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sábado, outubro 19, 2024

Universidade testa limites

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Na última quinta-feira, 17, uma performance numa mesa-redonda sobre gênero e sexualidade na Universidade Federal do Maranhão gerou grande controvérsia. Durante sua participação, a historiadora e cantora Tertuliana Lustosa subiu na mesa e, enquanto rebolava, com a saia levantada, apresentou um funk cujos versos diziam:

— Vou te ensinar gostoso dando aula na sua pica. Aqui não tem nota, nem recuperação. Não tem sofrimento, se aprende com tesão, de quatro e cu, cu, cu.

A apresentação de Lustosa, chamada “Educando com o cu”, defende uma abordagem educacional que valoriza o corpo e o prazer como instrumentos pedagógicos. O vídeo da performance viralizou rapidamente nas mídias sociais, gerando indignação. Afinal, a universidade pública pode abrigar ou apoiar esse tipo de manifestação?

A resposta breve para a pergunta é: sim, a universidade é um ambiente onde uma apresentação assim pode acontecer. Sendo espaço de investigação e debate, precisa poder explorar as possibilidades abertas pela liberdade de expressão. Essa resposta curta, porém, não é mais suficiente.

Esse episódio é apenas o mais recente de uma série de controvérsias envolvendo o uso de universidades públicas para performances de temática sexual e ativismo político de esquerda. A cada dois meses, um novo vídeo viraliza no X, reforçando a percepção de que as universidades têm deixado de ser locais de aprendizado e pesquisa para se tornar palcos de ativismo político e comportamento permissivo.

Do ponto de vista dos atores que promovem esses eventos, há grande interesse político em realizá-los. Os ativistas buscam construir para si uma identidade como subversivos, portadores de uma verdade ameaçadora para o patriarcado ou para a burguesia. A controvérsia, sobretudo quando insuflada por antagonistas conservadores, coroa sua imagem como anticonservadores. Quanto mais criticados, mais convencidos ficam da força da sua subversão e mais argumentos têm para defender a centralidade da pauta na luta “antifascista”. Trata-se, porém, de uma subversão cômoda, sem muitos riscos, porque aplaudida pelos pares e respaldada pela instituição —uma subversão sem ônus.

As instituições, em contrapartida, vivem um impasse. Por um lado, precisam explicar à sociedade que esses eventos não são a norma da vida universitária, que os bilhões de reais que a sociedade investe nelas não são gastos com festa e doutrinação política, mas com formação profissional e investigação científica. Por outro lado, precisam também assegurar para a comunidade universitária que protegerão institucionalmente a liberdade de expressão de ingerências e ataques externos.

Embora a liberdade de expressão seja declaradamente um valor caro à comunidade acadêmica, ela não é plenamente exercida, porque a universidade não é politicamente plural. A mesma comunidade que tolera performances com temática sexual parece incapaz de lidar com grupos de oração, não aceita a exibição de filmes conservadores e rejeitou abrigar um debate entre candidatos à Prefeitura de São Paulo que incluía Ricardo Nunes.

Se a universidade fosse verdadeiramente plural, refletindo a diversidade da sociedade brasileira, estaria preparada para acolher debates com pautas de vanguarda da direita? Estamos prontos para ser coerentes em nossa defesa da liberdade de expressão num contexto de diversidade política e ideológica? Se aceitamos na universidade uma mesa de debates com representantes do MST, que ocupam terras improdutivas, estamos prontos a aceitar uma mesa de debates com caminhoneiros que bloqueiam rodovias? Se aceitamos a performance “Educando pelo cu”, estamos prontos a aceitar na universidade a performance de Nyedja Gennari sobre aborto por assistolia fetal que causou tumulto no Senado?

Podemos retomar a pergunta: a universidade pública pode abrigar uma performance como “Educando pelo cu”? Tenho duas respostas. A primeira é: pode, mas apenas se estiver disposta a abrigar expressões equivalentes que venham do outro lado do espectro político. Minha segunda resposta é: nem tudo o que a gente pode, a gente deve. Apelando ao bom senso, e não à censura, num momento em que a universidade tem sido equivocadamente vista como espaço de proselitismo e libertinagem, financiados com recursos públicos, seria realmente adequado abrigar uma performance desse tipo num seminário acadêmico?

[Fonte Original]

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