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quinta-feira, julho 4, 2024

Crítica | Capitão Britânia: O Mundo Distorcido – Plano Crítico

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Devo dizer que, quando comecei a ler O Mundo Distorcido, eu não esperava muita coisa da história. Primeiro porque nunca fui muito fã das histórias do Capitão Britânia até aquele momento (1982); segundo, porque não imaginava que Alan Moore, ainda em início de carreira, conseguiria fazer algo tão surrealmente interessante com o personagem como ele fez. Foi, portanto, um bem dito “pagamento de língua“, daqueles que a gente fica feliz em ter que pagar, porque a história é realmente muito boa. O curioso é que o arco começa numa atmosfera à la Dave Thorpe, o roteirista anterior do título, ainda nas páginas da Marvel Super-Heroes (UK). Moore respeita o colega e dá continuidade à narrativa do ponto em que ela foi interrompida, mas já acrescenta as suas sementes de mudança, fazendo com que Jackdaw, o elfo companheiro do protagonista, fosse morto e ele tivesse o primeiro gostinho de uma destruição de mundos, contando com a sua própria matéria, sua própria existência.

O roteiro se ergue de forma rápida e inesperadamente chamativa. É verdade que na edição inicial há uma certa confusão de ideias, mas tudo se esclarece na edição seguinte, quando os primeiros resultados da chegada de Moore ao título começam a aparecer. Em suas mãos, o Capitão Britânia é analisado como em uma sessão de terapia. O autor deixa claro que o conflito do mundo distorcido que acabamos de presenciar é importante, mas que existe algo encoberto que precisamos conhecer para seguir adiante, e tudo começa com o entendimento do indivíduo que irá salvar a existência de seu Universo, dezenas de páginas depois. Nesta investigação, temos uma recontagem criativa da história do personagem (com didatismo bem aplicado) e sua relação com Merlin, que em pouco tempo revela-se alguém muito mais poderoso e com algumas centenas de faces, nomes e propósitos diferentes. Aliás, a noção de um “propósito heroico” ou “propósito de vida” é uma das fortes linhas paralelas desse arco, já que tudo acontece por conta de movimentos lúdicos de (literalmente) forças galácticas maiores brincando com esses personagens todos.

Quando a reconstrução do corpo do Capitão Britânia é finalizada, podemos dizer que a história começa a amadurecer. E não apenas o texto, mas a arte de Alan Davis também vai se soltando, ganhando maior dimensão, abraçando as contradições e as loucuras do cenário em crise, encantando o leitor com todas as representações visuais envolvendo Mad Jim Jaspers. Como a progressão da saga é verdadeiramente gigante, indo de um microcosmo do tipo “mais do mesmo” (considerando o super-herói em cena) e terminando em um exercício muito bem feito de “tema e variações” com a destruição de Universos inteiros e um ser imortal feito para acabar com todos os super-heróis existentes, há muita coisa para ser apreciada, muitas mortes, emoções, críticas a políticas extremistas, a líderes autoritários, a ações comunitárias em tempos de crise, à repetição da dinâmica de campos de concentração e exposição de um Estado policialesco numa Inglaterra que resolveu que não queria mais poderosos em seu território.

Se tirarmos os três últimos quadros de O Mundo Distorcido, com sua amargura exagerada e fatalista demais para o momento, todo o desenvolvimento e toda a reta final dessa aventura são exemplares, daquelas narrativas que nos deixam com um sorriso no rosto e com o coração batendo forte, esperando o desenvolvimento da história e pensando em como tudo irá se resolver. A luta entre Mad Jim Jaspers e o matador de super-heróis do outro Universo é uma das sequências mais sensacionais da saga, eu voltei umas duas vezes para relê-la e saborear toda a ideia e a movimentação por trás da batalha, além da fantástica brincadeira visual de Davis para o momento. Variações desse embate seriam vistas anos depois na Saga do Monstro do Pântano, de forma imensamente mais polida e com um maior propósito no escopo da história. Em sua renovação e abordagem para o Capitão Britânia, Alan Moore repensou a existência do personagem, desmistificou a figura de Merlin na vida dele e levou muito a sério a ideia de uma jornada num “mundo distorcido“, criando uma história com consequências definitivas para o personagem, em um estilo elegante, surreal e intrigantemente divertido.

Capitão Britânia: O Mundo Distorcido (Captain Britain: A Crooked World) — Reino Unido, julho de 1982 a junho de 1984
Publicação original: Marvel Super-Heroes (UK) #387 – 388 / Daredevils #1 – 11 / The Mighty World of Marvel Vol.2 #7 – 13
Edição lida para esta crítica: Coleção Oficial de Graphic Novels Marvel #3 (Salvat, outubro de 2015)
Roteiro: Alan Moore
Arte: Alan Davis
Arte-final: Alan Davis
Cor original: preto e branco
Letras: Jenny O’Connor, John Aldrich, Steve Craddock
Capas: Frank Miller,  Bob McLeod (Marvel Super-Heroes #388); Paul Neary, John Aldrich, Alan Davis, Frank Miller (Daredevils); Frank Miller, Joe Rubinstein, Rick Leonardi, Terry Austin (The Mighty World of Marvel)
Editoria: Bernie Jaye, Tim Hampson, Chris Gill
Tradução: Érico Assis, Paulo França
200 páginas



[Fonte Original]

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