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sexta-feira, outubro 18, 2024

Capital Natural: o risco da perda de 50% do PIB global que ninguém está falando

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A economia global enfrenta desafios sem precedentes. Mudanças climáticas, perda de biodiversidade e escassez de recursos naturais ameaçam a estabilidade dos negócios e o bem-estar da sociedade. Diante desse cenário, o capital natural emerge como uma nova fronteira de resiliência financeira e uma oportunidade para a construção de um futuro mais próspero e sustentável. Mas o que é capital natural? Capital natural engloba todos os serviços ecossistêmicos que sustentam a vida e a economia: a água que bebemos, o ar que respiramos, a polinização que garante a produção de alimentos, um solo saudável, a regulação do clima e muito mais. Esses serviços, antes invisíveis aos olhos da economia tradicional, têm valor financeiro real e impacto direto nos negócios.

Ignorar a importância do capital natural implica em riscos significativos para as empresas. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) alerta que o mundo investe cerca de US$ 7 trilhões por ano em setores que impulsionam a crise climática e a perda de biodiversidade, colocando em risco a estabilidade econômica global. Um estudo da Universidade de Oxford afirma que a degradação ambiental gera prejuízos econômicos que somam até US$ 5 trilhões, acentuados pelas mudanças climáticas. Isso significa que, à medida que o clima muda, problemas como a escassez de água, desastres naturais e a perda de biodiversidade por consequência aumentam, afetando setores como agricultura, turismo e produção industrial. Portanto, cuidar do meio ambiente é essencial para evitar esses impactos financeiros maiores e proteger a economia global.

De acordo com o Banco Mundial, os serviços fornecidos pela natureza são avaliados entre US$ 125 e 140 trilhões por ano, destacando o valor inestimável da natureza para o bem-estar humano e o progresso socioeconômico, com 50% do PIB global dependendo altamente dela. Além disso, estima-se que investir na proteção e uso sustentável do capital natural, incluindo a biodiversidade, pode gerar um retorno econômico de US$ 10 trilhões por ano e criar 400 milhões de empregos no futuro.

Vamos tomar como exemplo uma empresa do setor agrícola que depende de polinização das abelhas para sua produção, podendo enfrentar perdas significativas com o declínio das populações de abelhas. Investir em práticas de agricultura regenerativa, que promovem a biodiversidade e a saúde do solo, mitiga esse risco e aumenta a produtividade. Da mesma forma, uma empresa de alimentos que utiliza água de forma eficiente em sua produção pode reduzir custos e evitar o risco de racionamento em períodos de seca. Ao integrar a gestão do capital natural em suas operações, a empresa garante a disponibilidade de recursos essenciais e reduz sua dependência de insumos externos.

No turismo, a degradação ambiental afeta diretamente o setor, como praias e florestas, impactando a atratividade de destinos e a sustentabilidade dos negócios do setor. É o que já estamos vendo no Pantanal e em outros biomas no Brasil que foram afetados pelas enchentes e incêndios florestais. Na indústria, a escassez de água compromete a produção, sendo essencial o investimento em gestão de recursos hídricos e conservação ambiental.

O relatório “Investing in Natural Capital: Innovations Supporting Much-Needed Financing for Nature”, do Fórum Econômico Mundial, evidencia um mercado em plena expansão de capital natural, com investidores buscando oportunidades em soluções baseadas na natureza. O documento destaca o papel fundamental de tecnologias emergentes, como o monitoramento por satélite, Lidar, eDNA, a internet das coisas (IoT) e a análise de dados, na avaliação e gestão do capital natural. Essas tecnologias permitem monitorar o uso de terra, florestas, oceanos e outros ecossistemas em tempo real, coletando dados com alta precisão sobre a biodiversidade, o estoque de carbono, capacidade de retenção de água no solo, desmatamento e outros indicadores de saúde ambiental.

Além disso, o relatório aponta para o surgimento de novas infraestruturas financeiras, como os mercados de crédito de carbono, os “green bonds” (títulos verdes) e os fundos de investimento em capital natural, que estão canalizando recursos para projetos de conservação e restauração ambiental. Esses mecanismos financeiros permitem que empresas e investidores incluam o capital natural como uma forma de de-risk (diminuir o risco), para assim evitar maiores perdas por conta da volatilidade climática e obter maiores retornos ao investir no capital natural como um ativo ambiental. Os “green bonds”, por exemplo, são títulos de dívida que financiam projetos com benefícios ambientais, como energia renovável, eficiência energética e conservação da biodiversidade.

O Brasil, com sua potência de biodiversidade, tem um papel de protagonismo a desempenhar nesse cenário. A conservação da Amazônia, por exemplo, não só mitiga riscos climáticos e ambientais em escala global, mas também gera oportunidades econômicas em setores como o ecoturismo, a bioeconomia e a agricultura regenerativa. O caso recente do Pará, que anunciou na semana do clima em Nova Iorque R$ 1 bilhão com a venda de créditos de carbono, é um exemplo do potencial do Brasil nesse mercado.

No entanto, é preciso ir além dos créditos de carbono e reconhecer o capital natural como um ativo que gera valor corporativo para as empresas e não um custo.

O mercado de carbono de compensação é baseado em um mercado de equivalência e não baseado em evidência científica. Estes projetos de carbono acabam sendo bons para os relatórios de sustentabilidade e ESG das empresas e não para os relatórios financeiros das empresas. Ao olharmos o capital natural como um ativo estamos gerando valor ao investir na natureza. O Brasil precisa desenvolver políticas públicas e incentivos para a conservação e o uso sustentável dos seus recursos naturais, criando um ambiente favorável para investimentos em capital natural.

É hora de as empresas brasileiras liderarem a transição para uma economia mais regenerativa, investindo em soluções que protejam o meio ambiente e impulsionem uma economia mais resiliente diante de eventos climáticos e ambientais extremos. As empresas que se anteciparem a essa tendência e integrarem o capital natural em suas estratégias de negócios estarão mais bem preparadas para enfrentar os desafios do século XXI e construir um futuro mais resiliente, justo e financeiramente sustentável para todos. Para isso, é fundamental que as empresas busquem informações sobre o tema, invistam em pesquisa e desenvolvimento de soluções baseadas na natureza, e se engajem em parcerias com organizações e iniciativas que promovem a conservação do capital natural. O futuro da economia é verde, e o Brasil tem o potencial de ser um líder nessa nova era de valor.

Felipe Villela é um empreendedor sócio-ambiental e lidera a fin-tech de capital natural alemã Landbanking no Brasil. Ele também atua como membro de conselhos consultivo, inclusive está como Advisor da ONU Meio Ambiente. Reconhecido como Forbes Under 30, palestrante do TEDxAmsterdam, MIT Solver, Rockefeller Big Bets Fellow, TopVoice Agribusiness no LinkedIn e fundador da reNature. Felipe possui mais de 12 anos de experiência em Agricultura Regenerativa, Sistemas Alimentares e Capital Natural.

Felipe Villela é um empreendedor sócio-ambiental e lidera a fin-tech de capital natural alemã Landbanking no Brasil. — Foto: Arquivo pessoal

(*) Disclaimer: Este artigo reflete a opinião do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

[Fonte Original]

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