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quarta-feira, dezembro 4, 2024

Emissões de gases do Brasil sofrem maior queda em 15 anos

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As emissões de gases de efeito estufa do Brasil caíram significativamente em 2023, totalizando 2,3 bilhões de toneladas de CO₂ equivalente (GtCO₂e), uma redução de 12% em comparação ao ano anterior. Essa queda representa o maior declínio percentual desde 2009, marcando um avanço importante para o país no cumprimento de suas metas climáticas para 2025.

O levantamento, feito pelo Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG), aponta que a diminuição nas emissões foi puxada principalmente pela redução do desmatamento na Amazônia. A retomada de políticas de controle ambiental, como o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), foi um dos fatores decisivos para essa mudança.

Combate a incêndios na Terra Indígena do Xingu em setembro de 2024. (Foto: João Stangherlin/Ibama)

Dados do SEEG revelam impacto do controle do desmatamento

  • De acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG), a redução no desmatamento na Amazônia foi o principal fator para a queda das emissões.
  • As mudanças de uso da terra, que representam 46% das emissões totais do país, tiveram uma diminuição de 24% em 2023, o que é atribuído ao retorno do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm).
  • No entanto, outros biomas, como o Cerrado e o Pantanal, apresentaram aumento nas emissões devido à conversão de vegetação nativa.

A agropecuária continua como principal fonte de emissões

A agropecuária, responsável por 28% das emissões totais, registrou seu quarto recorde consecutivo em emissões, crescendo 2,2% em 2023. Grande parte dessas emissões origina-se da fermentação entérica, especialmente dos bovinos, que liberaram 405 milhões de toneladas de CO₂ e, ultrapassando as emissões totais da Itália. Somando-se as emissões por uso da terra, a agropecuária representa 74% das emissões brasileiras, mantendo-se como o maior setor emissor.

As emissões de energia subiram 1,1% devido ao aumento do uso de diesel, gasolina e querosene. O transporte, que alcançou seu maior nível histórico de emissões, registrou um aumento de 3,2%, embora o consumo recorde de biodiesel tenha moderado esse crescimento. Em 2023, o biodiesel passou a compor 12% da mistura com o diesel de petróleo, uma elevação em relação aos 10% registrados em 2022.

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Agropecuária registrou novo recorde de emissões. (Imagem: Erich Sacco / iStock)

O SEEG incluiu em seus dados de 2023 as emissões geradas por queimadas, um fator cada vez mais relevante no contexto da crise climática. Emissões de metano e óxido nitroso provenientes da queima de pastagens foram monitoradas pela primeira vez. Já o setor de resíduos, cujas emissões cresceram 1% no último ano, é pressionado pelo crescimento populacional e pela necessidade de melhorias em compostagem e reciclagem.

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Declarações de especialistas

David Tsai, coordenador do SEEG, destacou a importância da redução das emissões, mas alertou para a dependência do país em relação ao controle do desmatamento na Amazônia.

“A queda nas emissões em 2023 certamente é uma boa notícia e coloca o país na direção certa para cumprir sua NDC, o plano climático nacional, para 2025. Ao mesmo tempo, mostra que ainda estamos excessivamente dependentes do que acontece na Amazônia, já que as políticas para os outros setores são tímidas ou inexistentes,” afirmou Tsai.

“O Brasil precisa de um plano de descarbonização consistente e que de fato transforme a economia,” completou o especialista, sinalizando a necessidade de medidas mais amplas em outros setores.

Bárbara Zimbres, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), abordou o problema do aumento de desmatamento em outros biomas, como o Cerrado e o Pantanal, fenômeno que ela chamou de “vazamento”.

“O Brasil está vendo o combate ao desmatamento na Amazônia surtir efeito. Mas, enquanto isso, o desmatamento em outros biomas, como o Cerrado e o Pantanal, acelera. Esse ‘vazamento’ não é algo novo e precisa de solução urgente para que continuemos tendo chances de atingir as metas de mitigação brasileiras,” alertou Zimbres, ressaltando a necessidade de ampliar a fiscalização e controle em outras regiões além da Amazônia.

desmatamento no cerrado
Desmatamento em biomas como o Cerrado continua acelerado. (Imagem: Paralaxis / iStock)

Ingrid Graces, pesquisadora do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), analisou o desempenho do setor de transportes e energia e ressaltou a importância dos biocombustíveis na contenção das emissões. “Os setores de energia e processos industriais só tiveram um tímido aumento de emissões, porque houve redução das emissões nas atividades de indústria e de geração de eletricidade, apesar do recorde de transporte em toda a série histórica,” explicou Graces.

“As emissões de transporte só não foram maiores devido ao recorde de consumo de biodiesel. Em abril de 2023, ele passou a representar 12% do volume da mistura com o diesel de petróleo — em 2022, essa porcentagem era de 10%,” detalhou, ressaltando o impacto do biodiesel na redução de emissões.

Gabriel Quintana, analista de ciência do clima no Imaflora, enfatizou o desafio do setor agropecuário em reduzir emissões sem comprometer a produtividade. “A última redução nas emissões da agropecuária no Brasil foi em 2018. Desde então, vêm aumentando e registrando recordes. Elas são puxadas pelo aumento do rebanho bovino, uso de calcário e fertilizantes sintéticos nitrogenados,” apontou Quintana.

“O desafio para o setor, bastante suscetível aos impactos da crise climática, é alinhar a mitigação das emissões de gases de efeito estufa com a eficiência da produtividade, em especial, a redução de metano e a adoção de sistemas que geram sequestro de carbono no solo,” concluiu, reforçando a necessidade de inovação sustentável no setor.

Por fim, Iris Coluna, assessora de monitoramento do ICLEI, comentou sobre o setor de resíduos e o potencial de redução de emissões com melhores práticas de gestão. “As emissões de resíduos estabilizaram nos últimos anos, depois de um crescimento acentuado desde 1990. Em parte, por avanços na quantidade de resíduos encaminhados para aterros sanitários — cerca de 70% de todo material coletado, em parte, pelo aumento da queima ou aproveitamento energético do metano,” explicou Coluna.

“Temos muito a melhorar em compostagem e em reciclagem de secos. A gestão de resíduos tem potencial de abatimento de emissões significativo, mas o setor precisa implementar medidas em larga escala nas cidades brasileiras,” pontuou a assessora, indicando caminhos para avanços no setor de resíduos.



[Fonte Original]

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