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domingo, junho 30, 2024

Biden enfrenta Trump em primeiro debate presidencial sob pressão de idade e pesquisas que dão vantagem a rival

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Biden chega aos estúdios da rede CNN diante de uma séria crise de confiança junto ao eleitorado, incluindo parte dos que votaram nele em 2020. Uma média das pesquisas nacionais, elaborada pelo site Real Clear Polling, mostra Trump com 46,6% das intenções de voto, contra 45,1% de Biden. Sua popularidade está em torno de 40%, também de acordo com a média do Real Clear Polling.

Como os EUA usam um peculiar sistema onde o presidente é escolhido com base não na maioria nacional, mas sim nas votações nos estados, os números servem como um termômetro do eleitorado. E as notícias para Biden são ainda piores quando são analisadas as pesquisas nos estados.

Um compilado elaborado pelo Washington Post dá vantagem a Trump em seis dos sete “estados pêndulo”, que não têm uma tendência histórica definida, e onde a vitória pode significar a mudança (ou permanência) para a Casa Branca: hoje, o republicano está à frente na Geórgia, Michigan, Arizona, Nevada, Carolina do Norte e Pensilvânia, enquanto Biden venceria apenas no Wisconsin. Há quatro anos, era Biden que triunfava em seis dos sete estados.

Outro sinal da desconfiança veio horas antes dos candidatos entrarem no estúdio: uma pesquisa do New York Times, em parceria com a Universidade Quinnipiac, apontou que 49% dos entrevistados esperavam um mau desempenho de Biden — sobre Trump, 60% acreditavam que ele se sairia bem. Ao todo, 74% dos entrevistados disseram que acompanharão o debate.

Biden foi eleito em 2020 com uma plataforma que prometia avanços em questões sociais, como a reforma nas polícias, pauta do movimento Vidas Negras Importam, na defesa dos direitos reprodutivos das mulheres, e que prometia uma estratégia baseada na ciência para conter a pandemia da Covid-19. As expectativas eram elevadas, mas os resultados demoraram — isso quando chegaram a surgir.

Quatro anos depois, ele se apresenta para a reeleição como um dos mais impopulares presidentes da história recente dos Estados Unidos, e cuja presidência não é questionada apenas por seus feitos (ou não feitos), mas também por sua capacidade de governar.

Biden já é o presidente mais idoso da história dos EUA, e caso seja reeleito, chegará ao fim do novo mandato com 86 anos. Apesar dos médicos da Casa Branca garantirem que ele está apto, 73% dos eleitores disseram que ele é “muito velho” para governar, segundo pesquisa de março, publicada pelo New York Times. Gafes, esquecimentos e tombos não tão raros reforçam a ideia de fragilidade, e são usados à exaustão pelos rivais. Segundo assessores, o presidente quer usar o debate desta quinta para mostrar sua força diante dos púlpitos e palanques: alguns lembram do elogiado discurso sobre o Estado da União, em março, considerado um dos mais marcantes de sua carreira, e o citam como exemplo do que ele pretende fazer ao longo dos 90 minutos do programa.

Trump, menos de quatro anos mais novo, inspira preocupações com a idade em apenas 42% dos eleitores, segundo a pesquisa do New York Times. Na campanha, iniciada no momento em que deixou a Casa Branca, em 2021, ele usa toda oportunidade para semear dúvidas sobre a capacidade de Biden comandar o país, algo que prometeu explorar ao máximo no debate desta quinta-feira.

— Se eu disser uma palavra mais rapidamente, eles dirão: ‘ele tem problemas cognitivos’” — disse Trump aos seus apoiadores no sábado, em discurso na Pensilvânia. — Mas temos que considerar que Biden pode dar com a cara na parede. Ele pode cair do palco [no debate]. Pode simplesmente cair.

