acanhada ao lembrarmos que Autumn arremessa Royal no “buraco temporal” no início do primeiro ano e que vemos um vislumbre da exploração do “rio do tempo” por uma empresa misteriosa. Do jeito que a temporada acaba, a impressão que fica é que estamos ainda muito longe desse momento futuro e isso é naturalmente um problema que tende a levar ao famoso, mas raramente bem feito empilhamento de mistérios sem solução (e não falo nem de explicações, vejam bem, pois não acho que teremos uma efetiva explicação que não seja algo bem esotérico).

Seja como for, o elenco pareceu-me mais entrosado nesta segunda temporada, com a mecânica das relações entre os personagens funcionando melhor em linhas gerais, inclusive as relações das versões mais novas dos personagens centrais com visitantes “do futuro”. Brolin, que chega até a dirigir o penúltimo episódio, está mais a vontade encarnado seu Royal, com a Cecilia de Lili Taylor ganhando mais destaque e fazendo uma boa dupla com ele. Até mesmo Imogen Poots funcionou melhor, talvez justamente porque as intenções de sua personagem complicada de gostar tenham se tornado mais claras. A única linha narrativa que ficou realmente mal aproveitada, quase que totalmente paralela à principal, foi a de Rhett Abbott (Lewis Pullman) e Maria Olivares (Isabel Arraiza), como se os roteiristas, depois de escreverem a temporada, terem lembrado que eles existiam, dando um jeito de inseri-los “retroativamente” na história macro.

Confesso que não me arrependi de minha teimosia ter ganhado de minha falta de curiosidade. Não que a 2ª temporada não não crie problemas novos que têm o potencial de ameaçar o futuro da série, mas o trabalho de Murray nas rédeas de Além da Margem fez o melhor da decisão de mergulhar de vez no sci-fi repleto de mistérios, ou seja, imprimiu um ritmo mais rápido à narrativa, arriscou em abordagens diferentes como o capítulo inteiro dedicado à Joy na tribo Shoshone e nas aparentes quebras das regras desse labirinto temporal. Tenho muito receio do “isso é apenas o começo” que Autumn sussurra para Royal no encerramento da temporada, pois ser apenas o começo é tudo que duas temporadas inteiras de uma série dessa natureza não deveriam ser, mas, claro, fica a esperança de que tudo seja resolvido em apenas mais um ano ou dois no máximo dos máximos para evitar o efeito Lost. Isso se Além da Margem for renovada, claro.

Além da Margem – 2ª Temporada (Outer Range – EUA, de 16 de maio de 2024)
Showrunner: Charles Murray
Direção: Gwyneth Horder-Payton, Deborah Kampmeier, Blackhorse Lowe, Josh Brolin, Catriona McKenzie
Roteiro: Cameron Litvack, Glenise Mullins, Dagny Atencio Looper, Jenna Westover, Doug Petrie, Marilyn Thomas, Aïda Mashaka Croal, Randy Redroad
Elenco: Josh Brolin, Imogen Poots, Lili Taylor, Tom Pelphrey, Tamara Podemski, Lewis Pullman, Noah Reid, Shaun Sipos, Olive Abercrombie, Isabel Arraiza, Will Patton, Matt Lauria, Matthew Maher, MorningStar Angeline, Ofelia Garcia, Deirdre O’Connell, Monette Moio, Sam Strike, Johnny Sneed, Yrsa Daley-Ward, William Belleau, Kimberly Guerrero, Michael O’Neill, Deborah Strang, Jim Beaver, John Ales, Lily Joy Winder, River Novin, Tatanka Means, Tokala Black Elk, Teaguen Arbogast, Christian James, Megan West, Daniel Abeles
Duração: 384 min. (sete episódios)



[Fonte Original]

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