31.5 C
Brasília
segunda-feira, setembro 16, 2024

O filme que foi aplaudido de pé no Festival de Cannes em 2023 e está na Netflix, mas quase ninguém percebeu

- Advertisement -spot_imgspot_img
- Advertisement -spot_imgspot_img

Amat Escalante se consolidou como uma das vozes mais atentas às realidades dolorosas do México contemporâneo. Uma década após o lançamento de “Heli” (2013), filme que narra o romance quase inocente entre um jovem recruta de dezessete anos e uma garota de treze, interrompido pela brutalidade do tráfico de drogas, o diretor, nascido em Barcelona e radicado em Guanajuato, retorna ao cenário cinematográfico com uma nova obra marcante.

O ponto de partida é a história de um filho que, após três anos de busca incansável pela mãe desaparecida, finalmente encontra uma pista crucial. Essa trama serve como base para que Escalante faça uma crítica contundente sobre os tentáculos do narcotráfico, o trabalho análogo à escravidão e a desigualdade social, onde poucos enriquecem às custas do sofrimento de muitos. O diretor também toca na dependência da América em relação ao petróleo, um ponto já citado pelo ex-presidente George W. Bush (2001-2009), e nas milícias que permeiam todos esses temas.

Em “Perdidos en la Noche”, Escalante segue o caminho traçado por “Heli”, filme pelo qual foi premiado como Melhor Diretor no Festival de Cannes. Ele não se exime de continuar denunciando as atrocidades silenciosas que ocorrem nas áreas mais marginalizadas da América do Norte, um problema que está cada vez mais entrelaçado com as políticas institucionais do México, sem qualquer sinal de resolução no curto prazo.

O cineasta une forças novamente com seu irmão Martín, com quem já havia trabalhado em “Os Bastardos” (2008), e também com Paulina Mendoza, para retratar de forma impactante a miséria crescente de determinadas camadas da população, que são cruelmente exploradas por organizações poderosas, muitas vezes de caráter criminoso. O filme começa com uma assembleia em uma pequena cidade próxima à fronteira com os Estados Unidos, onde os moradores discutem a presença de uma mineradora que, na realidade, já está operando na região há algum tempo.

Paloma, uma professora respeitada por seu engajamento em causas sociais, expõe suas razões para se opor à atividade da empresa, mas enfrenta a hostilidade de outros moradores, que a atacam verbalmente e jogam frutas podres. Apesar de breve, a atuação de Vicky Araico é crucial para estabelecer o clima de tensão familiar que se desdobra no enredo mais amplo de crítica social.

O intervalo de três anos entre o desaparecimento de Paloma e a revelação de um possível mandante do crime é tratado com certa licença poética, já que o design de produção de Daniela Schneider não transmite de forma clara qualquer mudança significativa no ambiente ao longo desse período. No entanto, o ponto de virada ocorre quando Emiliano, o filho mais novo de Paloma, presencia um acidente trágico envolvendo um colega de trabalho, que cai de uma estrutura metálica sem equipamento de segurança, ficando à beira da paralisia. Esse evento o coloca em contato com Josito, que compartilhou com Paloma a luta contra a mineradora.

Josito, que se recupera de queimaduras graves, permanece em silêncio, mas deixa uma pista escrita para Emiliano, indicando onde ele pode encontrar as respostas para suas dúvidas.

Na direção de um misterioso “quilômetro 5”, vive a família Aldama Duplas, um grupo peculiar de artistas pertencentes à elite liberal. Rigoberto Duplas é um escultor, casado com Carmen, uma atriz e cantora famosa, e juntos, com suas filhas Mónica e a caçula, formam uma família profundamente instável, tanto emocional quanto socialmente.

Esse núcleo familiar serve como pano de fundo para a progressão da trama central. Durante esse processo, Fernando Bonilla e Bárbara Mori destacam-se como um casal neurótico, vivendo sob o medo das ameaças dos Aluxes, um grupo fictício de caráter messiânico que venera Alux, uma divindade maia associada ao caos e destruição.

A cena em que dois pitbulls são envenenados, supostamente como retaliação dos Aluxes às declarações de Rigo insinuando que seus vizinhos fanáticos cometem abusos e sacrifícios, começa a revelar uma possível conexão entre os Aldama, a mineradora e o desaparecimento de Paloma. No decorrer do filme, Escalante constrói um mistério envolto em camadas de simbolismo, que, embora às vezes vagas, intensificam a sensação de desconforto no espectador.

Os encontros entre Emiliano e Mónica, carregados de tensão e desconcerto, proporcionam momentos de atuação brilhante para Ester Expósito e Juan Daniel García Treviño. Este último, ainda mais confiante do que em “Ya No Estoy Aquí” (2019), conduz o ritmo do filme com uma atuação intensa, equilibrando a autodestruição de seu personagem com a busca incansável por justiça. Emiliano, em sua jornada sombria, luta contra seus próprios demônios enquanto enfrenta dias de angústia e noites sem descanso, mantendo-se em pé pela esperança de uma verdade que parece sempre fora de alcance.


Filme: Perdidos en la Noche
Direção: Amat Escalante
Ano: 2023
Gêneros: Thriller/Mistério
Nota: 9/10

[Fonte Original]

- Advertisement -spot_imgspot_img

Destaques

- Advertisement -spot_img

Últimas Notícias

- Advertisement -spot_img