Mas os problemas de Biden vão além da idade, e passam por uma mudança da própria sociedade americana. Um exemplo é o impacto da economia sobre o voto. Os indicadores vão bem, e confirmam uma recuperação robusta do PIB depois do tombo da pandemia, o desemprego em níveis historicamente baixos, a inflação sob controle e salários em alta. No passado, números que praticamente garantiriam uma reeleição fácil, mas que hoje não parecem mais ser decisivos.

“O ex-presidente Trump comandou uma economia muito forte até a Covid-19, e mesmo assim sua aprovação era extremamente baixa, assim como a de Biden. E na eleição de 2020, algo extraordinário aconteceu: as visões dos democratas e dos republicanos mudaram radicalmente antes da eleição”, escreveu, em artigo, o comentarista da CNN Fareed Zakaria. “Resumindo: o viés político das pessoas moldou suas visões sobre a economia, e não o contrário.”

Em um país praticamente dividido — e longe de ser “curado”, como Biden prometeu fazê-lo em 2020 —, temas que no passado eram considerados até certo ponto secundários se tornaram centrais. A imigração, bandeira de Trump, é um calcanhar de aquiles para Biden, especialmente nos estados próximos à divisa com o México e onde há um grande número de estrangeiros.

O republicano intensificou um discurso que por vezes superou os limites da xenofobia, e hoje 52% dos eleitores nos estados decisivos acreditam que ele é o mais apto a lidar com a imigração, contra apenas 26% que pensam o mesmo de Biden, segundo pesquisa do Washington Post. No começo do mês, uma pesquisa do instituto YouGov revelou que 62% dos americanos desaprovam a política migratória do democrata.

Biden colhe ainda os frutos (amargos) de decisões de política externa. A desastrosa saída do Afeganistão, em agosto de 2021, foi associada a uma queda brusca na aprovação naquele período. O apoio quase irrestrito a Israel desde o início da guerra em Gaza, em outubro do ano passado, alienou parte da base que o ajudou a vencer em 2020, como os árabes-americanos, numerosos em estados como o Michigan. Progressistas associados aos protestos em campi ao redor dos EUA sinalizam que poderão se ausentar das urnas em novembro.

Trump, por sua vez, parece ter conseguido construir uma blindagem às muitas notícias negativas ao longo dos últimos quatro anos. O ex-presidente passou relativamente ileso às suas tentativas de reverter a derrota para Biden na última eleição, e à invasão protagonizada por seus apoiadores do Capitólio, em janeiro de 2021 — recentemente, ele fez da promessa de libertar alguns dos invasores uma bandeira de campanha.

Em discurso, Trump distorce fatos para pôr em dúvida condenação histórica

O discurso que beirou o extremismo sobre a imigração, quando chegou a comparar as pessoas que arriscavam suas vidas para entrar nos EUA a “animais”, soou bem junto a um eleitorado cada vez maior. E ele soube dosar as palavras em temas sensíveis para os dois lados do espectro político, como o aborto. Segundo analistas, o tópico é um ponto frágil em sua campanha, mas Biden não conseguiu capitalizar a defesa dos direitos reprodutivos das mulheres a seu favor. A decisão da Suprema Corte de derrubar o direito constitucional ao aborto, em 2022, aumentou a pressão sobre seu governo para aprovar leis mais amplas que garantam proteções a práticas que ainda estão em vigor, como o acesso a métodos anticoncepcionais e à fertilização in vitro.

Por fim, nem mesmo a condenação no caso em que foi acusado de subornar uma ex-atriz pornô para que escondesse um caso que tiveram no passado, foi suficiente para abalar seus números nas pesquisas. Hoje, a grande questão é se ele será capaz de manter esse escudo até novembro, ou se será vítima da temida “surpresa de outubro”, apelido das notícias divulgadas às vésperas da eleição que, no passado, já mudaram o rumo de disputas pela Casa Branca. O debate desta noite poderá dar algumas pistas.

[Fonte Original]

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