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segunda-feira, setembro 16, 2024

Paralimpíada de Paris é propícia para refletirmos sobre políticas de inclusão no país

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Além de torcer por medalhas, a Paralimpíada de Paris é propícia para refletirmos sobre políticas de inclusão no país. No campo educacional, ainda há muito a avançar, mas a trajetória nos últimos 30 anos foi positiva, e com destaque principalmente para a rede pública. Em 1998, o país registrava a matrícula de apenas 337 mil crianças e jovens com alguma deficiência na educação básica. A regra naquela época era a segregação, pois apenas 13% desse total estudava em salas de aula com os demais alunos. O último Censo Escolar, de 2023, revela que muito mais crianças com deficiência estão estudando (são hoje 1,8 milhão), sendo 91% matriculadas em classes comuns.

Este movimento não ocorreu por acaso. Foi resultado de muitas lutas de movimentos pela inclusão das crianças com deficiência. Um dos marcos mais importantes para essas políticas inclusivas foi a Declaração de Salamanca, que neste ano completa 30 anos, e que reafirmou o compromisso pelo direito de educação para todos, reforçando que a população com deficiência não poderia ficar de fora. Desde então, uma série de normas, decretos e legislações nacionais também avançaram nesse sentido.

Um dos pontos de maior resistência para as políticas inclusivas foram as escolas particulares. Até hoje, a proporção de alunos com deficiência matriculados em classes comuns na rede privada é bastante inferior ao da pública: 56% a 97%. Mas já foi muito pior. Em 2005, somente 5% das crianças em escolas privadas conviviam com as demais. Mesmo famílias com recursos para pagar mensalidades em colégios de elite com frequência escutavam desses estabelecimentos, ao tentarem a matrícula, o discurso de que a escola não estava preparada para atender aquela criança.

Essa estratégia de evitar a matrícula de crianças com deficiência em escolas privadas ainda existe, mas as famílias ganharam mais segurança jurídica para exigir a inclusão, especialmente após a aprovação, em 2015, do Estatuto da Pessoa com Deficiência. Além de reforçar o direito à educação inclusiva, a Lei ainda proibiu escolas privadas de cobrarem a mais de pais de alunos com deficiência. Na época, a Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino chegou a mover no STF uma ação pedindo a inconstitucionalidade desse dispositivo, mas não obteve sucesso.

Esses são avanços que precisam ser reconhecidos e celebrados. Mas sabemos que não são suficientes. Por exemplo, a maioria (57%) dos professores que responderam ao Questionário do Sistema de Avaliação da Educação Básica em 2019 diz não se sentir preparado para ensinar para o público-alvo da educação especial. É um dado preocupante, que exige mais investimento em formação e adequação de nossas escolas, públicas e privadas, para atender essa população.

São legítimas, portanto, as críticas de que esse processo de inclusão não vem ocorrendo com a qualidade satisfatória. Mas cabe lembrar que em todos os momentos em que houve pressão popular para democratizar o acesso à educação, o argumento contrário foi o de que o sistema ainda não estava preparado. No entanto, se esperássemos as condições ideias para só então iniciar o processo de inclusão de crianças com deficiência na escola, provavelmente ainda estaríamos segregando ou negando a essa população seu direito à escola.

[Fonte Original]

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